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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
A Situação do Crack e outras Drogas nos Municípios Paulistas
Acesse:
Mais sobre o Crack:
Jovens e crianças são 67% dos atendidos por uso de crack em SP
Em 58 cidades de SP crack supera álcool em pedidos de tratamento na rede pública
Crack: os dramas de dependentes químicos ricos e pobres
País tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína
II Lenad
Promotoria investiga clínica pública de SP que custa R$ 20 mil/mês por paciente
O Ministério Público de SP abriu um inquérito para investigar o valor
pago pela prefeitura para uma instituição conveniada que atende
dependentes químicos.
O Said (Serviço de Atenção Integral ao Dependente), na zona sul de
São Paulo, é administrado pela Organização Social do Hospital Samaritano
e recebe R$ 1,56 milhão por mês fixos para atender 80 pacientes --um
custo médio de R$ 20 mil/mês por pessoa.
Editoria de Arte/Folhapress |
A diária de R$ 650 é dez vezes o valor da diária paga pela prefeitura para outras clínicas conveniadas (R$ 65).
Também é superior ao valor cobrado por clínicas particulares
conceituadas voltadas para a classe média alta, como a Grand House (R$
235), a Vila Serena (R$ 315) e a Bairral (R$ 535, no quarto luxo com TV e
frigobar).
Só fica abaixo do valor da Greenwood, preferida por artistas, que custa entre R$ 645 e R$ 967, em média, por dia.
O inquérito civil instaurado pelo promotor Valter Foleto Santin apura
"eventual prejuízo ao erário, em gasto desnecessário e excessivo".
METODOLOGIA DOS EUA
A prefeitura diz que o valor é justo para o trabalho, baseado na
metodologia da clínica norte-americana Chestnut Health Systems, que
oferece um plano específico para cada paciente por meio de uma equipe
multidisciplinar.
Também diz que, no valor mensal fixo repassado à instituição, está
incluso todo o tratamento dos pacientes e eventuais custos com reformas e
equipamentos --quando inaugurado, em 2010, o local já havia passado por
uma reforma de R$ 5,5 milhões.
Os valores das clínicas privadas citadas só não incluem medicação
(porque ela não costuma ser usada por todos os pacientes e nem em doses
iguais entre os que a usam).
Cobrem, no entanto, todas as refeições, o atendimento de
profissionais de equipes multidisciplinares (psiquiatra, clínico geral,
enfermeiros e até nutricionistas) e custos do prédio (como o de aluguéis
e de eventuais reformas).
A maioria delas tem piscina, área verde e amplo espaço para a prática de esportes.
O Said funciona no prédio de um antigo motel, que hoje pertence ao
poder público. A área de lazer se resume a uma quadra de concreto.
"É um valor bastante alto. É possível fazer o trabalho por menos",
diz Silze Morgado, diretora da Vila Serena, que oferece atendimento
gratuito para o paciente por um ano após o tratamento e recupera, em
média, 70% deles -a prefeitura não informou a taxa de recuperação do
Said.
OUTRO LADO
A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que o valor se justifica
porque o Said "é um hospital de pequeno porte e altamente
especializado".
"O modelo de trabalho é diferenciado, ainda sem similares no Brasil. O
hospital é responsável por cerca de 70% dos tratamentos involuntários
da rede, considerados os mais complexos", afirmou.
Segundo a pasta, o local atende, prioritariamente, pacientes da cracolândia.
Os recursos, afirmou, servem para a manutenção de todo o projeto, bem
como a aquisição de novos equipamentos, reformas, tratamento
individualizado e manutenção de equipe multidisciplinar (médicos,
enfermeiros, dentistas, técnicos de enfermagem, terapeutas ocupacionais,
psicólogos). Ao todo, são 220 profissionais.
A secretaria e o Samaritano dizem que prestarão todos os esclarecimentos solicitados pelo Ministério Público.
Tendência conservadora é forte no país, diz Datafolha
A maioria dos brasileiros é tolerante com a homossexualidade, mas é
contra a liberação do uso de drogas. A maioria acha que a desigualdade
social alimenta a pobreza, mas acredita que a maldade das pessoas é a
principal causa da criminalidade.
Esse contraste entre posições liberais e conservadoras é uma marca da
sociedade brasileira, de acordo com pesquisa nacional feita pelo
Datafolha no último dia 13. Foram realizadas 2.588 entrevistas em 160
municípios.
Inspirado por uma metodologia adotada por institutos de pesquisa
estrangeiros, o Datafolha submeteu os entrevistados a uma bateria de
perguntas sobre assuntos polêmicos para verificar a inclinação das
pessoas por valores liberais e conservadores.
Entre os temas explorados pelo levantamento, a questão que menos
divide a sociedade brasileira diz respeito à influência da religião na
vida das pessoas. Para 86%, crer em Deus torna as pessoas melhores. Só
13% acham que isso não é necessariamente verdadeiro, afirma o Datafolha.
A questão que mais divide os brasileiros, de acordo com a pesquisa,
tem a ver com o papel dos sindicatos. Para 49%, eles são importantes
para defender os interesses dos trabalhadores.
Mas 46% acham que eles servem mais para fazer política do que para representar seus filiados.
Mas 46% acham que eles servem mais para fazer política do que para representar seus filiados.
Para 61% dos entrevistados, parte da pobreza brasileira pode ser
explicada pela falta de oportunidades iguais para que todos possam subir
na vida. Para 37% o problema é a preguiça de pessoas que não querem
trabalhar.
A desigualdade é o fator principal na opinião dos mais jovens, e uma
explicação menos convincente para os mais velhos. Na região Sul do país,
50% acham que a falta de oportunidades é o problema, e 48% culpam a
preguiça.
Ed. de Arte/Folhapress | ||
Lei seca mais rígida multa quase mil motoristas no Rio e em São Paulo
No Rio, dos 5,7 mil motoristas parados, 832 foram multados, e cinco, presos.
Em São Paulo, 62 acabaram multados, e oito, presos.
Os primeiros dias da lei seca mais rígida registrou quase mil motoristas multados e 13 presos por embriaguez somente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Segundo a polícia, em São Paulo, a quantidade de motoristas que se recusam a fazer o teste do bafômetro é muito pequena. De sexta-feira (21) até a madrugada do Natal, 883 pessoas fizeram o teste e só duas recusaram.
Em São Paulo, 62 motoristas foram multados porque estavam embriagados, e oito acabaram presos.
No Rio de Janeiro, o fim de semana do Natal também teve blitz da lei seca. Dos 5,7mil motoristas parados, 832 foram multados, e cinco, presos.
A lei seca mais rígida só não valeu para quem foi prevenido. “O meu marido bebeu e aí eu resolvi não beber para trazer o carro”, disse a advogada Viviane Lima Mendes.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Dobra o número de empresas que exigem antidoping aos funcionários
Folha de São Paulo - FELIPE ODA - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um teste de conhecimentos gerais, uma dinâmica em grupo, uma prova dissertativa e duas entrevistas. Depois disso, o processo de admissão para a vaga de engenheiro químico em uma indústria de fertilizantes em Cubatão (SP) parecia concluído. "Mas fui avisado de que deveria fazer o teste de drogas", lembra o então candidato, de 27 anos, que preferiu não se identificar.
A exigência por exames toxicológicos está cada vez mais comum entre empresas brasileiras. Levantamento feito pela sãopaulo com dados do Laboratório de Análises Toxicológicas da USP e do Maxilabor -os únicos que realizam todo o procedimento em território nacional, inclusive para outros laboratórios- aponta que o número de empresas que monitoram o consumo de drogas entre funcionários e candidatos a vagas de emprego mais que dobrou neste ano em relação a 2011. Consequentemente, também cresceu o número de testes realizados e positivos flagrados em 2012. Olga Lysloff/Folhapress Manipulação de exames com urina para detecção de drogas no laboratório Maxilabor, zona oeste de São Paulo O aumento na procura dos exames motivou o Conselho Federal de Medicina a emitir, no mês passado, um parecer sobre o tema. "Não é eticamente aceitável", diz Hermann von Tiesenhausen, conselheiro e relator do parecer 26/12, que considera o exame "invasão de privacidade". O argumento também é defendido por juristas contrários ao antidoping corporativo. Realizado por uma empresa brasileira pela primeira vez em 1992, o exame toxicológico é capaz de detectar a ingestão ou a exposição a substâncias tóxicas ou drogas, por meio de análise com fluidos corporais ou amostras biológicas. No país, os testes com urina, saliva e pelos são os mais usados. O consumo de até dez drogas pode ser verificado. Até novembro, cerca de 500 empresas haviam contratado os serviços do Maxilabor e da USP. Em 2011, foram 230. Pelas contas de Maurício Yonamine, diretor do laboratório da USP, o Estado de São Paulo responde por 40% da demanda. "Principalmente as empresas de transporte rodoviário." Além delas, a indústria e os setores de segurança e aviação são os que mais monitoram os empregados. Concursos públicos como o da Polícia Federal e o do Corpo de Bombeiros também exigem o antidoping. "Precisei fazer o teste no pré-admissional", conta um piloto de avião, de 30 anos, que também preferiu manter o anonimato. "Uma semana antes [do teste], havia cheirado cocaína. Estava tenso. Achei que seria pego, mas não deu nada", diz ele, que foi contratado por uma empresa de aviação comercial que atua em São Paulo. Uma resolução de 2011 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prevê exames antidoping para pilotos, mecânicos e outros profissionais do setor. As empresas têm até o segundo semestre de 2013 para iniciar os testes. FLAGRANTE Neste ano, 53.400 exames toxicológicos foram feitos no Brasil. Quantidade expressiva se comparada aos cerca de 20 mil feitos em 2011, mas pouco significativa em relação ao 1,5 milhão de exames anuais dos EUA, segundo o Instituto Brasileiro de Estudo e Avaliação Toxicológica. Como no caso do piloto e do engenheiro entrevistados, "cerca de 40% dos testes são feitos na admissão", afirma Anthony Wong, toxicologista e diretor do Maxilabor. Apesar de não responderem pela maioria dos exames, os aspirantes a uma vaga são os mais flagrados --até 27% dos candidatos são descartados pelo uso de ilícitos. A incidência é bem inferior entre os funcionários submetidos ao antidoping rotineiro, 4,3%. A cocaína e seus derivados (crack e oxi) lideram as ocorrências de flagrante. Entre os candidatos a uma vaga, 71% daqueles cujo resultado deu positivo são pegos com uma ou mais dessas substâncias. Já entre os contratados, a média é de 25%. "A maconha vem em segundo", diz Wong. Para o presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, Claudio Peron Ferraz, o exame, para seleção, fere o direito do indivíduo. "Viola o direito à intimidade de cada um." No entendimento do jurista e de Estevão Mallet, professor de direito trabalhista da USP, esse antidoping quebra o sigilo médico do paciente. Para Mallet, caso alguém seja flagrado, a informação pode ser repassada para profissionais não médicos. "Não há problema na comunicação entre médicos, mas outros profissionais podem saber [do resultado]", explica ele, que admite que a discussão sobre os exames é controversa. Os laboratórios garantem o sigilo dos pacientes, já que a pessoa é identificada por um código de barras. "O exame não é antiético, porque não há uso seguro de droga. O impacto do uso individual reflete na coletividade", rebate Ana Cecília Marques, psiquiatra da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas. Parte da polêmica pode ser atribuída à falta de leis. "Nossa legislação trabalhista é um tanto defasada", diz Mallet. A lacuna jurídica também cria situações "delicadas". Um empregado em uma metalúrgica de Piracicaba (SP) afirma que "mesmo não consumindo drogas" sente-se coagido. "Não posso negar. O que a empresa vai pensar caso não faça o teste?", diz ele, 43, que faz exames de urina rotineiramente. Evitar a "coação" é outra justificativa do Conselho Federal de Medicina contra o exame. E, apesar da falta de amparo jurídico, o conselho diz que a exigência dos exames por médicos das empresas é passível de punição. "São cinco penas que podem ser aplicadas ao médico: advertência confidencial, censura confidencial, censura pública, suspensão do exercício profissional até 30 dias e a cassação do médico", explica Von Tiesenhausen. O laboratório da USP, há 20 anos no mercado, e o Maxilabor, há 13 anos, contam que nunca foram acionados na Justiça por um flagrante. Ao contrário da atitude dos americanos, no Brasil o positivo não costuma resultar em demissão. Só uma pessoa, diz Wong, foi demitida após exame no Maxilabor. |
Justiça Federal veta propaganda de cerveja e vinho antes das 21h
Mensagens negativas não convencem dependentes químicos
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
A MEMÓRIA DO PRAZER E RECAÍDAS
No geral o PRAZER pode ser simplesmente definido como
uma sensação de “bem estar”. O prazer é uma resposta do organismo ou da
mente indicando que nossas ações estão sendo benéficas ao nosso corpo.
Falando em dependência química já instaurada, temos a questão do
mecanismo psicológico de buscar a droga e a necessidade biológica que se
cria no organismo devido à necessidade do prazer.
Os circuitos de neurônios encarregados de reconhecer sensações
agradáveis ao organismo se dirigirem para uma área do cérebro que
funciona como um “CENTRO DE RECOMPENSA”.
Quando os neurônios localizados nesse centro são ativados
repetidamente por uma substância química ou por uma sensação de prazer
induzida por determinado comportamento, eles vão ativar os circuitos que
se conduzem para o “CENTRO DE BUSCA”, que é uma área do cérebro capaz
de induzir alterações comportamentais que levam à repetição do prazer
obtido anteriormente.
Este tipo de mecanismo funciona não somente para o uso de drogas, mas
para qualquer outro tipo de prazer (alimentação, sexo, jogo, compras) e
neste sentido esta estrutura de funcionamento cerebral foi criada para
desempenhar a função de preservação da espécie.
No entanto, no caso das drogas (e de qualquer outra compulsão) há uma
interferência (não natural) neste sistema de recompensa, o que causa
uma espécie de “CURTO CIRCUITO”, as drogas acabam causando uma ilusão
química de prazer, que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente.
Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes
naturais de prazer e só interessa aquele imediato propiciado pela droga,
mesmo que isso comprometa e ameace a vida do usuário. É como se as
drogas corrompessem completamente o ESQUEMA CEREBRAL DE RECOMPENSA.
Neste sentido as recompensas servem para manter a frequência
excessiva de uso, a sua intensidade e duração, apesar das consequências
negativas graves e de longa duração.
Para quem está de fora deste processo fica difícil entender por que o
usuário de cocaína ou de crack, já com a saúde deteriorada e tendo
passado por várias perdas, não consiga abandonar a droga. Tal
comportamento apenas reflete uma disfunção do cérebro. O foco do
dependente químico se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso
da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de
prazer.
A dependência é, então, o fruto do mecanismo psicológico que leva o
indivíduo a buscar o prazer e impedir o desprazer, e fruto das
alterações cerebrais que a droga provoca. Essa influência entre aspectos
psicológicos e efeito farmacológico acaba determinando o perfil dos
sintomas de abstinência de cada pessoa. A compulsão é menor naquelas que
toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas que a inquietação é
intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência.
Para entendermos um pouco o mecanismo da abstinência e de recaída
também temos que entender como funciona a memória do prazer, associada
às questões comportamentais.
Nossa memória costuma ser analisada em dois grupos: aquelas das quais temos consciência e as que geralmente estão esquecidas.
Assim sendo, de forma consciente, um usuário de cocaína ou um jogador
de cartas pode lembrar-se da sensação de euforia proporcionada pela
recompensa obtida e ir atrás da repetição dela.
Isso explica por que as pessoas jogam ou cheiram cocaína, mas não
justifica a dependência química ou comportamental que desenvolvem pelo
resto da vida e que persiste, mesmo quando o prazer deixou de existir.
Este é o caso, por exemplo, do dependente de cocaína que desenvolve
delírios persecutórios toda vez que usa a droga, porém não consegue
deixar de usar, só aciona a memória do prazer e não a do desconforto.
Nas memórias “não conscientes” armazenadas em centros cerebrais
especializados, como o hipocampo, está a explicação do lado compulsivo
do comportamento que conduz às recaídas.
Ou seja, isto explica porque o usuário crônico insiste na busca de
uma recompensa que não mais encontrará. Por que fraqueja depois de ter
jurado parar? Por que alguém cheira cocaína mesmo quando vive o terror
das alucinações persecutórias toda vez que o faz?
A resposta estaria nos circuitos de neurônios responsáveis pela motivação, memória e aprendizado.
Alguns estudos mostram que a memória e o processo de aprendizado, bem
como a exposição do cérebro às drogas psicoativas, modificam a
arquitetura das sinapses (o espaço existente entre dois neurônios
através do qual o estímulo é modulado ao passar), dando início a uma
cadeia de eventos moleculares capazes de alterar o comportamento
individual por muito tempo.
Esse mecanismo comum permite entender por que a “fissura” associada à
abstinência costuma ser disparada por memórias ligadas ao consumo da
droga.
Conscientemente, o usuário pode decidir tomar outra dose ao recordar a
euforia ou a felicidade sentida anteriormente. Outros estímulos podem
causar efeito semelhante: a visão do cachimbo de crack, o tilintar do
gelo no copo, o esconderijo para fumar maconha. Mas existem lembranças
mais abstratas (um cheiro, uma música, um fato, uma luminosidade) que
podem induzir à procura da droga na ausência de “percepção consciente”.
E no processo de crise abstinência pode haver diversos sintomas:
crises de cólicas intestinais, náuseas e palpitação, o que evidenciam
que muitas recaídas estão associadas à ausência de “memória consciente”.
Isto está ligado a fantasias que o próprio cérebro cria sobre o uso
futuro, que podem ser influenciadas pelas lembranças dos efeitos
positivos e que pode ser uma força motivadora para reiniciar o uso da
substância.
A busca do prazer é uma característica do ser humano. No caso das
drogas, porém, ao querer superar a própria biologia por um artifício
químico, ele acaba se destruindo. O desejo de intensificar o prazer ao
máximo empurra o homem para um abismo, para uma batalha complexa de ser
vencida.
Em qualquer tratamento para dependência química é necessário que haja
um plano de prevenção à recaídas que ajude o indivíduo a ter treinar as
habilidades necessárias para suprir estas dificuldades.
Educar o dependente químico em recuperação sobre o processo de caída e
recaída ajudam, pois ele irá experimentar múltiplas tentativas de parar
até atingir estabilidade na mudança de comportamento que almeja.
Este processo ajuda a mudar o comportamento de dependência e a
quebrar o vínculo entre busca do prazer e o alívio (ainda que ilusório)
do sofrimento obtido com álcool e outras drogas.
O Plano de Prevenção da Recaída (PPR)
é um programa de psicoterapia e tratamento que se baseia na capacidade
individual da modificação de comportamentos aditivos e visa
conscientizar o dependente químico para antecipar, prevenir, modificar,
enfrentar, e lidar com situações que o coloque em risco de recaída,
situações que o faça voltar a consumir álcool ou outras drogas.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Cientistas acreditam ter descoberto uma variação de um gene que incentiva o consumo de álcool
- Cientistas acreditam ter descoberto uma variação de um gene que incentiva o consumo exagerado de álcool em algumas pessoas.
O gene, conhecido como RASGRF-2, eleva o nível de substâncias químicas presentes no cérebro associadas à sensação de felicidade e acionadas com a ingestão de bebidas alcoólicas, informou a revista científica PNAS.
A equipe de pesquisadores, formada por especialistas da Universidade Kings College, de Londres, descobriu que animais que não possuíam a variação do gene tinham menos "desejo" por álcool do que aqueles que apresentavam tal alteração.
O estudo também analisou exames de ressonância magnética dos cérebros de 663 adolescentes do sexo masculino.
O mapeamento revelou que em portadores da versão do gene associada à "bebedeira", todos com 14 anos de idade, havia uma atividade maior em uma parte do cérebro chamada estriado ventral, conhecida por liberar dopamina, substância associada à sensação de prazer.
Quando os pesquisadores questionaram os adolescentes sobre seus hábitos de consumo de álcool dois anos depois, descobriram que aqueles que tinham a variação do gene RASGRF-2 bebiam mais frequentemente.
Contudo, o responsável pelo estudo, Gunter Schumann, explicou que ainda não há provas contundentes de que o gene, sozinho, provocaria a compulsão alcoólica, uma vez que outros fatores ambientais e genéticos também estão envolvidos.
Ele ressaltou, por outro lado, que a descoberta é importante porque joga luz sobre os motivos pelos quais algumas pessoas tendem a ser mais vulneráveis ao álcool do que outras.
"Nosso estudo indica que talvez este gene regule a sensação de bem estar que o álcool oferece para determinados indivíduos", explicou.
"As pessoas buscam situações que provoquem tal sensação de "recompensa" e deixem-nas felizes. Portanto, se o seu cérebro for condicionado a atingir tal estágio por meio do álcool, é provável que sempre procure essa estratégia a fim de alcançar tal meta".
"Agora nós entendemos a cadeia da ação: como os genes moldam a função em nossos cérebros e como que, em contrapartida, isso afeta o comportamento humano".
"Nós descobrimos que o gene RASGRF-2 tem um papel crucial em controlar como o álcool estimula o cérebro a liberar dopamina e, em seguida, ativa a sensação de recompensa".
"Portanto, para as pessoas que têm a variação genética do gene RASGRF-2, o álcool lhes proporciona uma maior sensação de recompensa, levando-as a se tornar beberrões".
Schumann reiterou, entretanto, que mais provas são necessárias para comprovar sua teoria. Ele alertou que o estudo analisou apenas adolescentes do sexo masculino e de uma determinada idade, o que dificultaria estabelecer tendências de consumo de bebidas alcoólicas ao longo prazo.
Ele disse que, no futuro, pode ser possível realizar testes genéticos para ajudar a prever quais pessoas estão mais propensas ao consumo excessivo de álcool.
As descobertas também abririam caminho a novas drogas que bloqueiam o efeito de recompensa que algumas pessoas têm após ingerir bebida alcoólica.
Por outro lado, Dominique Florin, da entidade britânica Medical Council on Alcohol, faz um alerta.
"É provável que haja um componente genético relacionado ao consumo exagerado de álcool, mas isso não quer dizer que se você tiver o gene, você não pode beber, enquanto se você não o tiver, você pode beber o quanto quiser". - Fonte: BBC BRASIL
Estudo mostra eficácia do baclofeno para o tratamento do alcoolismo
- Um estudo dirigido por um médico francês de 2008 a 2010, publicado nesta semana na revista Frontiers in Psychiatry, mostra a eficácia do baclofeno no tratamento a longo prazo do alcoolismo.
Até o momento, a eficácia desta molécula, inicialmente prescrita na neurologia, mas cada vez mais utilizada no tratamento do alcoolismo, tinha sido testada apenas em curto e médio prazo, até um ano após o início do tratamento.
O novo estudo, liderado pelo Dr. Renaud de Beaurepaire (Groupe Hospitalier Paul-Giraud em Villejuif, perto de Paris), focou em 100 pacientes, dependentes de álcool e resistente aos tratamentos convencionais. Eles foram tratados com doses crescentes de baclofeno e sem limite superior.
Os resultados mostram que a percentagem de pacientes que se tornou totalmente abstinente ou que passou a ter um consumo normal, segundo os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS), foi de aproximadamente 50% em todas as avaliações realizadas após três meses, seis meses, um ano e dois anos.
Um número de pacientes também conseguiu diminuir significativamente o seu consumo de álcool, mas sem ainda ter total controle, e passaram a se enquadrar na categoria de pacientes com "risco moderado", de acordo com padrões da OMS.
"O número total de pacientes que melhorou significativamente pelo tratamento foi de 84% em três meses, 70% em seis meses, 63% em um ano e 62% em dois anos", indica o estudo.
O dr. de Beaurepaire é um dos primeiros a receitar altas doses de baclofeno na França e é também um pesquisador de um grande estudo nacional, cujos resultados serão publicados em 2014.
"Esta é a primeira vez que acompanhamos por dois anos com resultados igualmente bons", afirmou à AFP o professor Philippe Jaury (Université Paris-Descartes).
O Baclofeno não é um produto milagroso, apresenta falhas na sua utilização, principalmente relacionadas com a intolerância de determinados efeitos secundários (fadiga, sonolência, etc.), o acompanhamento inadequado do tratamento e a falta de motivação, enumera o Dr. de Beaurepaire.
O Baclofeno é uma droga antiga, originalmente prescrita pela neurologia, para o tratamento de doenças como a esclerose múltipla e paralisia, mas cada vez mais usado na França no tratamento de dependência de álcool. - Fonte: Uol Ciência e Saúde
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Alcoolismo em Transtorno Bipolar
A alta prevalência de uso de substâncias psicoativas em
pacientes com transtornos psiquiátricas tem recebido atenção cada vez maior por
parte dos pesquisadores. Transtorno Bipolar e Alcoolismo são doenças familiares
com fatores genéticos implicados na sua etiologia. A relação genético-familiar
entre ambas é controversa e tem sido estudado de forma insuficiente. Nos
últimos anos, inúmeros pesquisadores tem demonstrado interesse crescente e
destacado a relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, num espectro
muito mais amplo que uma simples comorbidade entre duas patologias
psiquiátricas de importância no contexto social.
O Alcoolismo tem se mostrado mais comum na população de
pacientes com Transtorno de Humor Bipolar (THB) do que na população em geral.
Estudos genéticos em famílias desses pacientes podem identificar causas de
excesso de comorbidade entre as duas patologias. O termo comorbidade neste
trabalho relaciona-se ao cálculo feito para avaliar-se a chance de duas
patologias ocorrerem ao mesmo tempo em um mesmo indivíduo a partir das
prevalências em separado. Sendo assim, o chamado excesso de comorbidade
caracteriza uma associação (concomitância) de prevalências mais freqüentes do
que a esperada em separado, destacando neste trabalho a associação entre
Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo.
Recentes estudos epidemiológicos tem mostrado
convincentemente que os diagnósticos de Transtorno Bipolar e Alcoolismo ocorrem
mais freqüentemente juntos do que o esperado pela chance. Por exemplo, o ECA,
Epidemiological Catchment Area Study (Regier et al 90), relatou em estudo
multicêntrico uma taxa alta de comorbidade entre Transtorno Bipolar e
Alcoolismo com Odds ratio de 6.2, destacando que o THB é a patologia de Eixo I
mais associada com Alcoolismo. As razões para esta alta prevalência de
comorbidade permanecem obscuras. Maier (1996) em seu trabalho, mostra
prevalência de 8,3% para Dependência ao Álcool. Entre os pacientes com
Transtorno de Humor Bipolar, 40,6% (Odds Ratio 5.6) apresentaram Abuso ou
Dependência ao Álcool. A análise das características da co-ocorrência e
co-transmissão do Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo em famílias pode
prover dados para o entendimento da alta comorbidade entre estas duas
patologias na população geral, mostrando que estas representam a comorbidade
mais prevalente entre os diagnósticos psiquiátricos de eixo I (CID-10 e
DSM-IV).
"Compartilhar fatores de risco familiar" inclui
alta prevalência de Alcoolismo em familiares de pacientes bipolares
"puros", além da presença concomitante de Transtorno Bipolar e
Alcoolismo em familiares de pacientes com ambas as patologias. Seu pior curso e
prognóstico em relação aos diagnósticos em separado parece estar relacionado `a
identificação unicamente do diagnóstico primário, deixando de atender o
diagnóstico secundário, que se não prevenido e tratado adequadamente,
desenvolve novo ciclo da doença (Ex: Episódio maníaco desencadeando aumento da
ingesta alcoólica).
Winokur et al (1967), num estudo pequeno, sem grupo-controle
encontraram maior prevalência de Alcoolismo em familiares de primeiro grau de
pacientes com transtorno de Humor Bipolar, especialmente nos casos de início
precoce da doença afetiva. O trabalho de Strakowski (1992) avaliou outros
diagnósticos psiquiátricos em quarenta e um pacientes hospitalizados pela
primeira vez devido a episódio maníaco, e encontrou 24,4% dos pacientes
internados no primeiro episódio por mania com diagnóstico de abuso ou
dependência ao álcool, sendo esta a maior comorbidade psiquiátrica encontrada
neste estudo.
Weiss (1987) hipotetiza que pacientes bipolares usam
substâncias psicoativas com o intuito de auto-medicação de seus sintomas de
humor e que o abuso e dependência ao álcool pode precipitar ou perpetuar
episódios de humor.
Brady (1992), relacionando o curso da doença em pacientes
com Transtorno Bipolar e Alcoolismo com outros somente apresentando Transtorno
Bipolar verificou um pior curso, com sintomas mais proeminentes nos pacientes
com Transtorno Bipolar e Alcoolismo, demonstrando a influência negativa do
abuso de substâncias psicoativas, neste caso o álcool, no curso e prognóstico
do Transtorno Bipolar. Também mostrou que pacientes que apresentam
concomitantemente o Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, apresentam melhor
resposta terapêutica ao uso de anticonvulsivantes em relação ao Lítio,
provavelmente relacionado ao efeito GABAérgico. Este fato levanta a hipótese de
que o álcool, por meio deste mesmo efeito GABAérgico apenas inicial, venha
sendo usado para fins "terapêuticos" em pacientes Bipolares, com
resultados posteriores desastrosos no tocante ao prognóstico. Este trabalho
sugere a existência de uma forma independente de transmissão entre o Transtorno
Bipolar e o Alcoolismo. Reich (1974) mostrou que 31% dos pacientes
identificados com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo bebiam
excessivamente, em maior quantidade na mania, para acalmarem-se. Uma maior
prevalência de Alcoolismo em pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e seus
familiares e vice-versa pode corroborar a possibilidade de um envolvimento
genético comum entre estas duas patologias, com potencial futuro para
identificação de um diagnóstico único (por EX: Agorafobia com ou sem Pânico).
Winokur et al (1993) coloca que a taxa de Alcoolismo em
pacientes com Transtorno de Humor Bipolar pode estar relacionada ao aumento da
ingesta alcoólica em pacientes durante os episódios maníacos, que o Alcoolismo
pode ser um fator predisponente a Mania ou que Alcoolismo e Mania são
expressões iguais de um mesmo fator genético.
Winokur et al (1995) em estudo prospectivo de 5 anos, amplo,
criterioso e multidirecional com mais de 200 bipolares com e sem alcoolismo (2
grupos) e seus familiares concluiu que a relação familiar entre Transtorno
Bipolar e Alcoolismo é mais forte que entre Depressão Maior e Alcoolismo, não
explicado pela simples prevalência destas patologias. O trabalho conclui
demonstrando uma pequena correlação entre componentes familiares de pacientes
Bipolares e Alcoolistas. Os familiares de pacientes com Transtorno de Humor
Bipolar e Alcoolismo concomitantemente (BIPALCO) apresentaram maior prevalência
de Transtorno de Humor Bipolar comparados com Bipolares "puro",
Alcoolistas e grupo controle. Os autores expressam que BIPALCO seria uma
entidade nosológica `a parte e não a presença de duas patologias separadamente,
como simples comorbidade. Os autores referem que durante um episódio maníaco há
aumento do consumo de álcool em 40% dos casos. Reiteram como possíveis bases
etiológicas para a excessiva comorbidade entre Transtorno de Humor Bipolar e
Alcoolismo as seguintes hipóteses:
Que o problema primário, segundo cronologia de início
anterior (poucos casos segundo gravidade) é o Transtorno de Humor Bipolar e que
o Alcoolismo seria secundário, hipótese esta sugerida pelos autores.
Que o Transtorno de Humor Bipolar e o Alcoolismo sejam
apenas uma real comorbidade, uma mera coincidência. Consideram improvável, pois
a associação tem mostrado muito maior freqüência que a possibilidade de chances
em separado. Além disso consideram que o Alcoolismo a nível de sistema nervoso
central pode induzir Mania não como causa única, mas multifatorial, incluindo
dano cerebral. Consideram o Transtorno de Humor Bipolar transmitido com uma
base genética poligênica e que os fatores genéticos envolvidos no Alcoolismo
são compartilhados e predispõem ao aparecimento do THB. Encontraram em relação
aos pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, que seus familiares
de primeiro grau com Transtorno Bipolar apresentaram maior taxa de Alcoolismo
que parentes de Bipolares sem Alcoolismo, enfatizando a base etiológica
poligênica.Concluem a partir da observação, que o Alcoolismo secundário em
pacientes bipolares é mais propenso a remitir que Alcoolismo primário e
vice-versa, enfatizando a relação primário-secundário relacionado a remissão de
sintomas e conseqüente prognóstico. Esta idéia é corroborada neste artigo pelo
achado de um menor número de episódios de humor em pacientes com Alcoolismo
primário comparado com THB como patologia primária. Torna-se de suma
importância diferenciar, embora algumas vezes difícil, entre quadro primário de
Transtorno de Humor Bipolar e secundário de Alcoolismo ou vice-versa. Isto
justifica-se pelo fato do Transtorno de Humor Bipolar ser importante fator de
risco para dependência química, poder modificar o curso do Alcoolismo, além de
seus sintomas poderem emergir da intoxicação.
Outros autores sugerem em trabalho controlado com
metodologia bem delineada que o Alcoolismo familiar pode contribuir para a
vulnerabilidade ao Transtorno Bipolar e que existe hereditariedade
compartilhada entre as duas patologias através de maior taxa de Alcoolismo em
familiares do grupo de pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo (BIPALCO)
comparado ao grupo somente com Transtorno Bipolar e grupo controle (Winokur,
Akiskal et al 1996).
Brady et al (1995) concluiram que o Transtorno de Humor
Bipolar associado ao Alcoolismo apresenta início mais precoce e pior curso
comparado ao Transtorno Bipolar sem Alcoolismo, além de apresentar-se mais
freqüentemente com humor irritável e disfórico, maior tendência a quadros
mistos e ciclagem rápida, bem como maior número de internações. Todos estes
aspectos presentes predizem má evolução prospectiva do quadro. Enfatizam que a
relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo não baseia-se
simplesmente em causa e efeito, é bidirecional e complexa. Coloca a necessidade
de abstinência ao álcool para real identificação e confirmação de quadro de
humor primário, já que a redução dos sintomas depressivos devido ao álcool
ocorre somente 2 a 4 semanas após interromper o uso do álcool e para os
sintomas maníacos, em média de 2 a 3 dias.
A identificação de fatores familiares relacionados a estas
duas patologias de extrema importância em saúde pública torna-se fundamental em
nível de prevenção e tratamento, principalmente porque a alta freqüência de
aparecimento concomitante destes dois transtornos reforça a necessidade de um
programa integrado de prevenção e tratamento em conjunto quando identificados
de tal forma.
Autores
Rodrigo Machado Vieira*
* Supervisor do Serviço de Psiquiatria-Fundação Faculdade
Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
EUA: empresas tabagistas devem admitir que enganaram o público
- Uma juíza federal dos Estados Unidos ordenou nessa terça-feira que companhias de tabaco publiquem declarações corretivas admitindo que mentiram sobre os perigos de fumar e sobre seus efeitos na saúde, incluindo o fato de que o ato provoca a morte, em média, de 1,2 mil americanos por dia.
Gladys Kessler dissera anteriormente que ela queria que a indústria pagasse pelas declarações em várias formas de propaganda. A decisão dessa terça, no entanto, indicou o conteúdo dos textos. Cada anúncio será introduzido por uma declaração de que uma corte federal concluiu que companhias de tabaco "deliberadamente enganaram o público americano sobre os efeitos do fumo na saúde".
Entre as afirmações que as empresas serão obrigadas a veicular, estão a de que o número de mortes provocadas pelo fumo é maior que o causado por homicídios, suicídios, drogas, acidentes de trânsito, aids e álcool combinados, e que o fumo passivo mata mais de 3 mil americanos por ano.
As afirmações serão divididas em cinco categorias. Entre as declarações, há que "as empresas de tabaco intencionalmente projetaram os cigarros para serem mais viciantes"; "quando você fuma, a nicotina altera o cérebro - por isso que é tão difícil parar"; entre outras.
Em sua declaração, Kessler escreveu que todas as declarações corretivas são baseadas em conclusões apuradas pelo tribunal."Esta corte fez uma série de descobertas de que as empresas de tabaco perpetuaram fraude e enganaram o público no que se refere ao vício de cigarros e nicotina", disse a magistrada.
Um porta-voz da Altria Group Inc., proprietária da maior companhia de tabaco dos Estados Unidos, a Philip Morris USA, afirmou que a empresa estava estudando a decisão da corte, mas não fez maiores comentários. Um representante da R.J. Reynolds Tobacco Co. declarou que a firma estava revendo a decisão e avaliando seus próximos passos, medida adotada por outras corporações do gênero.
Ainda de acordo com a decisão, as companhias de tabaco e o Departamento de Justiça devem se reunir no início de dezembro para discutir como essas declarações corretivas serão implementadas, incluindo se elas serão inseridas em maços de cigarro e em propagandas na internet, TV e jornais. Essas discussões deverão ser concluídas até março de 2013. - Fonte: Terra notícias
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Nação Rivotril
O Brasil é o maior consumidor de Rivotril do mundo. Saiba como um calmante tarja preta tem sido usado para aplacar os sentimentos ruins de jovens, trabalhadores e donas de casa
por Bruno Versolato
Ou pode ser o armarinho de remédios de casa.
Na farmácia não se encontra produto descrito como "paz em drágeas" ou "xarope de paz". Mas muita gente acha que é isso o que deveria dizer o rótulo do Rivotril, um ansiolítico (ou, popularmente, um calmante). Rivotril é prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno.
Tanto que o Brasil é o maior consumidor do mundo em volume de clonazepam, o princípio ativo do remédio. Serão 2,1 toneladas em 2010, o que coloca o Rivotril no topo das paradas farmacêuticas daqui. É o 2º remédio mais vendido no país, à frente de nomes como Hipoglós e Buscopan Composto - em 2004, era o 4º da lista. Só perde agora para o Microvlar, anticoncepcional com consumo atrelado à distribuição pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS).
E olhe que o Rivotril é um remédio tarja preta. Só pode ser comprado na farmácia com a receita do médico em mãos. "A maior parte das vendas desse medicamento acontece via prescrição. Mas muitos conseguem o remédio com receita em nome de outros pacientes ou até pela internet", afirma Elisardo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp. Em alguns casos, até há a prescrição - mas de um médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem fortes crises de TPM", diz. Até porque poucos brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório responsável pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros tem dificuldade de acesso a psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição do Rivotril por médicos não especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.
Foi assim, por via não ortodoxa, que a popularidade do Rivotril cresceu. Não é difícil ouvir donas de casa recomendando o remédio a uma amiga que tem tido problemas para dormir. "Quem nunca ouviu que uma tia ou uma vizinha toma Rivotril há 20 anos e só dorme com isso?", pergunta o professor de psiquiatria do curso de medicina da PUC de São Paulo, Carlos Hubner. Ou achar relatos do tipo "Rivotril é meu melhor amigo" no Orkut e no Facebook. Nessas histórias, o Rivotril aparece sempre como um freio para sentimentos como medo, rejeição, angústia, tristeza e ansiedade. "Houve Big Brother em que eu estava com muita ansiedade e usava Rivotril para entrar no ar", disse Pedro Bial em entrevista à revista Playboy. O remédio tem sido usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o psiquiatra André Gustavo Silva Costa, especialista em tratamento de dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas como cocaína. Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia seguinte", diz.
O que é que o Rivotril tem?
Mas que mágica é essa? Quando somos pressionados, algumas áreas do cérebro passam a trabalhar mais. Vem a ansiedade. O Rivotril age estimulando justamente os mecanismos que equilibram esse estado de tensão - inibindo o que estava funcionando demais. A pessoa passa a responder menos aos estímulos externos. Fica tranquila. Ainda que o bicho esteja pegando no trabalho, o casamento indo de mal a pior e as contas se acumulando na porta. É essa sensação de paz que atrai tanta gente. Afinal, a ansiedade traz muito incômodo: suor, calafrios, insônia, taquicardia... "Muitas vezes o sofrimento se torna insuportável. O remédio é valioso quando o paciente piora", diz Silva Costa. Para a carioca Bruna Paixão, de 32 anos, funcionou. "Um dia tomei uma bronca do meu chefe e fiquei péssima. Só pensava nisso. Aí resolvi tomar Rivotril para dormir. Tinha uma caixa em casa, dada por um amigo médico. Assisti um pouco de TV, conversei com um amigo no telefone e fui ficando bem", diz.
Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não é recomendado a qualquer um. Seu consumo por profissionais que têm de se manter ágeis e em estado de alerta - como pilotos de avião e operadores de máquinas, por exemplo - é desaconselhado por médicos. "O Rivotril dá a falsa impressão de que a pessoa produz mais, mas a verdade é que o remédio só deixa mais calmo", diz José Carlos Galduroz, psiquiatra da Unifesp.
Não é só com o Rivotril que isso acontece. Os calmantes da família dele - os chamados benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São remédios como Lexotan, Diazepam e Lorax. Em parte, o Rivotril ficou famoso ao pegar carona na onda dos "benzo". Eles surgiram na década de 1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é muito tênue. A mais famosa vítima dos excessos de barbitúricos foi Marylin Monroe (embora haja dúvidas sobre o envenenamento acidental da atriz). Quando surgiram os benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à ansiedade. "Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível", diz Saadeh, da USP.
É verdade, o Rivotril tem berço, vem de uma família benquista pelos médicos. Isso já garante uma popularidade. Mas ele tem uma vantagem extra em relação aos parentes. Seu tempo de ação é de, em média, 18 horas no organismo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída do corpo. É o que os médicos chamam de meia-vida. "A meia-vida do Rivotril é uma das mais confortáveis para o paciente, porque fica no meio-termo em relação aos outros remédios para a ansiedade e facilita a adaptação", diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o desejado.
No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29.
Tudo isso faz o pessoal se esquecer da tarja preta do remédio. Mas ela está lá por um motivo, é claro. E esse motivo é o risco de dependência.
O risco é o mesmo visto em outros benzodiazepínicos. São dois, aliás. O de dependência química e o de dependência psicológica. Na química, o processo é parecido com o gerado por drogas como álcool e cocaína. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para funcionar corretamente. A outra dependência é a psicológica. A pessoa até para de tomar o remédio, mas mantém uma caixa sempre no bolso como precaução. "Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a maioria tem sídrome de abstinência se o remédio for tirado de uma hora para outra."
Em casos mais graves, a abstinência pode levar o paciente a uma internação. A pessoa pode ver, ouvir e sentir coisas que não existem, apresentar delírios (como ser perseguida por extraterrestres), agitação, depressão, apatia, entre outros sintomas. E para cortar a dependência? "O paciente precisa querer parar. Há drogas que tratam os sintomas da abstinência em no máximo 4 semanas", afirma Carlo Hubner, da PUC. Livrar-se do Rivotril é duro porque é preciso enfrentar todos os fantasmas de que o paciente queria se livrar quando buscou o remédio. Afinal, o remédio só esconde os problemas. Eles continuarão lá, à espera de solução. O verdadeiro adeus é o momento em que se aprende a lidar com a ansiedade. Sozinho. Ou talvez com uma passadinha rápida na praia. Pensando no namorado. Ou com a ajuda daquela lasanha (bem gorda).
Para saber mais
Goodman & Gilman
Laurence Brunton, John Lazo, Keith Parker, Artmed, 2010.
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