quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Leis anti-fumo reduzem em até 25% internações por doenças relacionadas ao cigarro

Pesquisa olhou para os impactos de medidas aplicadas em diversos países que restringem o cigarro em ambientes como bares e restaurantes

Cigarro: Leis anti-fumo têm impacto positivo sobre a saúde da população em um período de um ano
Cigarro: Leis anti-fumo têm impacto positivo sobre a saúde da população em um período de um ano (Thinkstock)
Um levantamento americano que analisou as consequências das leis anti-fumo em diversos países concluiu que essas medidas têm, sim, um impacto direto e rápido sobre a saúde da população. Segundo a pesquisa, feita pela Universidade da Califórnia com o Instituto Nacional de Saúde (NHI, sigla em inglês) dos Estados Unidos, a aplicação desse tipo de legislação, como por exemplo, a proibição o fumo em restaurantes e bares, é capaz de reduzir rapidamente o número de internações decorrentes de doenças como as cardiovasculares ou as respiratórias. Essa diminuição ocorre, segundo os pesquisadores, tanto entre os fumantes quanto entre pessoas expostas ao fumo passivo.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Association Between Smoke-Free Legislation and Hospitalizations for Cardiac, Cerebrovascular, and Respiratory Diseases: A Meta-Analysis
Onde foi divulgada: periódico Circulation
Quem fez: Crystal Tan e Stanton Glantz
Instituição: Universidade da Califórnia, Estados Unidos
Dados de amostragem: 45 pesquisas sobre leis anti-fumo
Resultado: Em um período de um ano, as leis anti-fumo, que proíbem cigarro em bares, restaurantes ou no trabalho, reduzem em 15% as hospitalizações por ataque cardíaco; em 16% as por AVC; e em 24% por problemas respiratórios, como asma
Os autores do estudo revisaram, ao todo, 45 pesquisas que analisaram, durante um ano, as consequências de 33 leis anti-fumo aplicadas em diversos países, entre eles Estados Unidos, Alemanha e Uruguai. As conclusões foram publicadas nesta semana no periódico Circulation, da Associação Americana do Coração.
Segundo os resultados, as legislações que proíbem o fumo em bares, restaurantes ou no trabalho diminuem, no período de um ano, em 15% as hospitalizações por ataque cardíaco; em 16% as internações por acidente vascular cerebral (AVC); e em 24% as hospitalizações por problemas respiratórios, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. A pesquisa ainda mostrou que as leis mais abrangentes — ou seja, que proíbem o fumo em bares, em restaurantes e também no trabalho — são as que provocam os maiores benefícios.
Para Staton Glandz, coordenador do trabalho, esses resultados apoiam a posição da Associação Americana do Coração, que acredita que leis anti-fumo deveriam se estender a todos os ambientes de trabalho e lugares públicos. "Legislações mais fortes significam reduções imediatas nos problemas de saúde relacionados ao tabagismo, o que acontece em decorrência da diminuição do fumo passivo e do número de pessoas que deixam de fumar por causa dessas leis", diz Glantz.

Fonte: Revista Veja

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Internação Involuntária - Coerção com compaixão

FOTOS_RONALDO_LARANJEIRA_032-3Todos os países democráticos e desenvolvidos permitem, sob algumas condições, que seus cidadãos sejam internados ou submetidos a tratamentos psiquiátricos com algum grau de coerção. Na Suécia, 30% de todas as internações são por medidas coercitivas. Os EUA talvez seja o pais com maior número desse tipo de tratamento. Com o desenvolvimento das chamadas “Drug Courts”, que são responsáveis por oferecerem tratamentos para os usuários de drogas como uma opção à prisão, criou-se um sistema bem organizado de estimulo não só para a busca, mas também para a retenção no tratamento, com centenas de milhares de pessoas já tratadas dessa forma. Vários estudos mostraram que essa abordagem obtem melhores resultados do que a busca voluntária de ajuda. O National Institute of Drug Abuse (NIDA) que é o órgão governamental responsável pelas pesquisas e pela influência nas políticas do país, recentemente lançou um consenso sobre esse assunto e um dos item claramente resume: “O tratamento para ser efetivo NÃO precisa ser voluntário”.
A própria Organização Mundial da Saúde em documento de 1996 chamado de “Leis sobre os cuidados em Saúde Mental: Dez princípios básicos”, reconhece que em algumas condições é possível alguma coerção: “No caso da pessoa com transtornos mentais estar incapaz de consentir sobre o seu tratamento, ..., deveríamos ter alguém responsável para decidir (parente, amigo ou um autoridade) qual seria a melhor alternativa”.
No Brasil todos os dias são feitas dezenas de internações coercitivas. Um bom número determinadas pela justiça, chamadas de “Compulsórias”, e um numero também substancial determinadas pelos médicos em parceria com as famílias, chamadas “Involuntárias”. A grande maioria das internações involuntárias ocorre no sistema privado de saúde. A experiência dos médicos, familiares e dos próprios pacientes é muito positiva. A maioria dessas internações transformam-se, após 2-3 semanas em voluntárias, e os pacientes terminam o tratamento harmonicamente com o médico e familiares. Raramente um paciente troca de médico devido a uma internação involuntária, pois acaba reconhecendo que a decisão foi feita com a melhor das intenções.
Um bom exemplo ocorre em São Paulo. No começo de 2012, por iniciativa do Governador Geraldo Alckmin, foram criados 30 leitos para grávidas usuárias de drogas, algumas delas internadas involuntariamente. Esse programa está funcionando muito bem, com muitas delas adolescentes, sendo tratadas de uma forma humana e profissional, e seus filhos protegidos.
Numa democracia o direito a vida deveria superar todos os outros direitos, e as internações involuntárias ou compulsórias, desde que feitas dentro da lei, pode ser uma excelente oportunidade para protegermos uma população vulnerável, especialmente os usuários de crack que perambulam pelas ruas e que colocam a sua vida e dos demais em risco.

Ronaldo Laranjeira
Professor Titular de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP

Cai o último argumento dos maconheiros: droga é mais prejudicial do que álcool e tabaco, sim!

Blog Reinaldo Azevedo

Um dos lobbies mais organizados, mais influentes e mais aguerridos do Brasil é o dos maconheiros. Não há, já demonstrei aqui, acho que em centenas de textos, uma só centelha lógica em seus argumentos. Ao contrário: no fim, tudo termina na mais pura irracionalidade. Não repisarei argumentos. O capítulo 3 de “O País dos Petralhas II” chama-se “Das milícias do pensamento” — um dos subcapítulos tem este título “Da milícia da descriminação das drogas”. Como, em certas franjas, o consumo da maconha e de algumas outras substâncias se mistura com hábitos próprios dos endinheirados, a descriminação ganhou porta-vozes influentes. Por incrível que pareça, está presente até na eleição do comando da OAB…
Leiam reportagem de Adriana Dias Lopes, que é capa da VEJA desta semana. Cai por terra a mais renitente — embora, em si, seja estúpida, já demonstrei tantas vezes, tese dos defensores da descriminação da maconha: a de que a droga ou é inofensiva ou é menos danosa à saúde do que o tabaco e o álcool, que são drogas legais. Errado! Leiam trecho da reportagem:
(…)
A razão básica pela qual a maconha agride com agudeza o cérebro tem raízes na evolução da espécie humana. Nem o álcool, nem a nicotina do tabaco; nem a cocaína, a heroína ou o crack; nenhuma outra droga encontra tantos receptores prontos para interagir com ela no cérebro como a cannabix. Ela imita a ação de compostos naturalmente fabricados pelo organismo, os endocanabinoides. Essas substâncias são imprescindíveis na comunicação entre os neurônios, as sinapses. A maconha interfere caoticamente nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais. O mais assustador, dada a fama de inofensiva da maconha, é o fato de que, interrompido seu uso, o dano às sinapses permanece muito mais tempo — em muitos casos, para sempre, sobretudo quando o consumo crônico começa na adolescência. Em contraste, os efeitos diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro se dissipam poucos dias depois de interrompido o consumo.
Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, a maconha é a droga ilícita universalmente mais popular. E seu uso vem crescendo — em 2007, a turma do cigarro de seda tinha metade desse tamanho. Cerca de 60% são adolescentes. Quanto mais precoce for o consumo, maior é o risco de comprometimento cerebral. Dos 12 aos 23 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento. Em um processo conhecido como poda neural, o organismo faz uma triagem das conexões que devem ser eliminadas e das que devem ser mantidas para o resto da vida. A ação da maconha nessa fase de reformulação cerebral é caótica. Sinapses que deveriam se fortalecer tornam-se débeis. As que deveriam desaparecer ganham força”.
(…)
Leiam a íntegra da reportagem especial na edição impressa da revista e depois cotejem com tudo o que anda dizendo a turma da descriminação, cujo lobby é tão forte que ganhou até propaganda gratuita na TV aberta, o que é um despropósito.
Para encerrar este post, vejam alguns dados cientificamente colhidos sobre os consumidores regulares de maconha:
– têm duas vezes mais risco de sofrer de depressão;
– têm duas vezes mais risco de desenvolver distúrbio bipolar;
– é 3,5 vezes maior a incidência de esquizofrenia;
– o risco de transtornos de ansiedade é cinco vezes maior;
– 60% dos usuários têm dificuldades com a memória recente;
– 40% têm dificuldades de ler um texto longo;
– 40% não conseguem planejar atividades de maneira eficiente e rápida;
– têm oito pontos a menos nos testes de QI;
– 35% ocupam cargos abaixo de sua capacidade.
E, digo eu, por tudo isso, 100% deles defendem a descriminação…

Mães usuárias de crack se tornam um novo problema de saúde pública no Brasil

O doutor Dráuzio Varella mostra a vida de jovens dependentes que engravidam e, mesmo assim, continuam se drogando. Elas acabam perdendo a guarda dos filhos.
Rede Globo - Fantástico

As mães do crack são um novo problema de saúde pública no Brasil. O doutor Dráuzio Varella mostrou a vida de jovens dependentes que engravidam e, mesmo assim, continuam se drogando. Como ajudar essas mulheres? Que tipo de vida espera esses bebês?

Samara tem 21 anos e não é uma gestante qualquer. Ela usou crack durante as 20 primeiras semanas de gestação, desde a fase mais inicial da formação do feto.

Letícia, de 18 anos, acabou de ter seu primeiro filho. E ainda na mesa do parto precisa dar uma informação que pode fazer toda a diferença para a vida dela e da criança: ela fumava maconha, crack e usava cocaína.

A produtora do Fantástico conheceu Samara na clínica em que ela, já grávida, estava recebendo tratamento contra a dependência do crack. “Agora, vai fazer quatro meses que estou aqui. Se eu não tomar vergonha na cara... Eu quero parar de usar”, diz Samara.

Samara perdeu provisoriamente a guarda da primeira filha. Por causa do crack, ela tem medo que o mesmo aconteça com o bebê que vai nascer. “Eu tenho medo de não conseguir, mas eu vou conseguir”, acredita.

As histórias das mães do crack se repetem. “Uma vez que eu cheguei a fumar com o meu pai 60 pedras de crack”, contou uma menor de idade.

“Eu não conheci a minha mãe verdadeira. Não sei muito os motivos dela, mas ela não teve condições de me criar”, diz Fabíola Fernandes da Silva, de 23 anos.

“Fui para São José do Rio Pardo, com uma colega minha, fazer programa. Aí passou um tempo, e outra colega minha ofereceu crack para mim. Foi quando eu comecei a viciar. Passei a fazer mais programa para usar o crack”, conta Samara.

“Apanhei demais, porque as mulheres mais velhas me exploravam muito. Eu tinha que me prostituir para poder pegar dinheiro e pegar a droga para elas”, conta Fabíola.

“Eu tinha vergonha até de chegar perto da minha filha. Estava muito magra, muito acabada”, contou Sirlene Rodrigues, de 28 anos.

A combinação de desamparo, dependência química e violência leva facilmente à gravidez acontecimento que não muda o rumo desta história triste.

“O que caracteriza a dependência é a incapacidade de ter um controle. Então, é como se ela ficasse à mercê de uma força maior do que a própria vontade dela. É um sofrimento muito grande. Não são mães desnaturadas, não são mães que não se preocupam com isso, mas são mães que estão em um nível de sofrimento impensável e que não conseguem sair disso. É por isso que a gente precisa ajudar essas mães e não condená-las”, explica Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Unifesp.

“Nós temos casos muito tristes de moças que vão para o hospital sem saberem que estão dando à luz”, diz Dora Martins, juíza da Vara Central da Infância de SP.

“Usei crack até eu ganhar neném. No dia em que ele nasceu, eu estaca bem louca de droga”, conta Fabíola.

O obstetra Tenilson Amaral Oliveira conta que essas pacientes muitas vezes chegam com hipertensão, com arritmias e taquicardias. “Para o feto existem complicações específicas, como descolamento prematuro de placenta, o retardo de crescimento intra-uterino; o peso de nascimento das crianças é menor”, explica.

É ridículo imaginarmos que as adolescentes das cracolândias tenham discernimento para procurar os serviços de saúde atrás dos anticoncepcionais. É o anticoncepcional que tem que chegar até elas. Existem injeções de efeito prolongado que são ideais para essas situações.

O psiquiatra Ronaldo Laranjeiras, da Unifesp, vê esses atendimentos como uma grande prioridade. “Para uma menina chegar a estar grávida e continuar usando crack é porque que ela tem uma vulnerabilidade muito grande. Então, você tem que criar um tratamento muito mais estruturado, tem que oferecer um ambiente onde ela fique protegida. E depois do parto ela tem que ter uma continuidade no sentido de protegê-la socialmente”, afirma.

A Samara, Fabíola e uma das menores de idade que você conheceu nesta reportagem ficaram internadas no interior de São Paulo, no Instituto Bairral.
A Fabíola foi por vontade própria. A Samara e a menor, por ordem judicial a pedido da família.

O instituto psiquiátrico só trata adultos e não aceita bebês. Já na casa Amparo Maternal, na capital paulista, mãe e filho podem ficar até seis meses depois do parto. “Ela se recupera em peso, se recupera no bem-estar dela e, principalmente, cria um vínculo entre mãe e bebê, que é o nosso principal objetivo”, diz a coordenadora Jucélia Souza Gaspar.

Os bebês do crack constituem a nova realidade de hospitais, maternidades, instituições psiquiátricas e abrigos, como o Casa Baquita, que tem 22 recém-nascidos. “Hoje, a maioria do acolhimento é com relação à droga e o crack”, diz Antônia Todeschini, coordenadora do abrigo Casa Bakhita.

Há cinco anos, uma maternidade pública do estado de São Paulo teve apenas um caso de parturiente usuária de crack. Agora, a situação é outra. “Até agosto de 2012, atendemos 40 casos”, conta Andrea Fernandes, médica neonatologista.

Muitas vezes, a condição social, emocional e econômica da mãe e da família obrigam a Justiça a destituir o chamado poder familiar, que é entregar o bebê ou a criança a um parente da mãe ou mesmo para adoção.

Na Vara Central da Infância de São Paulo, houve 56 ações de destituição em 2010. Este ano, o número dobrou: 111 casos até o mês de outubro. “Significativamente, a maioria é de mães usuárias de crack”, diz uma juíza.

É comum candidatos à adoção terem medo dos problemas que a criança tem ou vai ter quando a mãe biológica é dependente. Os alimentos e o oxigênio são transportados pelo sangue da gestante até a placenta. Sem ela, o feto não pode se nutrir, nem respirar. A placenta de uma dependente de crack fica enrugada, mais fraca, com menor capacidade de defender o feto da entrada de um vírus, por exemplo. E o sangue da mãe, que carrega tudo que o feto precisa, atravessa a placenta em menor quantidade.

“O bebê corre bastante risco de dano neurológico. O tremor é claramente uma manifestação de abstinência”, alerta o infectologista da Unifesp Adauto Castelo Filho. A criança pode nascer sentindo a falta do crack no organismo.

“As pessoas que vão adotar são chamadas no Fórum. Elas preenchem um questionário bastante minucioso, e nesse momento vão dizer qual o perfil da criança que eles querem. O casal, o pretendente ou a pretendente, é informado nesse momento dessas questões das crianças filhos de drogadictos”, diz a juíza.

“Eu acho que, quando você tem esclarecimento, fica mais fácil de você aceitar algumas coisas. Quando entramos na fila de adoção, tínhamos algumas restrições”, diz a mãe adotiva Eliane Canale.

“Eu sou chorão, é difícil até falar sobre isso. Foi algo muito especial. Eu sonhei muito com isso, muito. Esse dia foi muito especial. Foi nesse momento que a gente falou pra ele que seríamos os pais dele, e ele falou: ‘você é o meu papai?'. 'Sim, filho, eu sou o seu papai agora”, contou o pai adotivo Alexandre Marcelino Coelho.

Aos 23 anos, Fabíola está grávida do quinto filho. Os outros quatro foram adotados. Quando nasceu a filha mais velha, ela tinha 14 anos. “Fiquei sabendo que o juiz deu para uma família bem de vida, que não tinha filho nenhum, que não podia ter filho”, diz ela.

“Prefiro mil vezes as minhas duas filhas do que a droga. Então, não vou deixar ninguém tirar de mim, não”, afirma Samara.

A primeira filha de Samara nasceu no início deste ano. Por ordem judicial, ela está com a mãe da Samara, com quem ela nunca se deu bem. “Uma vez ela me fechou dentro de casa, escondeu a chave, pegou a faca, colocou no meu pescoço e falou que se eu levantasse, ela enfiava a faca em mim. Eu fiquei com medo de morrer”, conta a mãe de Samara.

Samara foi criada pela avó materna. “A mãe dela sempre vem na minha casa quando ela está aqui, só que as duas não combinam. Elas brigam muito porque a mãe dela não ajuda ela com nada. Eu amo a Samara igual amo meus filhos mesmo”, diz avó Samara.

No instituto, Samara, ainda grávida da segunda filha, recebe emocionada a visita da avó e da cunhada. A situação de Samara não é fácil. Dependente do crack, ela tem que provar a si mesma e à Justiça que pode criar as crianças. A situação da primeira filha é provisória. E o que vai acontecer com a segunda?

“Um quarto está esperando a Samara chegar com o bebê. Se ela tiver a neném junto com ela, pode ser a salvação dela”, acredita a avó.

Isso quem vai dizer é a Justiça. Uma nova vida pode não ser uma vida nova. A Samara dá à luz em um hospital de Itapira, interior de São Paulo.

Na Maternidade Estadual Leonor Mendes Barros, nesse mesmo dia, nasce o filho da Letícia. “Não consigo pensar em nada, só no bebê. E quero descansar”, diz Letícia.

Depois do parto, que correu bem, Letícia descansou por uma hora. E aí o destino do bebê começou a ser decidido. Por ser dependente química, Letícia é entrevistada por uma assistente social. E sai triste.

“Ela explicou que eu iria fazer um acompanhamento com a psicóloga. Fiquei apreensiva quando ela disse que teria que passar a guarda para algum familiar meu. Não gostei, não. Mas é o melhor, não é? Vai ter que ser analisado se é o melhor pra ele. Só isso”, afirma Letícia. E foi o que aconteceu. Na quinta-feira (25), a Justiça decidiu que uma tia da Letícia vai ficar um ano com a criança, sempre acompanhada pela Vara da Infância, até uma nova avaliação. Letícia já começou a tratar a dependência química em uma instituição pública.

Samara saiu do hospital há pouco mais de uma semana. Como ela queria, foi para a casa da avó. “Vou ficar acho que até eu arrumar uma comunidade terapêutica para ficar. Aí eu deixo minha filha com a minha avó”, diz Samara.

O futuro desses bebês ainda está em aberto. A Justiça pode até decidir pela adoção. Sirlene, que você já viu nesta reportagem, tem 28 anos e dois filhos: uma de 9 anos, e outro de apenas seis meses. Ela está conseguindo fazer o tratamento e por isso ficou com os filhos. A vida dela mudou. “Estou pensando até em voltar a trabalhar. Tem até proposta de trabalho. Meu sonho é fazer enfermagem. E hoje não é tarde”, conta Sirlene.

“A gente tem que pensar não dez vezes, mas sim mil vezes antes de experimentar a droga, ainda mais o crack. Experimentou o crack, acabou”, alerta Samara.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Congresso reúne especialistas nacionais e estrangeiros para discutir as diversas práticas do Acompanhamento Terapêutico

Evento acontece em São Paulo, entre os dias 15 e 17 de novembro, com o tema Polifonia: as diversas vozes do AT. Além de conferências de renomadas personalidades, como a escritora e poetisa Adelia Prado, a filósofa Marilena Chaui e o psicanalista Gilberto Safra, o encontro terá mesas-redondas, debates, mini-cursos, comunicações orais, apresentação de pôsteres e oficina. As inscrições para apresentação de trabalhos estão abertas até o dia 7 de novembro.

O Acompanhamento Terapêutico (AT) é um campo com intensa interlocução entre diferentes áreas do conhecimento, que busca, na própria interdisciplinaridade, um tratamento mais humanizado de pacientes em sofrimento psíquico, visando facilitar sua inserção sociocultural, a partir de um acompanhamento em meio à sua vida cotidiana. Ainda que tenha surgido no campo da Saúde Mental, o AT já se faz presente na Saúde em geral; no campo da Educação, por meio do trabalho de inclusão e no campo Judiciário, nas intervenções com liberdade assistida (LA), situações de abrigamento e moradores de rua; e também com populações de Hospitais de Custódia (antigos Manicômios Judiciários). Envolve, portanto, profissionais de variadas áreas, como Psicologia, Psiquiatria, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Serviço Social, Pedagogia, Ciências Sociais, Filosofia e Direito.
Para discutir as práticas e pesquisas científicas sobre acompanhamentos terapêuticos, a Associação Acompanhamento Terapêutico (AAT) promove o Congresso Polifonia: as diversas vozes do AT, que se configura como o terceiro congresso em nível nacional, o oitavo ibero-americano e o sétimo internacional da área. O evento acontece entre os dias 15 e 17 de novembro, na unidade Paraíso da UNIP (av. Vergueiro, 1211), em São Paulo.  As inscrições estão abertas para apresentação de trabalhos na área até o dia 7 de novembro.
Além de divulgar os trabalhos realizados e a troca de experiências sobre as práticas individuais, o evento busca discutir estas práticas, comparar as diferenças e semelhanças clínicas, aprofundar e sistematizar conceitos, reconhecer a diversidade de demandas de atendimento, definir o campo do acompanhamento terapêutico e estabelecer redes entre os ATs.
Na programação, estão previstas as conferências Cotidiano: horizontes de revelação, com a escritora e poetisa Adélia Prado e o psicanalista e docente da USP, Gilberto Safra, e A liberdade como pluralidade: mil vozes, com a filósofa Marilena Chaui. O evento também contará com a participação do psiquiatra argentino Jorge Luis Pellegrini, que fez a reforma no hospital psiquiátrico da Província de San Luis (Argentina) e ganhou o Prêmio Mundial de Psiquiatria, em 2005, por sua defesa aos direitos humanos, outorgado pela Associação Mundial de Psiquiatria. Além de participar dos debates, ele apresenta seu filme-documentário Rotas Cadenas.
As várias mesas-redondas terão como eixos temáticos: Diversidade do AT, Temporalidade: Passado, Presente, Futuro do AT e Perspectivas: Sonhos e Projetos no Campo do AT , e visam ouvir as diferentes vozes que constituem essa prática a fim de refletir sobre a diversidade de questões que atravessam o cotidianos dos autores, buscando ouvir suas vocações interdisciplinares, suas possíveis contradições internas , suas diversas forças criativas, ou seja, sua polifonia.
Mais informações sobre a programação, formas de inscrição e submissão de trabalhos estão disponíveis pelo telefone (11) 7424-3362, e-mail  contato@att.org.br ou no site da entidade: www.aat.org.br 


A Associação Acompanhamento Terapêutico (AAT) foi criada em 2006 quando um grupo de pessoas que trabalha há anos com Acompanhamento Terapêutico (AT) se reuniu para promover a saúde, produzir conhecimento e desenvolver trabalhos variados na área. É uma associação sem fins lucrativos que tem por finalidade a promoção de estudos e pesquisas, o desenvolvimento de tecnologias alternativas, a produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades de Acompanhamento Terapêutico. 

Mais informações para a imprensa:
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Aceita socialmente, álcool é a droga que mais preocupa especialistas

Luciana Alvarez
Do UOL, em São Paulo


Algumas drogas são socialmente aceitas e consumidas abertamente, como o álcool. Outras são prescritas por médicos para combater problemas de saúde. E há as ilegais, que alimentam o tráfico e as manchetes de jornais. Em comum, todas elas têm o potencial de causar dependência e danos permanentes à saúde.
As drogas são consumidas pelo homem ao longo de quase toda a sua história. Há indícios de que o vinho já existia 5.000 anos a.C. Traços de maconha, ópio e coca foram encontrados em achados arqueológicos de civilizações de mais de 3.000 anos a.C. Apesar de tanto tempo de existência, o consumo de drogas permanece cercado de mitos.
O certo é que todas elas provocam alguma sensação de prazer e, quando seu efeito passa, fazem com que o organismo "queira" outra dose. É então que nasce o vício. “O efeito do crack, um prazer intenso, dura de três a cinco minutos. Portanto a dependência vem rápido”, explica o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, do hospital A.C.Camargo.
Mas mesmo que se trate de um medicamento prescrito por um especialista, toda precaução é pouca quando se trata de uma substância com potencial de causar dependência. “Médicos no mundo inteiro prescrevem em excesso os benzodiazepínicos (remédios como Rivotril e Lexotam) porque desconhecem seus efeitos colaterais. A recomendação é que essas substâncias sejam usadas por no máximo de quatro a seis semanas”, afirma o psiquiatra do Hospital da Clínicas de São Paulo Ivan Mario Braun, autor do livro "Drogas – perguntas e respostas" (Ed. Summus).

PORTUGAL: EXEMPLO PARA O MUNDO?

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Consumos de droga, álcool e tabaco sobem nas escolas públicas
 
Ionline.pt - Por Kátia Catulo
 
Inquérito revela que quase um terço dos alunos consumiu canábis pelo menos uma vez na vida
Os alunos das escolas públicas estão a consumir mais álcool, tabaco e drogas. Esta é a conclusão que se pode retirar do Inquérito Nacional em Meio Escolar, ontem divulgado em Lisboa, que denuncia ainda outra realidade preocupante: 40 mil alunos do 3.o ciclo e do ensino secundário (16% do total) consumiram recentemente canábis. Este valor representa uma subida de 7% face aos resultados do inquérito feito em 2006 e significa igualmente uma inversão da tendência de descida que vinha a acontecer em anos anteriores. O estudo revela ainda que 29% dos alunos já consumiram canábis uma vez na vida, pelo menos.
O estudo, do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Adictivos e de Dependências, o organismo que sucedeu ao Instituto da Droga e Toxicodependência, abrangeu cerca de 65 mil alunos e a recolha de dados aconteceu em Maio de 2011.
No consumo de bebidas alcoólicas, a tendência de aumento é semelhante – desde 2006 há mais 10% de adolescentes a admitir ter ingerido bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias, com a cerveja a liderar as preferências (51%), logo seguida das bebidas destiladas (50%).
Há ainda outro indicador a ter em atenção neste inquérito: dois terços dos estudantes reportam casos de embriaguez muito recentes. Em comparação com 2006, nota-se uma diferença: 32% dos alunos afirmaram, naquele ano, ter consumido álcool no mês anterior. No secundário, aliás, as situações de embriaguez subiram de 34% para 42% em 2011.
Relativamente a uma comparação entre as percentagens de jovens que consumiram drogas no último mês em 2006 e a percentagens daqueles que o fizeram agora assinala-se um aumento de 5% para 6%. Esta percentagem representa um universo de 23 mil alunos.
Durante a apresentação do inquérito, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, lembrou que em períodos de crise há tendência para o aumento dos consumos de álcool ou de substâncias ilícitas. Apesar de o fenómeno se estender também pelo resto da Europa, o governante ressalva que está preocupado com a eventual ideia entre os adolescentes de que a canábis é inócua: “É uma percepção errada. O consumo de canábis aumenta o risco de psicoses, de esquizofrenia”, advertiu, reconhecendo também a necessidade de regulamentar a venda de álcool a menores de 18 anos.
Para já, Leal da Costa promete mudanças para breve na legislação relacionada com as smart-shops (lojas de drogas legais). O governo está a trabalhar em nova legislação com o objectivo de travar a entrada e a comercialização de grupos de moléculas que possam pôr em risco a saúde pública. K. C.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tratamento de usuários de crack no XXX CBP


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marcelo_ribeiro_de_araujo
ABP

A manhã desta quinta-feira (11/10) no XXX Congresso Brasileiro de Psiquiatria começou com 14 atividades simultâneas, no Centro de Convenções de Natal. Uma das salas mais concorridas foi a comandada pelo doutor em medicina psiquiátrica e pesquisador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, serviço ligado ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Marcelo Ribeiro, que falou para cerca de 700 pessoas sobre como tratar usuários de crack.
Segundo o especialista em dependência química, o uso de crack se expandiu bastante no Brasil, nos últimos 15 anos, e como este é um fenômeno novo ainda não há protocolos de atendimento bem estabelecidos.
mg_3365Um estudo sobre usuários de crack feito por Marcelo Ribeiro mostrou que uma parcela considerável daqueles que utilizaram alguma forma de cocaína na vida fechou critérios de dependência. “É uma substância que, cada vez mais, vem demandando e vai demandar mais dos nossos serviços e da nossa prática clínica”, afirmou.
Tratamento
O crack, segundo Marcelo Ribeiro, está presente atualmente em mais de 50 países. A droga acomete indivíduos com perfil psicossocial mais grave e provoca maior risco de dependência.
Entre os elementos fundamentais para a boa prática no tratamento de usuários de crack, o pesquisador afirmou que é preciso que haja um plano de tratamento estruturado, com intervenções psicossociais – não apenas tratamento psiquiátrico e farmacológico. Também é  necessário que haja um monitoramento, com teste de drogas, e gerenciamento do caso. Para o pesquisador, “o paciente de crack é um paciente na UTI no sentido de que ele precisa de um tratamento intensivo, multiprofissional e de evolução instável”.
Pesquisa
mg_3375Antes da sessão com Marcelo Ribeiro, o professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (INPAD) do CNPq e coordenador da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (UNIAD), Ronaldo Laranjeira, apresentou aos congressistas dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas: o uso de cocaína e crack no Brasil.
Foram entrevistadas 4607 pessoas, com 14 anos ou mais de idade, em 149 municípios, numa das mais representativas pesquisas sobre o assunto. O estudo aponta que quase 6 milhões de brasileiros já experimentaram alguma apresentação de cocaína na vida. No último ano, a prevalência de uso dessa droga atingiu mais de 2,8 milhões de pessoas, entre esses, 244 mil adolescentes.
O levantamento ainda mostra que aproximadamente 2 milhões de brasileiros já usou cocaína fumada (crack, merla e/ou oxi) pelo menos uma vez na vida. Outro dado extremamente preocupante, extraído dessa pesquisa, mostra que pelo menos um milhão de pessoas fumou crack no último ano.
A pesquisa aponta que 70% dos usuários de cocaína também usam maconha e que 41% dos usuários de maconha usam cocaína. Sobre a idade em que se começa a usar maconha e cocaína, o estudo mostra que 62% dos usuários de maconha começaram antes dos 18 anos, percentual que chega a 45% entre os usuários de cocaína.
mg_3380Segundo Ronaldo Laranjeira, o Brasil é o segundo maior mercado de cocaína do mundo, só perdendo para os Estados Unidos. Ele destacou que o país consome mais cocaína que toda a América do Sul junto.
Em relação à distribuição dos usuários de cocaína pelas regiões brasileiras, o pesquisador apontou que 46% dos usuários estão na região Sudeste. Na região Nordeste, estão 27% dos consumidores.

Sem começo ou meio


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RUY_CASTROFolha de São Paulo - Ruy Castro

RIO DE JANEIRO - Há décadas tenho privado com alcoólatras em vários estágios de dependência. Todos resistentes a tratamento. Um deles nem admitia o assunto, mesmo quando os vômitos matinais de sangue já tornavam sua situação desesperadora. A eventualidade de uma internação, com a interrupção do fornecimento de bebida, lhe era intolerável. A alternativa podia ser a morte, mas ele não parecia com medo. A dependência é mais forte do que o medo da morte.
Quando se trata de álcool, a dependência leva anos para se instalar, durante os quais o bebedor tem tempo para constituir família, aprender um ofício e afirmar-se profissionalmente --até que a progressão da doença acabe com tudo. Às vezes, uma última centelha de consciência o faz procurar ajuda. Se esta vier a tempo, e o processo destrutivo for interrompido e controlado, a pessoa, com esforço e sorte, pode retomar sua vida e tentar devolvê-la ao que era antes de a dependência ter se instalado.
Anteontem, vi pela TV os dependentes de crack da favela do Jacarezinho, no Rio, ocupada pelos militares, sendo levados pelos assistentes sociais. A maioria, inconformada, pedalava o ar com as poucas forças que lhe restavam --ninguém queria sair do lixão onde morava. No fim do dia, todos (exceto, por algum tempo, os menores) estavam de volta à cracolândia.
A ideia da internação compulsória para os dependentes de crack não deveria se confundir com as normas de internação para outros tipos de dependência. Ao fim e ao cabo, todas as dependências são iguais, mas a do crack não tem começo ou meio. Já começa pelo fim.
Não pode haver internação "consentida" de um dependente de crack, pelo simples fato de que esse dependente não tem mais o que consentir ou negar. Para ele, a morte não é nada diante da ideia de ficar sem o produto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Maconha emburrece…



Neto Ferreira

Mais uma pesquisa científica sobre a maconha, substância entorpecente sobre a qual uma comissão de intelectuais recomendou, recentemente, a legalização do comércio e consumo, inclusive com autorização do plantio da erva em residências, numa séria ameaça à família brasileira, comprova os males da dita substância, num alerta aos mais jovens. Ou seja, a maconha, dita recreacional pelos dependentes e defensores da causa, não é uma droga tão inocente quanto se imaginava.
De acordo com dados do Segundo Levantamento Nacional em Álcool e Drogas, elaborado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo, 7% da poulação brasileira já experimentou maconha pelo menos uma vez na vida. São cerca de 8 milhões de brasileiros. Um terço da população adulta que fuma maconha pode ser considerada dependente. Ainda segundo a pesquisa, 60% dos usuários começaram a usar a droga antes dos 18 anos. É para os mais jovens, portanto, que vai o mais recente alerta científico sobre os males da droga, conforme matéria publicada, nesta terça-feira (28/08/2012), num jornal de grande circulação no país.
Um estudo sobre o efeito do uso de drogas por longo prazo mostra que aqueles que começaram a utilizar maconha quando adolescentes podem chegar à meia-idade com uma deficiência de oito pontos no QI (quociente de inteligência) se comparado aos não usuários.
A pesquisadora Madeline Meier, da Universidade Duke, nos Estado Unidos, utilizou como base um estudo que acompanhou mil pessoas em Dunedin, Nova Zelândia, desde o nascimento até os 38 anos de idade. Os dados permitiram comparar os teste de QI feitos com os participantes na idade dos 13 — antes do uso de maconha — com os testes de QI quando adultos; em alguns casos, depois de anos de uso da droga.
O estudo mostrou que aqueles que desenvolveram uma dependência da droga apresentaram maior declínio de QI, perdendo seis pontos na média, independentemente do quão cedo o hábito começou. Dentro desse grupo, aqueles que começaram a usar a droga antes de seu aniversário de 18 anos apresentaram um declínio subsequente de 8 pontos em média no QI.
Além disso, amigos e parentes próximos dos usuários de maconha informaram que eles tiveram problemas cada vez mais frequentes de memória e de atenção. Segundo os pesquisadores, o dano não parece ser reversível depois de os usuários deixarem o hábito. Mas eles afirmam que quando o uso da maconha começa após o 18º aniversário, os danos são menores.
- Este estudo é o primeiro a oferecer evidências de que a maconha provoca, de fato, efeitos neurotóxicos em cérebros jovens — diz Meier.
Segundo o psiquiatra, especialista em dependência química, Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Álcool e Outras Drogas, a pesquisa só confirma o que na prática é notado pelos médicos:
- Há pelo menos dez anos já vínhamos percebendo esta perda cognitiva, principalmente nos jovens, porque neles não se deu o amadurecimento completo do cérebro.
O especialista explica que a maconha provoca a contração dos vasos sanguíneos e, portanto, diminui o aporte de sangue no cérebro. Com isso, reduz-se a chegada de oxigênio e de glicose, importantes substâncias para o desenvolvimento das células cerebrais. Isto afeta principalmente o lobo frontal, região relacionada ao pensamento abstrato e à memória. Jaber alerta que o comprometimento cerebral pode ser notado em cerca de 70% dos adolescentes que fazem uso contínuo da droga. Segundo o psiquiatra, a cannabis também pode provocar a diminuição do volume dos neurônios, assim como a sua destruição.
- A linguagem é a primeira a ser afetada. O uso frequente de gírias, tida como normal da idade, em alguns casos, já pode ser um sintoma. Depois, o usuário vai perdendo a motivação intelectual e os interesses alternativos, como no esporte e na cultura- alerta Jaber.

Maioria dos fumantes acredita ser 'imune' ao câncer de pulmão



IG

Pesquisas mostram que 90% dos pacientes tem ou tinha o hábito de fumar
As pesquisas científicas já escancaram que o câncer de pulmão é a doença que caminha de mãos dadas com o cigarro, já que 90% dos doentes têm o hábito de fumar.
Ainda assim, um novo levantamento mostra que um índice muito parecido de pessoas com este diagnóstico acreditava ser imune ao males do tabagismo, mesmo tendo o vício como companhia.
Um levantamento feito pela indústria farmacêutica Pfizer investigou a sensação de segurança de 166 pacientes com o diagnóstico de tumor maligno nos pulmões, todos fumantes. Entre eles, pouco mais do que oito em dez (83%) afirmou não acreditar na possibilidade de adoecer até entrar para a estatística de 27.320 novos casos de câncer de pulmão registrados todos os anos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
O principal motivo para a sensação de estar blindado contra o câncer, afirmaram os entrevistados, é que “sempre pensamos que uma doença como essa só vai acontecer com os outros”, resposta dada por 25% dos entrevistados. Além dela, 23% dos fumantes doentes questionados citaram “ser saudável” como justificativa para não considerar a possibilidade do adoecimento. Aparecem entre as desculpas também “o hábito de fazer esportes” (5%), “ter uma alimentação regrada” (3%) e “não ter nenhum caso na família” (9%).
Para os especialistas, a pesquisa só demonstra que a população conhece os malefícios ligados ao tabaco mas não mensura o potencial tóxico do cigarro. As substâncias químicas presentes nele são capazes de danificar o DNA em minutos e, por este motivo, mesmo quem não tem herança genética para o câncer acaba vulnerável à doença.
Outra análise, feita pelo hospital referência em oncologia, o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), também evidenciou a negligência dos fumantes com a possibilidade das doenças cancerígenas.
Mesmo após enfrentarem o câncer, seis em dez pacientes não abandonam o cigarro. Os médicos dizem que a taxa de 60% dos resistentes também revela a dificuldade em abandonar o hábito de risco, um dos vícios mais complicados para o tratamento, de acordo com os experts em dependência química.
A dificuldade em abandonar o vício é reconhecida pela ciência. Tanto que entre as novas linhas de pesquisas para encontrar terapêuticas mais eficazes para o câncer de pulmão, os laboratórios investem em testes que funcionem melhor em organismos de fumantes.

Metade dos dependentes químicos tem doenças psíquicas associadas



Pacientes apresentam doenças como depressão, bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo
Metade dos pacientes com dependência química tem doenças psíquicas associadas, aponta estudo da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Foram analisados perfis de 1,3 mil pacientes tratados nos últimos três anos na Unidade Estadual de Álcool e Drogas do Hospital Lacan, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Entre as mulheres, o percentual é ainda maior, 56% apresentaram doenças como depressão, bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo. Entre os homens o índice foi 50,1%.

De acordo com Sérgio Tamai, coordenador da área de saúde mental da secretaria, a pesquisa confirma estudos internacionais sobre o mesmo tema e aponta para a necessidade de desenvolver uma assistência especializada para esses pacientes. “Não é um perfil de população desprezível. É necessário um ambiente mais protegido e profissionais que tenham especialização em droga dependência, mas também têm que estar familiarizados com o atendimento de pacientes com esses outros transtornos psiquiátricos”, disse.

O coordenador destacou a necessidade de um ambiente adequado, tendo em vista que pacientes depressivos com associação ao uso de drogas, por exemplo, são mais propensos ao suicídio. “Um indivíduo, internado em um hospital geral, pode tentar se matar saltando pela janela, e não faz parte da rotina desses hospitais ter esse tipo de preocupação. É preciso ter pessoal especializado”, declarou.

Tamai destacou ainda a importância de cuidados específicos com pacientes esquizofrênicos. “Os estudos mostram que metade desses pacientes tem uma droga dependência associada. Nesse caso, a droga em si modifica o padrão da doença. O indivíduo esquizofrênico que não é violento pode se tornar [violento] a partir do uso de cocaína, por exemplo. É um dado que precisa ser levado em consideração também”, explicou.

As especificidades no tratamento de dependentes químicos com associação a doenças psíquicas ocorrem também no tempo de internação dos pacientes, informou o coordenador. “Essa população tem um tratamento um pouco mais complicado. Mais do que triplica o tempo necessário de internação”. Segundo Tamai, o indivíduo que tem droga dependência isoladamente demora de uma semana a dez dias internado. Os pacientes com doença psíquica associada ficam internados de cinco a seis semanas.

A relação entre a dependência química e as doenças psíquicas ocorre quando a pessoa consome entorpecentes ou álcool em excesso e desenvolve, posteriormente, transtornos mentais. “O indivíduo que tem um transtorno mental está mais vulnerável a uma droga dependência”, declarou. Ele usou, como exemplo, o caso de um indivíduo com transtorno de ansiedade que consome bebida alcoólica para relaxar. O uso, no entanto, piora o quadro de ansiedade e cria um círculo vicioso, fazendo com que seja ingerida uma quantidade cada vez maior. “É a gênese do quadro de dependência”, destacou.

Segundo ele, o contrário também ocorre, quando o uso de entorpecentes leva à doenças psíquicas. O coordenador cita estudos internacionais que relacionam o uso de maconha à esquizofrenia, por exemplo. “Usuários que utilizam pelo menos uma vez por semana, dobram a chance de ter a doença nos cinco anos subsequentes”, disse. Ele destacou que esse risco é ainda maior se a pessoa tem histórico familiar de esquizofrenia.

Pesquisa aponta que mulher fica mais viciada em cocaína que homem



Folha de São Paulo

A segunda parte da pesquisa "Levantamento Nacional de Álcool e Drogas", divulgada nesta quinta-feira, revelou que embora os homens sejam maioria entre os usuários de cocaína no país, as mulheres ficam mais dependentes e usam a droga com mais frequência.
Segundo a pesquisa, 6,8% dos homens já usaram cocaína aspirada uma vez na vida, contra 1,7% das mulheres.
Entretanto, 40% delas dizem usar a droga mais de duas vezes por semana ou todo dia, número que entre os homens é de 24%. Além disso, 54% das mulheres ficaram viciadas na droga, contra 46% dos homens.
A pesquisa, feita pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ouviu 4.607 pessoas com mais de 14 anos em 149 cidades do Brasil.
A psicóloga Clarice Madruga, coordenadora do trabalho, explicou que o organismo feminino aumenta a dependência da droga. Ela disse que estudos mostram que os hormônios femininos potencializam os efeitos da droga, o que causa maior dependência.
Outra razão para o vício feminino é que a variação hormonal causada pelo ciclo menstrual atrapalha as mulheres que tentam sair da dependência. "O corpo se adapta a uma configuração [quando a mulher interrompe o uso da droga], mas o ciclo menstrual muda e o corpo entende que deve mudar também. Isso confunde o organismo feminino", disse Madruga.
A pesquisa aponta ainda que as mulheres tem maior tendência a misturar cocaína com álcool do que os homens.
A primeira parte do levantamento, que tem a direção do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, revelou que o Brasil é o segundo país com maior número de consumidores de cocaína no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos.

Usuários de maconha sofrem abstinência semelhante à de ex-fumantes



R7
 
Ao deixar de usar a droga, consumidores sentem irritabilidade, alterações no humor e perda do apetite.
As pessoas que tentam parar de fumar maconha sentem os mesmos sintomas de abstinência que quando alguém para de fumar, de acordo com um estudo australiano.

Cientistas descobriram que quando os usuários regulares de maconha foram convidados a deixar o hábito por duas semanas, eles sofreram uma variedade de sintomas que afetam sua capacidade no trabalho e na vida pessoal.

Entre os sintomas estão a irritabilidade, dificuldades para dormir, alterações no humor e a perda do apetite. Já os mais graves, como a depressão, afetam usuários que são mais dependentes da droga, de acordo com o Daily Mail.

O estudo, feito com 49 consumidores em busca de tratamento, mostrou que alguns sintomas que aparecem durante a abstinência podem levar o usuário a uma recaída.

De acordo com a revista Plos One, os investigadores explicam que a retirada da maconha altera o funcionamento do corpo que está ligado às atividades diárias normais, levando o usuário a uma recaída.

Cientistas descobriram que 1 em cada 10 usuários de maconha passam por experiências desagradáveis, como confusões, alucinações, ansiedade e paranoia. O uso a longo prazo pode causar a perda da motivação e a depressão.

Outras pesquisas recentes mostram que a droga pode ser uma das principais causas de doenças psicóticas, como a esquizofrenia em pessoas que são geneticamente vulneráveis à doença.


sábado, 13 de outubro de 2012

Estudantes pobres nos EUA tentam melhorar notas com remédio para deficit de atenção


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Folha de São Paulo

Quando o médico Michael Anderson fica sabendo que seus pacientes de baixa renda estão enfrentando dificuldades na escola primária, geralmente lhes receita um medicamento forte: Adderall.
Os comprimidos aumentam a atenção e o controle de impulsos de crianças que apresentam transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Embora o TDAH seja o que Anderson diagnostica, ele descreve o transtorno como "inventado", dizendo que não passa de uma desculpa para receitar pílulas para tratar o que ele vê como sendo o verdadeiro mal das crianças: desempenho acadêmico fraco em escolas inadequadas.

"Não tenho muita escolha", disse Anderson, que é pediatra e atende muitas famílias pobres no condado de Cherokee, ao norte de Atlanta (EUA).
"Nós, como sociedade, decidimos que custa caro demais modificar o ambiente da criança. Logo, temos que modificar a criança."
Anderson é um dos proponentes mais francos de uma ideia que vem suscitando interesse entre alguns médicos. Eles estão prescrevendo estimulantes a alunos que enfrentam dificuldades em escolas às quais faltam recursos. Prescrevem os medicamentos não necessariamente para tratar um TDAH, mas para favorecer o desempenho acadêmico dos alunos.
Ainda não está claro se Anderson é representante de uma tendência crescente. Mas alguns especialistas observam que, enquanto estudantes ricos abusam de estimulantes para elevar suas notas já boas em faculdades e colégios, esses medicamentos vêm sendo usados com crianças do ensino básico, de famílias de baixa renda, que têm notas fracas e cujos pais estão ansiosos por vê-los ter aproveitamento escolar melhor.
"Nós, como sociedade, não nos dispomos a investir em intervenções não farmacêuticas muito boas para essas crianças e suas famílias", disse Ramesh Raghavan, pesquisador de serviços de saúde mental para crianças na Universidade de Washington e especialista no uso de medicamentos vendidos com receita médica entre crianças de baixa renda. "Concretamente, estamos forçando psiquiatras que atuam nas comunidades locais a usar a única ferramenta da qual dispõem: os medicamentos psicotrópicos."
A psiquiatra infantil Nancy Rappaport, de Cambridge, Massachusetts, que trabalha com crianças de renda mais baixa e suas escolas, acrescentou: "Estamos vendo isso cada vez mais. Estamos usando uma camisa de força química em vez de fazer coisas que são igualmente ou até mais importantes."
Anderson diz que seu instinto é de um "pensador de justiça social", alguém que quer "nivelar o campo um pouco". Ele diz que as crianças com problemas acadêmicos que ele atende estão, basicamente, em desarmonia com seu ambiente --são peças quadradas que não se encaixam nos furos redondos do ensino público. Como suas famílias raramente têm meios para pagar por terapias de base comportamental, como aulas particulares e atendimento psicológico à família, a medicação, segundo ele, torna-se o modo mais confiável e prático de redirecionar o aluno no sentido do sucesso.
"Não dou a medicação a alunos que estão tirando notas boas", ele explicou. Para alguns pais, o medicamento traz grande alívio. Jacqueline Williams disse que não consegue agradecer Anderson o suficiente por diagnosticar TDAH em seus filhos --Eric, 15 anos, Chekiara, 14, e Samhya, 11-- e prescrever Concerta, um estimulante de ação prolongada, a todos. Williams disse que cada um deles estava tendo dificuldade em ouvir as instruções dos professores e concentrar-se na lição de casa.
"Meus filhos não queriam tomar o remédio, mas falei a eles: 'Essas são suas notas quando vocês estão tomando, e essas são de quando não estão', e eles entenderam", ela contou, observando que o Medicaid cobre quase todos seus custos com o médico e os medicamentos.
Alguns especialistas não veem grande problema no fato de um médico responsável usar medicamentos contra TDAH para ajudar um estudante em dificuldades. Outros --mesmo alguns dos muitos, como Rappaport, que são a favor do uso de estimulantes no tratamento do TDAH clássico-- temem que os médicos estejam expondo as crianças a riscos físicos e psicológicos não justificados. Alguns efeitos colaterais relatados dos medicamentos já incluíram a supressão do crescimento, aumento da pressão sanguínea e, em casos raros, episódios psicóticos.
O transtorno, que se caracteriza por desatenção e impulsividade graves, é um diagnóstico psiquiátrico cada vez mais comum entre crianças e adolescentes americanos: em 2007, considerou-se que cerca de 9,5% dos americanos de 4 a 17 anos tinham o transtorno, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, ou 5,4 milhões de crianças e adolescentes.
A prevalência relatada do transtorno vem subindo constantemente há mais de uma década, com alguns médicos satisfeitos com seu reconhecimento amplo, enquanto outros receiam que o diagnóstico e os medicamentos para tratar o transtorno estejam sendo dados pouco criteriosamente, de modo que exclui terapias não medicamentosas.
O DEA (órgão dos EUA que fiscaliza medicamentos) classifica esses medicamentos como substâncias controladas de nível dois, porque são criadores de dependência. Segundo muitos especialistas, ainda não se conhecem bem os efeitos de longo prazo do uso dos medicamentos por períodos extensos. Alguns deles temem que as crianças possam se tornar dependentes dos remédios até a idade adulta, muito depois de quaisquer sintomas do TDAH terem se dissipado.
De acordo com diretrizes publicadas no ano passado pela Academia Americana de Pediatria, os médicos devem empregar uma de várias escalas de classificação comportamental, algumas das quais incluem dezenas de categorias, para se certificar de que a criança se enquadra apenas nos critérios do TDAH e não apresenta outra condição relacionada, como a dislexia ou o transtorno desafiador opositivo, em que raiva intensa é dirigida contra figuras de autoridade.
Mas um estudo publicado em 2010 no "Journal of Attention Disorders" sugeriu que pelo menos 20% dos médicos disseram não seguir esse protocolo quando fazem seus diagnósticos de TDAH, sendo que muitos seguem seus instintos pessoais.
Na estante da cozinha da família Rocafort, de Ball Ground, Geórgia, ao lado da manteiga de amendoim e dos cubos de caldo de galinha, há uma cesta metálica repleta de remédios das crianças prescritos por Anderson: Adderall para Alexis, de 12 anos, e Ethan, 9; Risperdal (um antipsicótico para a estabilização de estados de ânimo) para Quintn e Perry, ambos de 11 anos; e Clonidine (um sonífero para contrapor-se aos outros medicamentos) para as quatro crianças, que o tomam todas as noites.
Quintn começou a tomar Adderall para o TDAH cinco anos atrás, quando seu comportamento rebelde na escola suscitou telefonemas para sua casa e suspensões. Ele imediatamente se acalmou e tornou-se um aluno mais atento e sério --um pouco mais como Perry, que também tomava Adderall para o TDAH.
Mas no início do turbilhão químico da puberdade, quando Quintn tinha cerca de 10 anos de idade, ele começou a envolver-se em brigas na escola, dizendo que outras crianças estavam insultando sua mãe. O problema era que isso não estava acontecendo; Quintn estava vendo pessoas e ouvindo vozes inexistentes, um efeito colateral raro, mas conhecido, do Adderall. Depois de Quintn admitir ter pensamentos suicidas, Anderson prescreveu uma semana num hospital psiquiátrico local e a mudança de Adderall para Risperdal.
Quando contaram a história, os pais de Quintn o chamaram e pediram para ele descrever por que o Adderall tinha sido receitado.
"Para me ajudar a prestar atenção na escola, fazer minha lição de casa, ouvir mamãe e papai e não fazer o que eu fazia antes com meus professores, que os deixava bravos", falou o garoto. Ele descreveu a semana que passou no hospital e os efeitos do Risperdal: "Se eu não tomo meu remédio, fico tendo atitudes. Fico desrespeitando meus pais. Sem o remédio eu não estaria como estou agora."
Apesar da experiência de Quintn com o Adderall, os Rocafort decidiram usar o remédio com sua filha de 12 anos, Alexis, e seu filho de 9, Ethan. Eles não apresentam TDAH, disseram seus pais. O Adderall é apenas para ajudá-los a ter notas melhores e porque Alexis estava, nas palavras de seu pai, um pouco "nem aí com nada".
"Já vimos os dois lados do espectro: vimos o lado positivo e o lado negativo", comentou o pai, Rocky Rocafort. Reconhecendo que Alexis usa o Adderall por motivos "cosméticos", ele disse: "Se eles estão se sentindo positivos, felizes, estão socializando mais e isso os está ajudando, por que não usar?"
O pediatra e neurologista pediátrico William Graf, que atende muitas famílias pobres em New Haven, disse que uma família deve ter o direito de decidir se o Adderall pode beneficiar seu filho que não tenha TDAH e que um médico pode eticamente prescrever o medicamento de modo experimental, desde que os efeitos colaterais sejam monitorados atentamente. Mas ele disse temer que o uso crescente de estimulantes desse modo possa colocar em risco a "autenticidade do desenvolvimento".
"Essas crianças ainda estão na fase de desenvolvimento. Ainda não sabemos como essas drogas afetam biologicamente o cérebro em desenvolvimento", ele explicou. "Os pais, médicos e professores têm a obrigação de respeitar a questão da autenticidade, e não sei se isso está acontecendo sempre."
Anderson disse que todas as crianças para as quais já receitou medicamentos para TDAH se enquadraram nos critérios. Mas ele critica esses critérios, dizendo que foram codificados apenas "para fazer algo completamente subjetivo parecer objetivo". Ele acrescentou que os relatórios dos professores quase invariavelmente voltam citando comportamentos que justificariam um diagnóstico, decisão que descreveu como sendo mais econômica que médica.
"A escola disse que, se tivessem outras ideias, investiriam nelas, mas que as outras ideias custam dinheiro e recurso, comparadas com medicamentos", disse Anderson.
Vários educadores contatados para este artigo consideraram o tema do TDAH tão controverso que se negaram a comentar; disseram que às vezes é feito uso equivocado do diagnóstico, mas que, para muitas crianças, o transtorno gera uma deficiência grave de aprendizado. O superintendente de um grande distrito escolar na Califórnia, exigindo anonimato para falar, observou que os diagnósticos de TDAH vêm aumentando à medida que as verbas para o ensino vêm diminuindo.
"É assustador pensar que chegamos a isso, que a falta de verbas para o ensino público que possibilitem atender as necessidades de todas as crianças levou a isso", disse o superintendente, aludindo ao uso de estimulantes por crianças que não apresentam o TDAH clássico. "Isso pode estar acontecendo aqui mesmo. Talvez não tão conscientemente, mas pode ser consequência de um médico que vê uma criança sendo reprovada em salas de aula superlotadas com 42 outras crianças, e os pais frustrados perguntando o que podem fazer. O médico diz 'talvez seja TDAH, vamos experimentar com a medicação'."
Quando foi informado que o casal Rocafort afirma que seus dois filhos que estão tomando Adderall não têm TDAH e nunca tiveram, Anderson disse estar surpreso. Ele consultou as fichas das crianças e encontrou o questionário dos pais. Cada categoria que avalia a gravidade dos comportamentos associados ao TDAH tinha recebido escore cinco (o máximo), com a exceção de uma, com escore quatro.
"Esse é o motivo de minha angústia", disse Anderson. "A gente afixa um rótulo a uma coisa que não é binária --você a tem ou não. Não dizemos simplesmente que há um aluno que está tendo problemas na escola, problemas em casa e que provavelmente vai tentar um tratamento médico, prescrito pelo médico com a concordância dos pais."
"Podemos não conhecer os efeitos de longo prazo do remédio, mas conhecemos os custos no curto prazo do fracasso escolar, que são reais. Eu olho para a pessoa individual e como ela está agora. Sou médico do paciente, não da sociedade."

Câncer de pâncreas atinge dez anos mais cedo pessoas que bebem ou fumam excessivamente


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Revista Veja

Resultado de novo estudo pode ajudar os médicos a entenderem quando um rastreamento da doença deve começar a ser feito
O tabagismo e o alcoolismo são conhecidos como importantes fatores de risco para o câncer de pâncreas, tipo de câncer que é mais comum após os 50 anos de idade.
Agora, um estudo feito na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, mostra que os hábitos, não só elevam as chances do surgimento da doença, como fazem com que ela apareça mais cedo. A pesquisa foi descrita em um artigo publicado nesta semana no periódico The American Journal of Gastroenterology.
Após acompanharem 811 pacientes com câncer de pâncreas, os pesquisadores descobriram que os participantes que consumiam muita bebida alcoólica ou fumavam excessivamente foram diagnosticados, em média, aos 61 e 62 anos, respectivamente. Ou seja, dez anos antes em relação aos pacientes que não tinham nenhum dos dois hábitos.
O estudo determina que fumar muito equivale ao consumo de mais de um maço de cigarros por dia; e que beber excessivamente é o mesmo que consumir no mínimo três doses de qualquer bebida alcoólica por dia.
Segundo os autores do estudo, esses resultados podem ajudar os médicos a compreender qual é a melhor idade para que uma triagem da doença comece a ser feita quando programas de rastreamento estiverem disponíveis. Michelle Anderson, coordenadora da pesquisa, explica que detectar o câncer de pâncreas logo no inicio é algo difícil, mas que contribui com as taxas de sobrevida da condição, que atualmente é muito baixa, cinco anos após o diagnóstico da doença, apenas 6% dos pacientes continuam vivos.

Saiba mais

CÂNCER DE PÂNCREAS
Esse tipo de câncer é mais comum após os 50 anos de idade, e é quase duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres - e de duas a três vezes mais frequente entre fumantes. Entre os sintomas do câncer de pâncreas estão, de maneira mais comum, a icterícia (olhos e pele ficam amarelados), que pode levar à coceira pelo corpo e a casos de infecções; vômitos; perda de peso sem causa aparente; falta de apetite; dores de cabeça; sudorese; mal-estar; e uma dor abdominal que pode ser irradiada para as costas. Segundo o Inca, no Brasil, o câncer é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer diagnosticados e por 4% do total de mortes por câncer

Álcool, uma droga democrática

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Jornal Diário de S. Paulo

 Ontem foi o Lobby das Indústrias de cigarros que tinham um grande poder – hoje é o das indústrias de bebidas alcoólicas. Estão fazendo exatamente a mesma coisa, afinal muitos são os interessados.
Fumar faz mal? Sim, evidente! Para o tabagista.
Hoje, consumir o álcool, estando em uma roda de amigos e lindas mulheres, é sinônimo de ter uma saudável vida social. Isso é o que esse mesmo Governo e Lobistas transmitem e conseguem alimentar na grande maioria da população.
Quando as conseqüências desastrosas do vício de beber, seja diretamente através do alcoolismo ou mesmo violência no trânsito pesar nos cofres da União, lotar ainda mais hospitais e causar mais caos no ineficiente Sistema de Saúde, esse mesmo Governo irá fazer sérias restrições à bebida, mas alegando que se preocupa com a saúde de seu povo. E iremos acreditar. Demagogias e falta de respeito com o cidadão.
E pior: a maioria da população só se conscientiza do problema quando a bebida bate a porta de sua casa, destruindo a família.
Tanto o álcool quanto a droga são devastadores, que atingem não só quem a usa, mas também as pessoas que estão ao redor do usuário e que se preocupam com ele.
Outro exemplo de incoerência: Por ser um jogo de interesses que envolvem muito dinheiro, estão associadas a eventos esportivos, como a Copa do Mundo em 2014.
Esporte e álcool? Onde está a coerência disso tudo?

Eduardo Andreassi Jornalista/Fotojornalista/Fotógrafo

A danada pinga – dependência é prazer ou compulsão?


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Jornal O Estado de S. Paulo - Danilel Martins de Barros

Quem conversa com dependentes químicos frequentemente ouve a seguinte explicação para sua incapacidade de conter o impulso de usar a droga: “É um demônio que toma conta de mim, parece que eu não sou eu. Isso é coisa do capeta”.
Se desde os primórdios da história os homens põe a culpa pelas suas bobagens no além – a Ilíada registra que Agamenon sequestra a amante de Aquiles e depois diz que o fez por ter sido possuído por espíritos, isso ocorre porque há situações em que se experimenta uma verdadeira perda de controle. O nível de desconexão entre as intenções e os atos se torna tão intenso que tem-se a sensação de que alguma força externa está no comando.
O caso das drogas é característico. Inicialmente usadas por trazerem sensações de prazer, progressivamente esse bem estar se perde, e em mais ou menos tempo a pessoa se vê compelida a usar a droga não mas para se sentir bem, mas apenas para deixar de se sentir mal. Mais curioso ainda é o caso de alguns psicotrópicos sintéticos que não dão prazer algum, mas levam os sujeitos a  repetir seu uso de forma contínua, tornando-se dependentes.
O querer e o gostar, tem-se descoberto, são coisas diferentes, não só do ponto de vista psicológico, mas em suas próprias raízes cerebrais. Há muito se sabe que o neurotransmissor dopamina é liberado em atividades prazerosas, levando as pessoas a repetirem-nas alimentação, sexo e até mesmo solução de problemas trazem um sensação boa, e tendem a ser repetidas. Nem é necessário explicar que o ganho evolutivo por trás disso é evidente, pois nossos antepassados que gostavam mais de comer, de se reproduzir e de resolver os desafios da sobrevivência deixaram mais descendentes. Mais recentemente, contudo, cientistas vêm mostrando que a dopamina não marca o prazer em si, mas a importância daquele comportamento, levando a pessoa a repeti-lo. Por isso, drogas que levam à liberação artificial da dopamina geram a compulsão por seu uso – independente da sensação que produzam. Inversamente, experimentos com ratos revelaram que mesmo com bloqueio artificial da ação da dopamina eles conseguem ter prazer em substâncias (como os cientistas sabem que eles gostaram do que provaram? Contando o número de vezes que eles lambiam os beiços, um marcador de prazer que está presente até mesmo em nós, humanos).
Essa compulsão sem prazer, desmascarada agora pelos cientistas, já fora descrita por C. S. Lewis, coincidentemente (ou não) no livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, no qual narra as lições de um demônio experiente a seu jovem sobrinho. Numa das referências que faz ao prazer, o velho diabo ensina que a forma de atazanar os humanos é gerar “Um aumento considerável no desejo pela obtenção cada vez menor do prazer relacionado é a fórmula! Isto dá mais resultado, e é portanto o melhor estilo a adotarmos. Conseguir a alma do homem dando a ele NADA em troca é o que realmente aquece o coração de Nosso Pai Lá de Baixo”.
A neurociência vem mostrar que o desespero dos dependentes químicos pode até não ser “coisa do demo”. Mas ouvindo o relato deles e lendo essa descrição do C. S. Lewis, temos de convir que a armadilha da dependência parece, por assim dizer, diabólica.

O Brasil no pódio das drogas ilícitas

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Ribeirão Preto Online

A realidade brasileira, no que tange ao consumo de drogas ilícitas, é muito, muito preocupante, uma vez que, ao contrário do que ocorre no mundo, cresce assustadoramente o número de usuários. Somos, hoje, o primeiro maior consumidor de crack e o segundo em cocaína do Planeta.
Cumpre esclarecer, de início, que a cocaína se constitui num estimulante do sistema nervoso central, extraída das folhas da planta Erythroxylon coca1, que pode ser consumida sob a forma de cloridrato de cocaína - um sal hidrossolúvel - de uso aspirado ou injetado. Há, ainda, as apresentações alcalinas, voláteis a baixas temperaturas, que podem ser fumadas em “cachimbos”. É o caso do crack, da merla e da pasta básica da cocaína.
O crack, por sua vez, é tido como uma forma potente de uso da cocaína, por inalação do vapor expedido com a queima de pedras, manufaturadas a partir do cozimento da pasta de cocaína combinada com bicarbonato de sódio que, ao ser queimado, produz um ruído em forma de estado, daí derivando seu nome.
De acordo com apurações realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), constatou-se essa triste realidade de que o Brasil detém no mercado mundial - o primeiro lugar no consumo de crack e a segunda posição no consumo de cocaína. Os dados foram levantados por um grupo de estudos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e informados no mês de setembro de 2012. Foram ouvidos aproximadamente 4,6 mil pessoas com faixa etária superior a 14 anos em 149 municípios do país.
Conforme aponta o relatório, 4% da população adulta brasileira, correspondendo a seis milhões de pessoas, já experimentaram cocaína alguma vez na vida. Entre os adolescentes, jovens de 14 a 18 anos, 44 mil admitiram já ter feito uso da droga, o equivalente a 3% desse público.
Ainda consoante a esse estudo, 27% dos usuários dos dois tipos de cocaína (em pó - de uso nasal, e em pedra – fumada) consumiram a droga todos os dias ou, ao menos, duas vezes por semana, no ano passado. Quase metade (48%) foi identificada como dependente químico, mas apenas 30% deles disseram ter a intenção de interromper o uso.
Outro ponto preocupante abordado no relatório foi a idade de iniciação, o qual aponta que quase a metade (45%) experimentou cocaína antes dos 18 anos de idade. Além da iniciação precoce, o acesso à droga também é facilitado, pois 78% deles consideraram fácil encontrar o produto.
A pesquisa também comparou o consumo de cocaína nas regiões brasileiras em 2011. No Sudeste está concentrado o maior número de usuário de drogas, 46% deles. No Nordeste estão 27%, no Norte 10%, no Centro Oeste 10% e, no Sul, 7%.
No que tange ao crack, tida como droga de pobres, porque custa pouco, ele vem sendo consumido, cada vez mais, por pessoas da classe média. A constatação é do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), entidade ligada à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Droga de altíssimo poder destrutivo, ocasiona danos graves aos usuários.
Esse elevadíssimo consumo de drogas está retratado no cristalino avanço da violência e da criminalidade no país, objeto de muitos estudos e enfrentamentos por meio de políticas públicas, preventivas e repressivas, do que são exemplos as operações especiais voltadas a desordenar a rede de narcotráfico e àquelas de enfrentamento do tráfico do crack em áreas de maior vulnerabilidade. A evidência, os assustadores números retratados na recente pesquisa demonstram a necessidade de maior dedicação ao tema.

Lizete Andreis Sebben