domingo, 28 de fevereiro de 2016

Expressão não verbal ajuda a diagnosticar a depressão

Pesquisa realizada na USP investigou um conjunto de parâmetros corporais que podem ser utilizados na caracterização e na avaliação do tratamento do transtorno (Mulher do povo, Pedro Lira (1910)/Wikimedia Commons)


José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Segundo projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão alcançará, na década de 2030, a primeira posição entre as doenças com maior prevalência no mundo. O transtorno já afeta cerca de 7% da população mundial, conforme informou o ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, na abertura do seminário "The Global Crisis of Depression" (A Crise Global da Depressão), promovido pela revista The Economist no final de 2014. Contrastando com a imagem de euforia tantas vezes associada aos brasileiros, um estudo conduzido em 18 países, divulgado pela OMS em 2011, apontou o Brasil como aquele com maior número de pessoas afetadas pela enfermidade.

A alta incidência da doença no Brasil foi confirmada por levantamento mais recente, a Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde (MS) em 2014. Segundo o estudo, cerca de 11 milhões de pessoas têm depressão no país.
Uma pesquisa, realizada no Hospital das Clínicas e no Hospital Universitário, ambos vinculados à Universidade de São Paulo (USP), investigou a expressão não verbal da depressão: “Indicadores de expressividade e processamento emocional na depressão”. O estudo, coordenado por Clarice Gorenstein, professora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, teve oapoio da FAPESP .
A pesquisa contou com a participação da pós-doutoranda Juliana Teixeira Fiquer, também apoiada pela FAPESP .
“Geralmente, o diagnóstico da depressão e a avaliação dos resultados do tratamento são feitos mediante a aplicação de questionários-padrão. As respostas do entrevistado, juntamente com as observações do entrevistador, possibilitam definir o quadro e, depois, acompanhar a evolução da pessoa. Esse tipo de instrumento tem a vantagem de estabelecer uma linguagem comum, universal. Mas depende essencialmente daquilo que a pessoa fala. E negligencia um outro aspecto, o da comunicação não verbal, que é exatamente aquilo que a pessoa não fala. Nossa pesquisa teve por foco esse outro aspecto”, disse Gorenstein à Agência FAPESP.
Parâmetros corporais
A expressão não verbal, que diz “aquilo que a pessoa não fala”, é definida por um amplo conjunto de parâmetros corporais, como postura de ombros e cabeça; movimentos de cabeça, gerais ou de concordância/discordância; curvatura da boca; sorriso (simétrico ou assimétrico), movimentações de sobrancelhas (testa franzida; levantar de sobrancelhas); contato ocular; corpo inclinado na direção do entrevistador, silêncio, choro, entre outros.
“Esses parâmetros podem ser observados de maneira genérica ou de modo sistemático. Nossa pesquisa buscou exatamente definir uma metodologia de observação sistemática – algo sobre o qual havia muito pouco estudo, principalmente no Brasil”, comentou a pesquisadora.
A pesquisa investigou 100 pessoas já diagnosticadas com depressão (grupo-depressão) e 83 pessoas que sabidamente não tinham depressão (grupo-controle). Cada pessoa, com ou sem depressão, passou por entrevista durante 15 minutos, ao longo dos quais seu comportamento foi filmado. Uma sequência de cinco minutos de cada filmagem foi posteriormente analisada por dois avaliadores “cegos” – isto é, que não sabiam se a pessoa filmada era integrante do grupo-depressão ou do grupo-controle. Os avaliadores deviam considerar, em cinco minutos de filme analisado, a frequência de manifestação dos parâmetros não verbais mencionados. “Para analisar cinco minutos de filme, cada avaliador precisou em média de uma hora de trabalho”, informou Gorenstein.
“Percebemos uma diferença significativa no comportamento dos dois grupos em relação a esses parâmetros. Considerando apenas alguns exemplos, em uma escala de pontuação de 0 a 10, foram obtidos os seguintes resultados: sorrisos, 2,3 para o grupo-controle e 1,0 para o grupo-depressão; contato ocular, 8,4 e 6,8. Já os escores do grupo-depressão foram maiores do que os do grupo-controle em relação às variáveis choro (0,8 e 0) e cabeça curvada para baixo (1,8 e 0,7)”, prosseguiu.
A expressão não verbal pode confirmar ou desmentir a expressão verbal. Daí o interesse em incorporá-la ao processo de diagnóstico e avaliação. “A comunicação não verbal é uma resposta reflexa. E, a menos que haja da parte do entrevistado uma determinação e uma capacidade muito fortes de controlar a linguagem do corpo, esta tenderá a expressar aquilo que não é exposto na fala, que não passa pelo crivo da fala. Principalmente no contexto clínico, a pessoa pode querer mostrar uma melhora, que efetivamente não teve, ou pode tentar esconder uma melhora, com medo de perder o atendimento. A comunicação não verbal ajudará o avaliador a formar um quadro mais realista”, argumentou Gorenstein.
Anamneses psiquiátricas
Além da avaliação dos parâmetros não verbais, os pesquisadores aplicaram também os questionários-padrão usualmente utilizados nas anamneses psiquiátricas. Esses questionários, baseados na expressão verbal, elegem alguns tópicos, como tristeza, pessimismo, perda de interesse, culpa, choro etc., e, para cada tópico, oferecem ao entrevistado um leque de opções. Por exemplo, para o tópico “tristeza”, há uma escala que vai de “eu não me sinto triste” até “eu me sinto tão triste que não posso aguentar”. Quando todos os dados foram reunidos em histogramas, a diferença entre o grupo-depressão e o grupo-controle tornou-se muito evidente.
Depois da entrevista inicial, os indivíduos do grupo-depressão receberam tratamento antidepressivo farmacológico, com a administração de cloridrato de sertralina, um inibidor da recaptação da serotonina, entre outros procedimentos terapêuticos. “No grupo-depressão, como regra, o tratamento fez aumentar a expressividade facial, a expressividade do tom de voz, a inclinação do corpo na direção do entrevistador e alguns outros parâmetros sugestivos de interesse social e afetos positivos”, afirmou Gorenstein.
Uma possível aplicação da pesquisa é oferecer aos profissionais envolvidos no atendimento à saúde critérios não verbais para a definição de diagnósticos. No Brasil, 50% das queixas inespecíficas na procura de atendimento na atenção básica são na realidade casos de transtorno depressivo ou de ansiedade. Um clínico atento à expressão não verbal da depressão pode indicar uma investigação mais profunda quando for o caso. Outra aplicação é aferir a eficácia de determinados tratamentos na melhoria do quadro depressivo.
Comportamentos observados:  
Comportamentos sugestivos de interesse social e afetos positivos
Comportamentos sugestivos de desinteresse social, isolamento, afetos negativos
Corpo para frente (na direção do entrevistador)
Ombro baixo/encolhido
Cabeça inclinada para a lateral
Cabeça curvada para baixo
Cabeça inclinada para cima
Braço cruzado
Movimento afirmativo de cabeça (Fazer “sim” com a cabeça)
Movimento negativo de cabeça (Fazer “não” com a cabeça)
Gestos ilustradores - movimentos com as mãos para ilustrar o que é dito
Gestos adaptadores - Movimentos com as mãos de automanipulação ou manipulação de objetos, sem função clara.
Contato ocular com o entrevistador
Boca curvada para baixo
Verbal-backchannel - vocalizações de interesse e concordância mediante a fala do entrevistador (ex.”hum – hum”)
Boca apertada/achatada
Sorriso simétrico, considerado associado a emoções positivas genuínas
Sorriso com a boca “torta” (assimétrico), considerado ambivalente, associado a emoções também negativas, como “estar sem graça”.
Rir/ dar gargalhada
Chorar
Levantar sobrancelhas
Franzir a testa
Falar
Ficar em silêncio

Agenda Brasil: projeto amplia medidas de combate ao fumo

   
Tércio Ribas Torres 

As medidas de combate ao tabagismo poderão ser ampliadas. Esse é o teor do Projeto de Lei do Senado (PLS)769/2015, que está na pauta da Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional (CEDN), responsável pela análise dos projetos da Agenda Brasil — pauta apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, com o objetivo de incentivar a retomada do crescimento econômico do país. A comissão reúne-se na quarta-feira (24), às 14h30, para apreciar este e outros 11 projetos.
Do senador José Serra (PSDB-SP), o projeto altera a Lei 9.294/1996, para estabelecer a proibição de qualquer forma de propaganda, publicidade, promoção ou patrocínio de produtos fumígenos também nos locais de venda. O texto também estabelece a obrigatoriedade de que as embalagens dos cigarros sejam padronizadas, mantendo as advertências quanto aos riscos e prejuízos do fumo, conforme regulamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Pelo projeto, fica proibido o uso de substâncias sintéticas e naturais que possam intensificar, modificar ou realçar sabor ou aroma de cigarros ou outros produtos fumígenos. O texto ainda estabelece a punição, com multa e pontos na carteira, do motorista que fumar ou permitir que passageiro fume em veículo que esteja transportando menores de 18 anos. A infração será considerada gravíssima.
A matéria conta com o apoio do relator, senador Otto Alencar (PSD-BA), que fez apenas ajustes de “técnica legislativa” em seu relatório. Como tramita em caráter terminativo, a matéria seguirá direto para a análise da Câmara dos Deputados, em caso de aprovação.

Avanço

Otto Alencar, que é presidente da comissão, lembra que o Brasil já “avançou significativamente” em relação às medidas de combate ao fumo. No entanto, diz o relator, é preciso dar continuidade a essas políticas antitabagistas, de modo a reduzir ainda mais o uso de “produtos fumígenos, que tantos males têm causado à população em razão de serem extremamente prejudiciais à saúde”.
Serra informa, na justificativa do projeto, que o Brasil tinha, em 1989, cerca de 35% de fumantes na população adulta. Em 2013, esse percentual foi reduzido para 14,7%. Serra acrescenta que a importância dessa redução no número de fumantes não se resume à melhoria na qualidade de vida de quem abandona o cigarro — ou de quem deixa de se iniciar no tabagismo. Os custos relacionados ao uso do cigarro, segundo o senador, “são astronômicos”.
Com base em uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2015, Serra afirma que as despesas diretas com a saúde dos fumantes — como custos de medicação, internação e ambulatório, entre outras — são hoje de R$ 23 bilhões ao ano. Não estão considerados os custos indiretos, como as mortes prematuras, as aposentadorias precoces ou o absenteísmo relacionado a essas doenças. Serra ainda registra que as receitas de tributação dos cigarros, porém, não chegam perto desses custos. A arrecadação de IPI em 2014 foi de 5,6 bilhões. O total de impostos, considerando também o ICMS, chegou próximo de R$ 11 bilhões.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado
)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Brasil é ponto de partida de cocaína, segundo relatório

Revista Exame

Relatório da ONU, divulgado nesta terça-feira, alerta sobre o aumento do consumo interno de cocaína que é mais de 4 vezes superior à média mundial
Cocaína
Cocaína:  acesso fácil ao Atlântico facilita transporte cocaína até a África Ocidental
Viena – O Brasil é o ponto de partida de cargas de cocaína para Europa, via África, e a outros mercados, conforme um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira, que alerta sobre o aumento do consumo interno dessa substância.
‘O Brasil, com suas vastas fronteiras terrestres com os três principais países produtores de coca e seu extenso litoral, além de ser o país de destino de grandes quantidades de cocaína, oferece acesso fácil ao Atlântico para transportar cocaína até a África Ocidental e, dali, à Europa’, afirma o relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife).
Como exemplo da globalização do mercado da cocaína e de até aonde chegam as cargas que partem do Brasil, a Jife explica que em anos passados no Iêmen se expropriaram 115 quilos de cocaína em um contêiner de lixo e no Líbano foram confiscados 13 quilos da droga em um avião que vinha do Brasil.
Os analistas ressaltam também que a taxa de prevalência do consumo de cocaína entre adultos em 2011 era de 1,75%, mais de quatro vezes superior à média mundial, de 0,4%, e que foi aumentando nos últimos anos.
Já sobre as drogas sintéticas, a Jife destaca que nos últimos anos aumentaram as apreensões de substâncias como ecstasy e anfetaminas, o que pode ser um indício do aumento do consumo.
‘Segundo o governo do Brasil, no país não são fabricadas drogas sintéticas. Estas são introduzidas ilicitamente no Brasil a partir da Europa, em algumas ocasiões em troca de cocaína’, afirma o relatório.
Em 2011, o Brasil informou uma das maiores apreensões de ecstasy dos últimos 20 anos, com 70 quilos, quando em anos anteriores os volumes eram inferiores a um quilo, segundo a Jife. Em 2012, a polícia expropriou 339 mil comprimidos de ecstasy, 10 mil unidades de anfetaminas e 65 mil alucinógenos, especialmente LSD, especifica o documento.
Já a maconha, a Junta destaca que em 2012, ‘a apreensão de erva diminuiu consideravelmente, de 174 toneladas em 2011 para somente 11,2 toneladas’. O relatório lembra que maconha é a droga mais popular na América do Sul, com 14,9 milhões de consumidores, e alerta da ‘baixa percepção do risco’ que os jovens têm sobre o uso.
No caso do Brasil, a Jife não oferece dados específicos, mas destaca que ‘a prevalência do uso indevido da maconha aumentou visivelmente na região nos últimos anos, especialmente no Brasil’.

ONU condena legalização da maconha nos EUA


Jornal O Estado de S. Paulo
Agência Estado

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A agência de fiscalização de drogas da Nações Unidas declarou que a legalização da maconha nos Estados Unidos, nos estados do Colorado e Washington, é uma ameaça à luta internacional contra os abusos de drogas.

 Em um relatório publicado nessa terça-feira, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos informou que “lamenta profundamente” os avanços dos dois estados norte-americanos no sentido de eliminar as restrições de comercialização e uso da maconha.
O conselho disse que a legalização viola as convenções de controle de drogas e chamou as autoridades nacionais a bloquearem os avanços dos estados. O departamento de Justiça dos Estados Unidos deixou claro de que não irá impedir as decisões dos estados, apesar da lei federal ainda proibir o consumo de maconha.
Fonte: Associated Press.