sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Alcoolismo em Transtorno Bipolar




A alta prevalência de uso de substâncias psicoativas em pacientes com transtornos psiquiátricas tem recebido atenção cada vez maior por parte dos pesquisadores. Transtorno Bipolar e Alcoolismo são doenças familiares com fatores genéticos implicados na sua etiologia. A relação genético-familiar entre ambas é controversa e tem sido estudado de forma insuficiente. Nos últimos anos, inúmeros pesquisadores tem demonstrado interesse crescente e destacado a relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, num espectro muito mais amplo que uma simples comorbidade entre duas patologias psiquiátricas de importância no contexto social.

O Alcoolismo tem se mostrado mais comum na população de pacientes com Transtorno de Humor Bipolar (THB) do que na população em geral. Estudos genéticos em famílias desses pacientes podem identificar causas de excesso de comorbidade entre as duas patologias. O termo comorbidade neste trabalho relaciona-se ao cálculo feito para avaliar-se a chance de duas patologias ocorrerem ao mesmo tempo em um mesmo indivíduo a partir das prevalências em separado. Sendo assim, o chamado excesso de comorbidade caracteriza uma associação (concomitância) de prevalências mais freqüentes do que a esperada em separado, destacando neste trabalho a associação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo.

Recentes estudos epidemiológicos tem mostrado convincentemente que os diagnósticos de Transtorno Bipolar e Alcoolismo ocorrem mais freqüentemente juntos do que o esperado pela chance. Por exemplo, o ECA, Epidemiological Catchment Area Study (Regier et al 90), relatou em estudo multicêntrico uma taxa alta de comorbidade entre Transtorno Bipolar e Alcoolismo com Odds ratio de 6.2, destacando que o THB é a patologia de Eixo I mais associada com Alcoolismo. As razões para esta alta prevalência de comorbidade permanecem obscuras. Maier (1996) em seu trabalho, mostra prevalência de 8,3% para Dependência ao Álcool. Entre os pacientes com Transtorno de Humor Bipolar, 40,6% (Odds Ratio 5.6) apresentaram Abuso ou Dependência ao Álcool. A análise das características da co-ocorrência e co-transmissão do Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo em famílias pode prover dados para o entendimento da alta comorbidade entre estas duas patologias na população geral, mostrando que estas representam a comorbidade mais prevalente entre os diagnósticos psiquiátricos de eixo I (CID-10 e DSM-IV).

"Compartilhar fatores de risco familiar" inclui alta prevalência de Alcoolismo em familiares de pacientes bipolares "puros", além da presença concomitante de Transtorno Bipolar e Alcoolismo em familiares de pacientes com ambas as patologias. Seu pior curso e prognóstico em relação aos diagnósticos em separado parece estar relacionado `a identificação unicamente do diagnóstico primário, deixando de atender o diagnóstico secundário, que se não prevenido e tratado adequadamente, desenvolve novo ciclo da doença (Ex: Episódio maníaco desencadeando aumento da ingesta alcoólica).

Winokur et al (1967), num estudo pequeno, sem grupo-controle encontraram maior prevalência de Alcoolismo em familiares de primeiro grau de pacientes com transtorno de Humor Bipolar, especialmente nos casos de início precoce da doença afetiva. O trabalho de Strakowski (1992) avaliou outros diagnósticos psiquiátricos em quarenta e um pacientes hospitalizados pela primeira vez devido a episódio maníaco, e encontrou 24,4% dos pacientes internados no primeiro episódio por mania com diagnóstico de abuso ou dependência ao álcool, sendo esta a maior comorbidade psiquiátrica encontrada neste estudo.

Weiss (1987) hipotetiza que pacientes bipolares usam substâncias psicoativas com o intuito de auto-medicação de seus sintomas de humor e que o abuso e dependência ao álcool pode precipitar ou perpetuar episódios de humor.

Brady (1992), relacionando o curso da doença em pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo com outros somente apresentando Transtorno Bipolar verificou um pior curso, com sintomas mais proeminentes nos pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo, demonstrando a influência negativa do abuso de substâncias psicoativas, neste caso o álcool, no curso e prognóstico do Transtorno Bipolar. Também mostrou que pacientes que apresentam concomitantemente o Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, apresentam melhor resposta terapêutica ao uso de anticonvulsivantes em relação ao Lítio, provavelmente relacionado ao efeito GABAérgico. Este fato levanta a hipótese de que o álcool, por meio deste mesmo efeito GABAérgico apenas inicial, venha sendo usado para fins "terapêuticos" em pacientes Bipolares, com resultados posteriores desastrosos no tocante ao prognóstico. Este trabalho sugere a existência de uma forma independente de transmissão entre o Transtorno Bipolar e o Alcoolismo. Reich (1974) mostrou que 31% dos pacientes identificados com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo bebiam excessivamente, em maior quantidade na mania, para acalmarem-se. Uma maior prevalência de Alcoolismo em pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e seus familiares e vice-versa pode corroborar a possibilidade de um envolvimento genético comum entre estas duas patologias, com potencial futuro para identificação de um diagnóstico único (por EX: Agorafobia com ou sem Pânico).

Winokur et al (1993) coloca que a taxa de Alcoolismo em pacientes com Transtorno de Humor Bipolar pode estar relacionada ao aumento da ingesta alcoólica em pacientes durante os episódios maníacos, que o Alcoolismo pode ser um fator predisponente a Mania ou que Alcoolismo e Mania são expressões iguais de um mesmo fator genético.

Winokur et al (1995) em estudo prospectivo de 5 anos, amplo, criterioso e multidirecional com mais de 200 bipolares com e sem alcoolismo (2 grupos) e seus familiares concluiu que a relação familiar entre Transtorno Bipolar e Alcoolismo é mais forte que entre Depressão Maior e Alcoolismo, não explicado pela simples prevalência destas patologias. O trabalho conclui demonstrando uma pequena correlação entre componentes familiares de pacientes Bipolares e Alcoolistas. Os familiares de pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo concomitantemente (BIPALCO) apresentaram maior prevalência de Transtorno de Humor Bipolar comparados com Bipolares "puro", Alcoolistas e grupo controle. Os autores expressam que BIPALCO seria uma entidade nosológica `a parte e não a presença de duas patologias separadamente, como simples comorbidade. Os autores referem que durante um episódio maníaco há aumento do consumo de álcool em 40% dos casos. Reiteram como possíveis bases etiológicas para a excessiva comorbidade entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo as seguintes hipóteses:

Que o problema primário, segundo cronologia de início anterior (poucos casos segundo gravidade) é o Transtorno de Humor Bipolar e que o Alcoolismo seria secundário, hipótese esta sugerida pelos autores.

Que o Transtorno de Humor Bipolar e o Alcoolismo sejam apenas uma real comorbidade, uma mera coincidência. Consideram improvável, pois a associação tem mostrado muito maior freqüência que a possibilidade de chances em separado. Além disso consideram que o Alcoolismo a nível de sistema nervoso central pode induzir Mania não como causa única, mas multifatorial, incluindo dano cerebral. Consideram o Transtorno de Humor Bipolar transmitido com uma base genética poligênica e que os fatores genéticos envolvidos no Alcoolismo são compartilhados e predispõem ao aparecimento do THB. Encontraram em relação aos pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, que seus familiares de primeiro grau com Transtorno Bipolar apresentaram maior taxa de Alcoolismo que parentes de Bipolares sem Alcoolismo, enfatizando a base etiológica poligênica.Concluem a partir da observação, que o Alcoolismo secundário em pacientes bipolares é mais propenso a remitir que Alcoolismo primário e vice-versa, enfatizando a relação primário-secundário relacionado a remissão de sintomas e conseqüente prognóstico. Esta idéia é corroborada neste artigo pelo achado de um menor número de episódios de humor em pacientes com Alcoolismo primário comparado com THB como patologia primária. Torna-se de suma importância diferenciar, embora algumas vezes difícil, entre quadro primário de Transtorno de Humor Bipolar e secundário de Alcoolismo ou vice-versa. Isto justifica-se pelo fato do Transtorno de Humor Bipolar ser importante fator de risco para dependência química, poder modificar o curso do Alcoolismo, além de seus sintomas poderem emergir da intoxicação.

Outros autores sugerem em trabalho controlado com metodologia bem delineada que o Alcoolismo familiar pode contribuir para a vulnerabilidade ao Transtorno Bipolar e que existe hereditariedade compartilhada entre as duas patologias através de maior taxa de Alcoolismo em familiares do grupo de pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo (BIPALCO) comparado ao grupo somente com Transtorno Bipolar e grupo controle (Winokur, Akiskal et al 1996).

Brady et al (1995) concluiram que o Transtorno de Humor Bipolar associado ao Alcoolismo apresenta início mais precoce e pior curso comparado ao Transtorno Bipolar sem Alcoolismo, além de apresentar-se mais freqüentemente com humor irritável e disfórico, maior tendência a quadros mistos e ciclagem rápida, bem como maior número de internações. Todos estes aspectos presentes predizem má evolução prospectiva do quadro. Enfatizam que a relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo não baseia-se simplesmente em causa e efeito, é bidirecional e complexa. Coloca a necessidade de abstinência ao álcool para real identificação e confirmação de quadro de humor primário, já que a redução dos sintomas depressivos devido ao álcool ocorre somente 2 a 4 semanas após interromper o uso do álcool e para os sintomas maníacos, em média de 2 a 3 dias.

A identificação de fatores familiares relacionados a estas duas patologias de extrema importância em saúde pública torna-se fundamental em nível de prevenção e tratamento, principalmente porque a alta freqüência de aparecimento concomitante destes dois transtornos reforça a necessidade de um programa integrado de prevenção e tratamento em conjunto quando identificados de tal forma.
Autores


Rodrigo Machado Vieira*
* Supervisor do Serviço de Psiquiatria-Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

EUA: empresas tabagistas devem admitir que enganaram o público

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    Uma juíza federal dos Estados Unidos ordenou nessa terça-feira que companhias de tabaco publiquem declarações corretivas admitindo que mentiram sobre os perigos de fumar e sobre seus efeitos na saúde, incluindo o fato de que o ato provoca a morte, em média, de 1,2 mil americanos por dia.

    Gladys Kessler dissera anteriormente que ela queria que a indústria pagasse pelas declarações em várias formas de propaganda. A decisão dessa terça, no entanto, indicou o conteúdo dos textos. Cada anúncio será introduzido por uma declaração de que uma corte federal concluiu que companhias de tabaco "deliberadamente enganaram o público americano sobre os efeitos do fumo na saúde".

    Entre as afirmações que as empresas serão obrigadas a veicular, estão a de que o número de mortes provocadas pelo fumo é maior que o causado por homicídios, suicídios, drogas, acidentes de trânsito, aids e álcool combinados, e que o fumo passivo mata mais de 3 mil americanos por ano.

    As afirmações serão divididas em cinco categorias. Entre as declarações, há que "as empresas de tabaco intencionalmente projetaram os cigarros para serem mais viciantes"; "quando você fuma, a nicotina altera o cérebro - por isso que é tão difícil parar"; entre outras.

    Em sua declaração, Kessler escreveu que todas as declarações corretivas são baseadas em conclusões apuradas pelo tribunal."Esta corte fez uma série de descobertas de que as empresas de tabaco perpetuaram fraude e enganaram o público no que se refere ao vício de cigarros e nicotina", disse a magistrada.

    Um porta-voz da Altria Group Inc., proprietária da maior companhia de tabaco dos Estados Unidos, a Philip Morris USA, afirmou que a empresa estava estudando a decisão da corte, mas não fez maiores comentários. Um representante da R.J. Reynolds Tobacco Co. declarou que a firma estava revendo a decisão e avaliando seus próximos passos, medida adotada por outras corporações do gênero.

    Ainda de acordo com a decisão, as companhias de tabaco e o Departamento de Justiça devem se reunir no início de dezembro para discutir como essas declarações corretivas serão implementadas, incluindo se elas serão inseridas em maços de cigarro e em propagandas na internet, TV e jornais. Essas discussões deverão ser concluídas até março de 2013.
     
  • Fonte: Terra notícias

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nação Rivotril

O Brasil é o maior consumidor de Rivotril do mundo. Saiba como um calmante tarja preta tem sido usado para aplacar os sentimentos ruins de jovens, trabalhadores e donas de casa

por Bruno Versolato
Todo mundo tem um refúgio a que costuma recorrer para aliviar o peso dos problemas. Pode ser um lugar tranquilo, talvez a praia. O pensamento em uma pessoa querida. Uma extravagância, como compras ou aquele prato proibido pelo médico.

Ou pode ser o armarinho de remédios de casa.
 

Na farmácia não se encontra produto descrito como "paz em drágeas" ou "xarope de paz". Mas muita gente acha que é isso o que deveria dizer o rótulo do Rivotril, um ansiolítico (ou, popularmente, um calmante). Rivotril é prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno.

Tanto que o Brasil é o maior consumidor do mundo em volume de clonazepam, o princípio ativo do remédio. Serão 2,1 toneladas em 2010, o que coloca o Rivotril no topo das paradas farmacêuticas daqui. É o 2º remédio mais vendido no país, à frente de nomes como Hipoglós e Buscopan Composto - em 2004, era o 4º da lista. Só perde agora para o Microvlar, anticoncepcional com consumo atrelado à distribuição pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS).

E olhe que o Rivotril é um remédio tarja preta. Só pode ser comprado na farmácia com a receita do médico em mãos. "A maior parte das vendas desse medicamento acontece via prescrição. Mas muitos conseguem o remédio com receita em nome de outros pacientes ou até pela internet", afirma Elisardo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp. Em alguns casos, até há a prescrição - mas de um médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem fortes crises de TPM", diz. Até porque poucos brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório responsável pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros tem dificuldade de acesso a psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição do Rivotril por médicos não especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.

Foi assim, por via não ortodoxa, que a popularidade do Rivotril cresceu. Não é difícil ouvir donas de casa recomendando o remédio a uma amiga que tem tido problemas para dormir. "Quem nunca ouviu que uma tia ou uma vizinha toma Rivotril há 20 anos e só dorme com isso?", pergunta o professor de psiquiatria do curso de medicina da PUC de São Paulo, Carlos Hubner. Ou achar relatos do tipo "Rivotril é meu melhor amigo" no Orkut e no Facebook. Nessas histórias, o Rivotril aparece sempre como um freio para sentimentos como medo, rejeição, angústia, tristeza e ansiedade. "Houve Big Brother em que eu estava com muita ansiedade e usava Rivotril para entrar no ar", disse Pedro Bial em entrevista à revista Playboy. O remédio tem sido usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o psiquiatra André Gustavo Silva Costa, especialista em tratamento de dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas como cocaína. Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia seguinte", diz.

O que é que o Rivotril tem?
Mas que mágica é essa? Quando somos pressionados, algumas áreas do cérebro passam a trabalhar mais. Vem a ansiedade. O Rivotril age estimulando justamente os mecanismos que equilibram esse estado de tensão - inibindo o que estava funcionando demais. A pessoa passa a responder menos aos estímulos externos. Fica tranquila. Ainda que o bicho esteja pegando no trabalho, o casamento indo de mal a pior e as contas se acumulando na porta. É essa sensação de paz que atrai tanta gente. Afinal, a ansiedade traz muito incômodo: suor, calafrios, insônia, taquicardia... "Muitas vezes o sofrimento se torna insuportável. O remédio é valioso quando o paciente piora", diz Silva Costa. Para a carioca Bruna Paixão, de 32 anos, funcionou. "Um dia tomei uma bronca do meu chefe e fiquei péssima. Só pensava nisso. Aí resolvi tomar Rivotril para dormir. Tinha uma caixa em casa, dada por um amigo médico. Assisti um pouco de TV, conversei com um amigo no telefone e fui ficando bem", diz.

Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não é recomendado a qualquer um. Seu consumo por profissionais que têm de se manter ágeis e em estado de alerta - como pilotos de avião e operadores de máquinas, por exemplo - é desaconselhado por médicos. "O Rivotril dá a falsa impressão de que a pessoa produz mais, mas a verdade é que o remédio só deixa mais calmo", diz José Carlos Galduroz, psiquiatra da Unifesp.

Não é só com o Rivotril que isso acontece. Os calmantes da família dele - os chamados benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São remédios como Lexotan, Diazepam e Lorax. Em parte, o Rivotril ficou famoso ao pegar carona na onda dos "benzo". Eles surgiram na década de 1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é muito tênue. A mais famosa vítima dos excessos de barbitúricos foi Marylin Monroe (embora haja dúvidas sobre o envenenamento acidental da atriz). Quando surgiram os benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à ansiedade. "Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível", diz Saadeh, da USP.

É verdade, o Rivotril tem berço, vem de uma família benquista pelos médicos. Isso já garante uma popularidade. Mas ele tem uma vantagem extra em relação aos parentes. Seu tempo de ação é de, em média, 18 horas no organismo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída do corpo. É o que os médicos chamam de meia-vida. "A meia-vida do Rivotril é uma das mais confortáveis para o paciente, porque fica no meio-termo em relação aos outros remédios para a ansiedade e facilita a adaptação", diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o desejado.

No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29.
Tudo isso faz o pessoal se esquecer da tarja preta do remédio. Mas ela está lá por um motivo, é claro. E esse motivo é o risco de dependência.
O risco é o mesmo visto em outros benzodiazepínicos. São dois, aliás. O de dependência química e o de dependência psicológica. Na química, o processo é parecido com o gerado por drogas como álcool e cocaína. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para funcionar corretamente. A outra dependência é a psicológica. A pessoa até para de tomar o remédio, mas mantém uma caixa sempre no bolso como precaução. "Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a maioria tem sídrome de abstinência se o remédio for tirado de uma hora para outra."
Em casos mais graves, a abstinência pode levar o paciente a uma internação. A pessoa pode ver, ouvir e sentir coisas que não existem, apresentar delírios (como ser perseguida por extraterrestres), agitação, depressão, apatia, entre outros sintomas. E para cortar a dependência? "O paciente precisa querer parar. Há drogas que tratam os sintomas da abstinência em no máximo 4 semanas", afirma Carlo Hubner, da PUC. Livrar-se do Rivotril é duro porque é preciso enfrentar todos os fantasmas de que o paciente queria se livrar quando buscou o remédio. Afinal, o remédio só esconde os problemas. Eles continuarão lá, à espera de solução. O verdadeiro adeus é o momento em que se aprende a lidar com a ansiedade. Sozinho. Ou talvez com uma passadinha rápida na praia. Pensando no namorado. Ou com a ajuda daquela lasanha (bem gorda).



Para saber mais

Goodman & Gilman
Laurence Brunton, John Lazo, Keith Parker, Artmed, 2010.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O papel da família na internação


Entrevista com Dra. Yolanda Vaz Allan


Qual o principal objetivo com a família durante a internação de um dependente químico?
O momento da internação de um dependente químico, quase sempre, traz não só à própria pessoa, mas, em especial à família, sentimentos de insegurança, medo e incerteza que geram muitos conflitos.Geralmente, este momento foi precedido por diversas tentativas com o intuito de evitar uma internação.  Provavelmente, houve a intenção e a expectativa de acertar, mas, sem sucesso!  Inicia-se então, intensa e cansativa busca de um tratamento adequado.  Nesta fase a família já encontra-se, quase sempre, exaurida, desestruturada, sem esperanças, adoecida! Assim sendo, no período de internação do D.Q. deve-se ter como principal objetivo, a conscientização da família sobre a gravidade da doença da adicção, a dificuldade de vivenciar experiências tão destruidoras sozinhos,  e, paralelamente,  alertá-la sobre a importância da busca de estruturas adequadas, tais como: profissionais especializados, grupos de apoio (AA, NA, Amor Exigente) etc,  que a oriente e  contribua no sentido de habilitá-la para conviver adequadamente com este mal.  Caso contrário, só se agravará o caos e a disfuncionalidade estabelecida nesta família.

O que eles podem e devem fazer para ajudar?
A família tem um papel extremamente importante na recuperação do dependente químico. Ela não só pode, mas deve ajudar seu ente querido na busca da libertação de tão grande mal. Entretanto, muitas vezes, o caos que se instala na família e a fragilidade emocional à qual acaba submetida, quase sempre a impede de exercer  adequadamente seus papéis. A família  pode ser a "escada de ascensão" no processo de recuperação e posterior manutenção na medida em que o ajuda a resgatar valores, princípios e  auto-estima, mas, ao atuar como facilitadora e com atitudes inadequadas,  poderá ser o "gatilho" disparador, que o levará à recaída de comportamentos, à irresponsabilidade e, certamente, ao uso de substâncias.  A constatação dessa dura realidade, ou seja, o deixar-se vencer pela doença,  o levará a sentimentos de menor-valia, desânimo, frustração e descrença na própria capacidade de recuperação. 

O que não devem fazer?
Muitas podem ser as causas que dão origem ao desenvolvimento da doença da adicção. O meio sócio-cultural-ambiental, a herança genética,  a educação transmitida, desde a mais tenra idade, com relação a valores e princípios, as  disfuncionalidades familiares, entre outras, podem  contribuir para este processo.Independente da causa, a familia não deve envergonhar-se , isolar-se, fazer julgamentos e condenações, apegar-se aos ressentimentos e muito menos "fazer de conta" que o problema não existe.  Estes comportamentos só farão com que se afaste da realidade dos fatos, dificultando e retardando a busca adequada de soluções para enfrentar a doença. É de vital  importância que a família não só  entenda, mas que  transmita a outros que a dependência química é uma grave doença e que apesar  de ser incurável, progressiva e fatal, como muitas outras, quanto maior e mais rápida for a busca do conhecimento para um melhor tratamento e  acompanhamento, maiores serão as chances de recuperação e da manutenção de uma boa qualidade de vida. Todos necessitam de cuidados! Neste caso, a família em especial precisa se fortalecer e se reequilibrar .

Como devem se preparar para a volta do dependente químico para a casa após a internação?
O dependente químico tem que ter na família sua rede de apoio. Que ela seja seu porto seguro, cuidadora no sentido de orientar e dar limites, sinalizadora dos comportamentos de recaída na medida em que o dependente químico deixa de cumprir tudo aquilo que é sugerido. É esperado neste momento do retorno definitivo à sociedade, tanto da parte do adicto, quanto da família, que surjam receios, dúvidas, inseguranças, desconfianças, ressentimentos, questionamentos. Estarão todos (familiares e adicto em recuperação) aptos e dispostos ao cumprimento da parte que lhes cabe, sobre os compromissos assumidos, no que diz respeito à manutenção da recuperação? Para tal, é necessário que a família tenha pleno conhecimento de como agir assertivamente com aquele que se encontra em processo de recuperação. Quando se fala em assertividade, entenda-se como ser  solidário, estar disponível  para ajudá-lo na busca ou manutenção da recuperação, porém nunca trazer para si (família), individual ou coletivamente, este fardo. Cabe ao dependente químico fazer a parte que lhe cabe, assumindo suas escolhas e responsabilizando-se pelos seus atos. Só assim estará em pleno processo de recuperação. Assim sendo, a atuação da família é sempre de vital importância no sentido de ajudá-lo a resignificar a vida, da maneira mais ampla possível, ou seja, mostrar-lhe que viver plenamente, de forma digna, saudável e prazeirosa, é totalmente possível!

Porque é importante o trabalho de grupo com as famílias?
O local mais adequado para os familiares encontrarem acolhida, solidariedade e ampliarem seus conhecimentos sobre a doença da adicção é nos grupos de apoio que estão objetivamente focados nas questões da dependência química. Nestes grupos os familiares encontrarão outras pessoas com problemáticas muito semelhantes, buscando soluções e relatando suas experiências vividas. Naturalmente, se forma uma rede de apoio na qual através da troca de idéias e dos testemunhos dos participantes, muitas vezes, torna-se possivel entender  a necessidade da realização de mudanças de comportamento da própria família e não só ficar na expectativa que apenas o outro, no caso o D.Q., precisa realizar mudanças em busca da recuperação. Não se pode ter a visão de que apenas ele é o doente e o único que necessita de tratamento, pois como já foi dito é natural que frente a tantas dificuldades, preocupações, tristezas e frustrações, todos os membros da família adoeçam.
Por isso, algumas vezes é necessário ir além da frequência e do apoio dos grupos, ou seja, que a família encontre outras alternativas como uma terapia individual ou familiar, com o objetivo de facilitar a compreensão e aceitação não só da doença, mas das mudanças quem se fazem necessárias em seus próprios comportamentos.

Yolanda Maria Vaz Allan  é psicóloga clínica especalizada em dependência química e atua no Centro Terapêutico São Judas Tadeu, em Monte Alegre do Sul.

SPH!


Ataque cardíaco é mais propenso em dependentes de cocaína

  • Segundo um novo estudo da Universidade de Sydney (Austrália), dependentes de cocaína, mesmo que só utilizem a droga uma vez ao mês, correm um risco muito maior de sofrer uma parada cardíaca do que as pessoas que não usam a droga.

    Dependentes de cocaína têm pressão arterial mais elevada, artérias mais rígidas e paredes mais espessas no músculo do coração do que não usuários, todos fatores de risco que podem causar um ataque cardíaco.

     
    Os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética para medir os efeitos da droga em 20 adultos saudáveis que usaram “cronicamente” a substância ilegal.

    Eram 17 homens e 3 mulheres, com idade média de 37 anos, que relataram o uso de cocaína pelo menos uma vez por mês durante o ano anterior à pesquisa. Eles preencheram questionários que descreviam seus hábitos, fatores de risco cardiovascular e nível socioeconômico.

    Pelo menos 48 horas após seu último uso de cocaína, os voluntários tiveram sua pressão arterial medida e passaram por exames de ressonância magnética cardíaca.

    Em comparação com 20 não dependentes, os que haviam abusado da cocaína tinham maiores taxas de múltiplos fatores associados com o aumento do risco de ataque cardíaco e de acidente vascular cerebral (derrame).

    Por exemplo, os dependentes tinham 30 a 35% mais rigidez da aorta, um aumento da pressão arterial e 18% mais espessura da parede do ventrículo esquerdo do coração.

    Os efeitos combinados de maior coagulação do sangue, maior estresse no coração e aumento da constrição dos vasos sanguíneos colocam os participantes do teste em um alto risco de ataque cardíaco espontâneo.

    “Estamos repetidamente vendo jovens, indivíduos aptos, sofrerem ataques cardíacos fulminantes relacionados ao uso de cocaína”, diz a Dra. Gemma Figtree, pesquisadora do estudo. “Eles não têm conhecimento das consequências para a saúde de se usar regularmente cocaína. É a droga perfeita para um ataque cardíaco”, conclui.

    O estudo australiano é o primeiro a documentar anomalias cardiovasculares em usuários de cocaína aparentemente saudáveis após os efeitos imediatos da cocaína terem passado.[

  • Autor: Natasha Romanzoti
  • Fonte: HYPESCIENCE

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Estudo inédito da UnB aponta que DF consome 753 kg de cocaína ao ano

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    Um estudo inédito realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) mostra que cerca de 753 kg de cocaína são consumidos anualmente no Distrito Federal. O trabalho é o primeiro realizado no país a partir de análise de urina colhida em estações de esgoto.

    As amostras são retiradas por técnicos da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) em oito estações de tratamento de esgoto. São duas unidades no Plano Piloto, além de Mechior, Samambaia, Riacho Fundo, Gama, Paranoá e Planaltina.

    O material é levado para o Laboratório de Química da UnB. Segundo pesquisadores da universidade, a quantidade de cocaína consumida é obtida a partir da presença de uma substância no material analisado. A benzolecgonina se forma no organismo de quem consome a droga e é eliminada na urina do usuário.

    O levantamento será apresentado no final de novembro. De acordo com a pesquisa, as regiões onde mais se consome cocaína no DF são Plano Piloto, no Varjão e no Lago Norte.

    A UnB tem projetos para ampliar essa pesquisa. Os cientistas estudam utilizar método semelhante para determinar a quantidade consumida de outras drogas, como a maconha e o ecstasy.


  • Fonte: G1 notícias

Pesquisa revela remédios mais consumidos pelos brasileiros


  • O que tem na sua caixinha de remédios? Descongestionantes, vitaminas, analgésicos à base de dipirona, pílula anticoncepcional, antigripais e calmantes, ao menos de acordo com pesquisas de mercado feitas pela consultoria IMS Health e pela Associação Brasileira de Medicamentos Isentos de Prescrição, que mostram os medicamentos mais vendidos nas farmácias do país.
    A pedido da reportagem, especialistas comentam os riscos e os benefícios de algumas das categorias de drogas entre as mais procuradas pelos brasileiros.


    ANALGÉSICO

    Medicamentos à base de dipirona sódica, como o Dorflex, estão entre os mais populares no país.
    O mecanismo de ação da dipirona, introduzida no mercado em 1922, ainda não é conhecido, mas estudos mostram que a droga faz seu trabalho de forma similar a outros analgésicos, inibindo a formação de substâncias envolvidas na inflamação e na sensação de dor.
    Segundo o médico Anthony Wong, diretor do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do HC de São Paulo), a dipirona baixa a febre com mais rapidez do que o paracetamol (Tylenol). Wong destaca que o paracetamol pode causar danos ao fígado e que a aspirina aumenta o risco de sangramentos e problemas no sistema digestivo.
    "A aspirina, no entanto, é importante para quem tem problemas como trombose, infarto e artrite reumatoide, e estudos mostram que o uso preventivo pode evitar o surgimento de alguns tumores."
    Nos EUA, a dipirona foi retirada do mercado, na década de 1970, após estudos ligarem o uso do remédio à agranulocitose (redução da produção de células do sangue pela medula). Anos depois, esses estudos foram questionados. Outro efeito colateral da dipirona e de outros analgésicos é a síndrome de Stevens-Johnson, caracterizada por erupções nas mucosas.

    CALMANTE

    O Rivotril ou clonazepam foi o sexto medicamento mais vendido no país entre 2011 e 2012, isso apesar de exigir receita controlada.
    A substância é da classe dos benzodiazepínicos, drogas que agem no cérebro, aumentando a ação de um neurotransmissor que inibe a atividade e a conectividade dos neurônios. Isso causa o efeito sedativo. No entanto, ainda há pontos nebulosos no mecanismo de ação da droga, vendida desde os anos 60.
    As indicações principais do Rivotril são para tratar convulsões, transtorno de ansiedade e depressão, mas ele tem se tornado cada vez mais uma "droga social", segundo o médico Anthony Wong, diretor do Ceatox do HC.
    Para ele, a presença do medicamento entre os dez mais vendidos do país é "inadmissível". "Ele tem grande potencial de criar dependência."

    VITAMINAS

    No ranking de remédios isentos de prescrição que mais geram volume de venda, aparecem dois multivitamínicos: o Gerovital, que contém ginseng, vitaminas A, C, D, E e as do complexo B, além de minerais como ferro, e o Targifor C.
    O uso de vitaminas como complemento nutricional é controverso. Segundo o nutrólogo Celso Cukier, só pessoas com deficiências precisam de uma dose extra. "A maioria das dietas já atinge as necessidades diárias."
    Entre os que podem precisar de suplementação estão os idosos. "Nesses casos, trabalhamos com vitaminas específicas em doses maiores."
    A ingestão exagerada pode causar efeitos colaterais. O excesso de vitamina A, por exemplo, pode causar danos ao fígado. Mas, segundo Cukier, problemas graves só vão acontecer se a pessoa usar altas doses por um período prolongado.
    Segundo o médico, muitos dos efeitos esperados pelo consumidor de vitaminas não são comprovados. "Não há evidência de que vitamina C previna doenças, a não ser em caso de atletas de alta performance."
    Cukier afirma que o cansaço é um sintoma importante que leva à procura das pílulas. "O cansaço pode ser sintoma de uma cardiopatia, uma doença inflamatória. Tomar o polivitamínico pode retardar um diagnóstico."

    ANTIGRIPAL

    O Neosoro, solução nasal contendo cloreto de sódio, cloreto de benzalcônio e cloridrato de nafazolina, foi o remédio mais vendido nas farmácias no último ano. Os "fãs" das gotinhas se reúnem em grupos no Facebook ("Neosoro" e "Clube dos viciados em Neosoro"), onde lamentam a rapidez com que dão cabo de um frasco.
    Segundo o clínico Paulo Olzon, da Unifesp, o máximo que essa solução pode fazer é aumentar o conforto respiratório quando o ar está seco.
    Além do sal, a fórmula tem um vasoconstritor e um antisséptico. Anthony Wong, do Ceatox, diz que o abuso da solução pode levar à hipertrofia da mucosa. "O nariz fica obstruído pela reação inflamatória, e não há remédio que vá desentupir." Para Wong, é melhor usar soluções só com cloreto de sódio, para evitar efeitos colaterais.

  • Autor: DÉBORA MISMETTI
  • Fonte: Folha de São Paulo

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Europa descobre uma droga nova quase todas as semanas


Observatório Europeu divulga relatório de 2012
  Por Ana Cristina Pereira

Muitas das novas drogas vendem-se como fertilizantes ou sais de banho  
Muitas das novas drogas vendem-se como fertilizantes ou sais de banho (Nuno Ferreira Santos)
Quase todas as semanas, o sistema de alerta rápido da União Europeia encontra uma nova droga. No ano passado, registou 49 novas substâncias psicoactivas. Nunca antes registara tantas. E os dados preliminares de 2012 remetem para um agravamento do cenário: já somam mais de 50.

O número consta do relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), apresentado esta quinta-feira em Lisboa. Em 2010, tinham sido notificadas 41 novas drogas; em 2009, 24. A subida reflecte o fenómeno das “alternativas lícitas às drogas ilícitas”, as chamadas legal highs.

Dois terços integram dois grandes grupos: as catinonas sintéticas, como a mefedrona e o MDPV, que imitam os efeitos da cocaína, e os canabinóides sintéticos, que podem, por exemplo, ser encontrados nos produtos tipo spice. Mas há grupos químicos considerados “mais obscuros”.

O relatório sustenta que o recurso a múltiplas substâncias pode estar a aumentar. As amostras usadas nos testes revelam umas controladas e outras não. Exemplar será o uso de PMMA, uma substância que “apresenta um risco elevado de overdose e constitui uma grave ameaça para os consumidores”.

Os dados sobre o consumo destas drogas começam a aparecer a partir de estudos feitos na Irlanda, Espanha e Reino Unido. Tudo indica um consumo ainda baixo, mas com “forte possibilidade” de aumentar. Segundo um inquérito do Eurobarómetro de 2011, 5% dos jovens entre os 15 e os 24 anos afirmam já ter consumido euforizantes legais, as tais legal highs, em algum momento da sua vida.

A maior parte destas drogas é sintetizada fora da Europa. Vem, sobretudo, da China e, embora menos, da Índia. “As autoridades europeias responsáveis pela aplicação da lei têm descoberto instalações associadas à importação, mistura e embalagem. Os [seus] relatórios apontam para o envolvimento do crime organizado tanto na embalagem como na comercialização das substâncias em causa”, lê-se do documento.

São mais vendidas em lojas publicitadas como smartshops ou headshops. Podem ser apresentadas como drogas ilícitas, como ecstasy. E já aconteceu serem detectadas em produtos comercializados como “alimentos para plantas” ou “substâncias químicas usadas em investigação”.

A Internet desempenha um papel importante, disse ontem à noite Paul Griffiths, director científico, numa pré-apresentação a jornalistas de todo o espaço comunitário. De forma regular, o OEDT monitoriza as legal highs na Internet. O estudo mais recente data de Janeiro deste ano: “foram identificadas 693 lojas na Internet, contra 314 em Janeiro de 2011 e 170 em Janeiro de 2010”.

Há uma lista de alternativas lícitas com presença mais assídua nessas páginas electrónicas que aparecem e desaparecem com facilidade: três produtos naturais (kratom, sálvia, cogumelos alucinogénios) e oito substâncias sintéticas (cresceu muito a disponibilidade de várias catinonas sintéticas).

Diversos países fazem leis para controlar estas drogas. Para não perder mais tempo, alguns recorreram a leis já existentes. Itália, Polónia, Portugal e Reino Unido valeram-se de “diferentes tipos de leis relativas à segurança dos consumidores (do que resultou o encerramento de lojas) ou substâncias individualmente consideradas”, como a mefedrona, que se vendia como “substância fertilizante” ou “sais de banho”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Seminário sobre álcool e outras drogas contará com a participação de todas as profissões da Saúde

Durante o evento serão discutidas as políticas de drogas e sua relação com os direitos humanos

Com o objetivo de facilitar o diálogo entre as várias profissões da saúde sobre  o tema de álcool e outras drogas, será realizado, no dia 19 de novembro,  na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), o seminário “Álcool e outras Drogas: um desafio para as/os profissionais de Saúde”. O seminário, organizado pelo Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS), do qual o CFP faz parte,  será presencial e também transmitido online, ao vivo, a partir das 9h, pelo site www.cfp.org.br
O envolvimento de todos os conselhos da saúde é uma iniciativa inédita para esta discussão e  o principal diferencial do evento, segundo a integrante da comissão organizadora, Heloíza Massanaro. “A importância deste seminário está em qualificar esta conversa com as várias categorias, procurando identificar nossa responsabilidade diante dessa política pública e de que forma podemos contribuir”, afirma Massanaro.
Programação
Um debate ampliado sobre o  tema, passando pela história das drogas até os dias atuais, as políticas de drogas e sua relação com os direitos humanos, será o objetivo da conferência de abertura, que já conta com a participação da assistente social e conselheira do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas  (Conad), Cristina Brites.
A primeira mesa do evento,  “Drogas e sociedade: política atual e suas perspectivas”, tem como proposta abordar  a ‘higienização’ que ocorre em épocas de grandes eventos, como na Copa do Mundo, e o papel do Plano Crack neste contexto. E ainda o que a sociedade brasileira  têm discutido recentemente  sobre o tema, seus desafios e perspectivas. Já está confirmado, como palestrante, o coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori.
Já as políticas de redução de danos  – que visam reduzir os efeitos negativos associados ao uso da droga -   serão tema da terceira mesa, que tem início às 14h. Estratégias e possibilidades de enfrentamento, formas de cuidado e acolhimento aos usuários de drogas e a reinserção social são alguns dos tópicos previstos neste horário, que já conta com a participação confirmada do fundador da Associação Brasileira de Redução de Danos (Aborda), Domiciano Siqueira.
A última mesa do seminário traz à tona a rede de cuidados e exemplos de experiências na atuação interdisciplinar que apontam para o enfrentamento da questão das drogas no Brasil. Para tanto, propõe como tema a questão:  “Rede de cuidados: é possível atuar considerando a saúde e os direitos humanos?”.
As inscrições para o evento poderão ser realizadas pelo  e-mail fcfas2011@yahoo.com.br. Para se inscrever é necessário enviar o nome completo, profissão e número da Carteira de Identidade. Além da participação presencial, será disponibilizada transmissão online e formulário digital de perguntas por meio do link  http://www2.pol.org.br/aovivo/alcooledrogas.

Confira a programação:
9h – Abertura
9h20 – Conferência “Álcool e Drogas: Ampliando o Debate”
  • Cristina Brites – Assistente Social, doutora em Serviço Social, Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense/Polo de Rio das Ostras, Conselheira do CONAD.
10h – Mesa “Drogas e Sociedade: política atual e suas perspectivas”
  • Roberto Tykanori – coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde;
  • Elisa Zaneratto – representante da Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos
14h – Mesa “Reinserção Social e Redução de Danos”
  • Denis Petuco – Sociólogo pela UFRGS, mestrando em Educação Popular pela UFPB. É redutor de danos no CAPSad de Cabedelo – PB, oficineiro no CAPSad Jovem Cidadão, em João Pessoa – PB, consultor do governo de Pernambuco;
  • Domiciano Siqueira Consultor para drogas e Aids, fundador da Associação Brasileira de Redução de Danos – Aborda
16h – Mesa “Rede de cuidados: é possível atuar considerando a saúde e os direitos humanos?”
  • Representante de São Bernardo do Campo – CAPS III

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Juiz defende imposição de tratamento a usuários de drogas


Quarta, 31 de Outubro de 2012 - 14:22
Fonte: Da redação, com informações da ALMS
“Perseguir a doença, não o doente”. Com essa frase, o juiz Flávio Fontes, coordenador do Centro de Justiça Terapêutica de Pernambuco, defendeu a imposição de tratamento ao usuário dependente de droga pela Justiça. A declaração do jurista foi feita ontem (30) durante o 1º Seminário de Justiça Terapêutica do Mato Grosso do Sul, que segue até esta quarta-feira na Assembleia Legislativa.

Segundo ele, cerca de 70% dos milhares de dependentes químicos encaminhados por juízes para tratamento no Centro de Justiça Terapêutica de Pernambuco, desde sua criação em 2001, obtiveram sucesso no tratamento.

O jurista falou sobre as experiências do programa em Pernambucano e ressaltou a necessidade do trabalho conjunto entre judiciário, saúde e assistência social para salvar jovens e adolescentes das drogas. “Nossa juventude está totalmente perdida nos guetos, nas cracolândias e o que importa agora não é se temos ou não que descriminalizar as drogas, mas sim que as famílias desses jovens não sabem para onde seguir”, ressaltou.

De acordo com Fontes, uma pesquisa levantada por ele com cerca de 800 dependentes atendidos entre 2005 e 2006 pelo CAPS/AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) de Recife constatou que pouco mais de 2% dos pacientes encaminhados por médicos ou que se submeteram espontaneamente ao tratamento foram curados, enquanto que 12,24% dos que foram mandados pela Justiça atingiram a abstinência total.

“Quem tem envolvimento sério com o crack ou com outras drogas, não consegue ter noção do que ocorre ao seu redor. Ele nem trabalha ou estuda e fica robótico, perde a noção de tudo. A droga é capaz de fazer com que a pessoa mate, roube, assalte e nem se lembre disso no outro dia", acentuou.

Ao ressaltar as experiências positivas com o programa em Pernambuco, Flávio aconselhou que outros estados aliem profissionais da saúde com um acompanhamento sistemático dos juízes. “A Justiça Terapêutica deve exercer o papel de pai e mostrar sua autoridade. Esse papel que é extremamente importante, muitos dos que são dependentes não tiveram”, afirmou. “Ela deve funcionar como um elo para tentar restaurar a autonomia individual do dependente ou usuário abusivo que pode estar tão comprometida que o leva a ingressar na esfera criminal com enormes consequências para a sociedade em geral”, completou.

No Recife, 60% dos pacientes largam tratamento contra crack, diz pesquisa

Foram analisados 1.957 prontuários dos seis Capes da capital por 6 meses.
Álcool e cigarro são os que mais levam pessoas a procurar atendimento.

Do G1 PE
Álcool e cigarro são as drogas que mais levaram pacientes a procurar os Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Outras Drogas (Capes - AD) no Recife. A maioria dos pacientes – 78% – é do sexo masculino e a maioria dos que procuram ajuda abandonam o tratamento. Estes são alguns dos resultados da pesquisa divulgada nesta terça-feira (13) por alunos e professores das universidades Federal (UFPE) e estadual (UPE) de Pernambuco.
O estudo se chama "Entre pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de sobrevivência e impacto social do uso do crack". Os pesquisadores da UFPE fazem parte do Grupo de Estudos de Álcool e Outras Drogas (Gead), ligado ao Departamento de Serviço Social da universidade. Eles analisaram todos os 1.957 prontuários dos seis Capes de julho de 2010 a julho 2011.
Os dados revelam que 70% dos dependentes apresentam problemas com bebida alcoólica. “Como droga lícita, incentivada, é preciso que a gente repense a forma como entra na vida dos jovens e da sociedade em geral”, diz a professora Roberta Uchoa, coordenadora do Gead e da pesquisa. Na maioria das vezes, o álcool está associado a outra droga: 43% dos que bebem, fumam maconha e 42% usam crack, uma mistura perigosa. Além disso, 86% dos pacientes apresentaram transtorno mental e comportamental depois do envolvimento com as drogas. Foram colhidos dados de seis Capes da capital pernambucana.
Entre os dependentes de crack atendidos pelos, 78% são homens. Dos internos, 35% procuraram ajuda por conta própria, 18% foram levados pela família e amigos e o restante foi encaminhado por hospitais, justiça ou polícia – 60% abandonaram o tratamento.
Roberta Uchoa acredita que esse perfil inédito dos usuários vai servir de parâmetro para o aprimoramento de políticas públicas. “A saúde vai estar lidando com a prevenção e com o tratamento, mas a gente precisa ter políticas na área de educação, de lazer e esportes. Precisamos ter políticas do que a gente chama de restrição de acessibilidade. Esta é considerada, internacionalmente, como a estratégia mais importante para redução do acesso às drogas. Ou seja, restringir propaganda, fazer com que o preço das substâncias psicoativas seja sempre mais alto. No mundo inteiro, se você for comparar o preço do álcool com o daqui do Brasil, é um absurdo, a gente não paga praticamente nada”, comenta.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Demissão por dependência química - Justa ou injusta?

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Conteúdo Jurídico - Marcelo Pontes
 
Muito se têm falado sobre o grave aumento de usuários de drogas, das mais leves as mais pesadas, entre jovens e adultos. As mais abordadas inclusive são as de mais difícil acesso, como a maconha, o crack e a cocaína, esquecendo, a mídia e órgãos responsáveis, de disseminar a prevenção e alertas sobre os perigos de drogas consideradas lícitas, e que estão presentes na vida das pessoas, quase que diariamente, como o álcool e o cigarro.
A droga e a dependência química viraram um problema social dos tempos modernos.
Por diferentes motivos, muitas pessoas buscam subsídios, nada benéficos, para encarar ou esquecer os desafios que a vida lhes apresenta. Uma fuga para os problemas ou medos. Outro motivo que leva as pessoas, principalmente os jovens, a experimentar algum tipo de droga, é a simples curiosidade ou modismo para fazer parte de um grupo.
Segundo uma pesquisa realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde, em abril de 2011, mostra que o percentual da população adulta que consumiu álcool em excesso nos 30 dias anteriores à pesquisa passou de 16,2%, em 2006, para 18% em 2010 (26,8% dos homens e 10,6% das mulheres).
Um estudo realizado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria em 2011, mostra que o índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo ao registrado entre usuários de crack.
Este estudo procurou 232 pessoas que haviam sido atendidas num centro do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, em 2002. Desse grupo, 41 haviam morrido - 34% por causas violentas, como acidentes de carro ou homicídios. Outros 66% foram vítimas de doenças relacionadas ao alcoolismo.
De acordo com outro estudo, realizado pelo ministério da Previdência Social, só no primeiro semestre de 2011, 21 mil trabalhadores foram afastados do serviço por motivo de dependência química, um aumento de 22% comparado ao mesmo período de 2010.
Este último dado nos leva ao tema desse artigo, já que esse índice vem, infelizmente, crescendo, entre os trabalhadores no Brasil, em diferentes classes sociais. E muitos empregadores ainda não têm real entendimento ou preparo para lidar com este tipo de situação. Até porque, muitas vezes, se torna difícil identificar se o mau comportamento do empregado está ocorrendo em razão de alguma doença ou simplesmente descuido ou falta de interesse.
Por lei, o empregado que, entre outros: Repetir pequenas faltas leves, devido à negligência, preguiça, desleixo, má vontade, omissão, desatenção, entre outros habitualmente; Se o empregado embriaga-se fora do horário de expediente, mas os efeitos do álcool ficam evidentes durante o período de trabalho, o empregador pode caracterizar esse ato como falta grave. Mas, se o empregado se embriaga durante o período do expediente, a lei ampara uma demissão por justa causa. Estes comportamentos são, também, típicos de pessoas que estão sob a doença da dependência química.
Por se tratar de uma lei, o empregador fica respaldado para demitir um funcionário, que tenha este e outros tipos de comportamento inadequados, por motivo de justa causa.
Sabe-se que a dependência química é uma doença, e, portanto, deve ser tratada como tal, ou seja, procurando uma intervenção em busca do tratamento. Sabe-se, também, que, para o tratamento de uma dependência é necessário que o dependente assuma a doença, e aceite que precisa de um tratamento.
Mas então, nesse caso, o que fazer? O empregador não pode ficar preso a um funcionário que não está lhe dando o retorno esperado, o empregado não consegue se curar do vício sem uma ajuda e sem recursos do seu emprego. Uma situação adversa que, por falta de esclarecimentos, acaba muitas vezes, em longos processos na justiça.
Recentemente o Projeto de Lei 4146/12, do deputado Manoel Junior, foi aprovado no Senado. O texto do projeto proíbe as empresa de demitir sumariamente funcionário dependente de álcool ou drogas. Nesse caso, conforme o texto, o contrato de trabalho deverá ser suspenso e o trabalhador submetido a perícia médica junto ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para concessão de auxílio-doença e posterior tratamento. Ainda pelo texto, a demissão só poderá ocorrer se o funcionário recusar-se a seguir as recomendações terapêuticas.
Vê-se nesse projeto uma solução sensata para esse problema que invadiu a sociedade, interferindo na vida pessoal e profissional, mexendo na estrutura das famílias.
Outra forma de tentar evitar este tipo de confronto é a prevenção. Órgãos governamentais deverão difundir a prevenção, levar informação, aumentar programas de apoio às famílias com dependentes químicos. Assim como as empresas, deverão se prevenir, implantando projetos de informação e conscientização de todos os tipos de dependência química. A fim de evitar que este mal prejudique sua empresa e demais funcionários.

sábado, 3 de novembro de 2012

D.A.S.A - O que é Dependência de Amor e Sexo?

Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA) é uma Irmandade cujos fundamentos são os 12 Passos e as 12 Tradições. Está baseada no modelo adaptado de Alcoólicos Anônimos, para o DASA. O único requisito para ser membro, é ter o sincero desejo de libertar-se da Dependência de Amor e Sexo. A Irmandade de DASA, se mantém através das contribuições espontâneas de seus membros, sendo gratuita para aqueles que o necessitam.
Utilizamos quatro recursos básicos para combater as conseqüências perniciosas que a dependência de amor e sexo produz:
O desejo de interromper nosso comportamento em que diz respeito ao sexo e amor, dia a dia, nos baseando em nossa lista pessoal das atividades dependentes que temos detectado.
  • A possibilidade de pedir ajuda aos membros da Irmandade.

  • Praticamos os 12 Passos do Programa de Recuperação para alcançar a SOBRIEDADE sexual e emocional.

  • Estabelecemos uma relação com Um Poder Superior a nós mesmos, O qual pode guiar-nos e sustentar-nos durante o nosso processo de recuperação.

  • Como Irmandade, DASA não opina sobre questões alheias e evita controvérsias. Não está filiada a nenhuma outra associação, movimento político ou religioso.

  • Nosso único objetivo comum é o de nos restabelecer da dependência de amor e sexo. Encontramos um denominador comum: um comportamento obsessivo e compulsivo em nossa conduta, o que converte as diferenças de sexo e de orientação sexual em algo secundário.
O que é DASA ?
DASA é uma Irmandade que se baseia em um programa de recuperação de 12 Passos de Alcoólicos Anônimos. DASA é uma Irmandade de ajuda mutua, aberta a todas as pessoas de qualquer idade e inclinação sexual. Entre seus membros se encontram tantos os que experimentaram uma necessidade compulsiva de sexo, como aqueles com um apego desesperado a uma única pessoa. Todos os membros tem um padrão comum de comportamento obsessivo/compulsivo, seja sexual como emocional ( ou ambas) através das quais as atividades e as relações se vem cada vez mais destrutivas e Afetam a todos os aspectos de nossa vida - a carreira, a família e o conceito de amor próprio. Já que os DASAs são todos dependentes também, eles têm uma compreensão especial de si mesmos e da doença. Eles sabem como a Doença funciona - e aprenderam como se recuperar dela através do DASA. Podem assistir as nossas reuniões, qualquer pessoa que acredite ter esse problema, independente de ter outro tipo de dependência (Álcool, Droga...) ou não.
O DASA foi fundado em BOSTON em 1976. Os membros que iniciaram, eram pessoas que se haviam dado conta de que o sexo, o "coquetel romântico" e a dependência emocional estavam afetando a suas vidas da mesma forma em que o álcool e as drogas os haviam afetado. Suas experiências mostram que a promiscuidade sexual é um cultivo de hábito de relações destrutivas que não se pode vencer somente, com a força de vontade. Muitas histórias típicas tem como protagonistas, pessoas que visitavam assiduamente certos lugares, que tiveram repetidos contágios de enfermidades venéreas e o medo de serem descobertos por seus familiares. Outros não conseguiam evitar as relações destrutivas e em pouco tempo se encontravam em outras relações igualmente prejudiciais. Outros, finalmente se dedicavam a atividades sexuais solitárias.
Apesar da relativa "juventude" desta Irmandade, muitas pessoas estão encontrando enfim, esperança e restabelecimento ao compartilhar suas experiências com os outros membros. Muitos dependentes comprovam pela primeira vez em suas vidas, que são capazes de manter relacionamentos de companheirismo e satisfação.
E o que é mais importante, estes membros tem uma nova visão da liberdade e dignidade pessoal. Alguns afirmam que sem o apoio desta Irmandade, teriam o dilema de ter que viver entre a solidão aguda e o isolamento, por um lado, as relações e atividades dependentes que por outro, os teriam levado ao suicídio.

O que é Dependência de Amor e Sexo?

O DASA acredita que a dependência de amor e sexo é uma doença, uma doença progressiva que não pode ser curada, mas, como várias outras doenças, pode ser detida. Ela pode tomar várias formas - incluindo (sem limitar-se a) uma necessidade compulsiva por sexo, dependência extrema de uma pessoa (ou várias) e ou preocupação crônica com romance, flerte ou fantasia. Existe um padrão obsessivo/compulsivo, seja sexual ou emocional (ou ambos) em relacionamentos ou atividades sexuais que progressivamente se tornaram destrutivas para a carreira, família e senso de auto-respeito. A dependência de amor e sexo leva a conseqüências cada vez piores se não for cuidada a tempo.
Antes de vir ao DASA, muitos dependentes de amor e sexo, se consideravam párias sociais, pervertidos ou apenas fracos. Outros ainda sentem que só estão perseguindo o que é de seu direito. Eles se sentem com permissão à auto-complacência. A teoria do DASA é que os dependentes de amor e sexo são pessoas doentes que podem se recuperar se seguirem um programa simples que se mostrou válido para muitos homens e mulheres com a mesma doença.

O que é SOBRIEDADE?
Sobriedade é o retorno da opção, da sanidade e da dignidade pessoal que vem da rendição à dependência de amor e sexo, seguido do envolvimento com o programa de recuperação de Doze Passos de DASA. Não existem regras definidas para a sobriedade no DASA, da mesma forma que os padrões de dependência de amor e sexo variam. Contudo cada DASA identifica seu comportamento dependente e fica "SÓBRIO", se abstendo desse comportamento numa base diária.

Como saber se sou Dependente de Amor e Sexo ?
Só você pode dizer se tem uma dessas dependências ou ambas a nível físico, mental, emocional ou espiritual. Ir à várias reuniões vai lhe dizer se você se identifica com outros dependentes de amor e sexo. O texto "Dependência de Amor e Sexo: 40 Perguntas para Auto-Diagnóstico" vai lhe ajudar a avaliar sua atividade Sexual, Comportamento Amoroso e Envolvimentos Emocionais.

O que é PRATICAR?
Praticar é tornar-se envolvido (ou voltar a envolver-se) com o comportamento dependente básico. A indulgência com a dependência é caracterizada pela perda de controle sobre a quantidade, a freqüência e a duração do comportamento dependente. Essa perda de controle sempre leva à conseqüências negativas, auto-destrutivas que pioram com o tempo. Os padrões de praticar, e consequentemente o comportamento básico, podem diferir bastante entre os dependentes de amor e sexo individualmente. Esse comportamento de praticar pode ir da promiscuidade óbvia envolvendo vários parceiros, à atos solitários como a masturbação compulsiva, Voyerismo, exibicionismo, ou à entrega obsessiva à fantasia ou a sedução amorosa. Pode incluir problemas de hiperdependência envolvendo um (ou mais) indivíduos. Alguns padrões de praticar podem envolver tudo isso, mas em geral o quadro básico tem uma ou duas áreas principais que estão mais evidentes.

O que posso fazer se estou preocupado com o meu "PRATICAR"?
Procure ajuda. O DASA pode lhe ajudar. Você pode se recuperar.

O que eu faço quando a ÂNSIA de praticar aparecer? 
Não pratique, vá as reuniões e peça ajuda. Respire fundo, peça ajuda a seu PODER SUPERIOR e telefone para outro membro de DASA. A urgência de praticar vai passar e você estará mais forte que nunca.

O que é SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA?
É um processo pelo qual passam dependentes de amor e sexo em seguida à decisão de interromper o padrão dependente. Pode causar uma variedade de sintomas que precisam ser esperados. Isso é mais tolerável na companhia de outros DASAs. Sintomas tão dolorosos como os da retirada de drogas e álcool são comuns. Um desejo e uma ansiedade intensos emergem, também ocorrem medo, pensamentos suicidas ou obsessão com doença, velhice ou morte. Depressão, perda, raiva, negação e "fantasias cor-de-rosa" podem ocorrer em várias combinações.

O que são DESLIZES ?
Um deslize é um retorno ao comportamento dependente, mesmo que seja breve. A experiência tem mostrado que eles não "acontecem apenas". A Maioria dos DASAs que passaram por esses períodos dizem que os deslizes, que podem levar a repentinas perdas de identidade, podem ser atribuídos a causas específicas. Uns dizem que esqueceram que eram dependentes de amor e sexo e se tornaram confiantes em excesso. Ou ficaram muito preocupados com negócios ou atividades sociais para lembrar da importância da abstinência de praticar. Ou se permitiram ficar cansados e foram pegos pelas defesas mentais ou emocionais baixas. De qualquer forma, eles abriram mão de se beneficiar com a ajuda disponível para eles. Eles deixaram de manter suas atividades de DASA.
Ser honesto e "freqüente" com outro DASA e ir numa reunião de DASA pode ajudar a superar o desespero do deslize, e retornar o caminho da recuperação.

O que é um PADRINHO? - Como conseguir um?
Um padrinho/madrinha é um DASA sóbrio, experiente que está familiarizado com sua nova forma de viver e está disponível para compartilhar sua experiência, força e esperança com um DASA recém-chegado, numa base individual. Geralmente o novo pede a um DASA sóbrio se pode apadrinhá-lo. Esse padrinho em potencial tem o direito de aceitar ou não, e também pode sugerir outro DASA sóbrio que lhe ache mais apropriado. O relacionamento de apadrinhamento é baseado na confiança mutua e pode ser interrompido a qualquer momento, tanto "pelo" padrinho/madrinha, tanto por quem é apadrinhado.

O que é NEGAÇÃO?
Negar que um problema existe é uma forma comum de resistência dos novos e de outras pessoas com problemas para reconhecer sua dependência de Amor e Sexo. As várias formas de negação incluem os seguintes pensamentos: "Eu não estou tão mal como as pessoas que vejo nas reuniões", "Não sou um dependente de amor e sexo, eu venho de uma família boa", "Uma vez não vai fazer mal", "Vou vê-lo (la), mas não vamos transar", "nós vamos ser apenas amigos", "Ele (a) não vai me deixar partir, por isso não posso me libertar". A aceitação do programa do DASA, numa base diária, elimina a negação.

O que é se "tornar assíduo" e se manter assíduo?
A freqüência a algumas reuniões de DASA é o período de se tornar assíduo. Os membros que se sentem em perigo de praticar, podem compartilhar esses pensamentos e sentimentos com o grupo, como também as situações que podem estar contribuindo para eles. Se tornar assíduo pode ser feito com um padrinho ou com membros individualmente. Manter-se assíduo deve ser feito numa base diária.

O que é CONSPIRAÇÃO?
Conspiração é uma preliminar para praticar. O dependente tenta despertar o interesse de um possível parceiro sexual ou emocional, por esquemas secretos, sutis, por olhares, formas de vestir, etc. O Resultado pode ser um ato sexual envolvendo outra pessoa diretamente, ou algum comportamento solitário sexual, ou emocionalmente baseado.

O que significa "UM PODER SUPERIOR A NÓS MESMOS"?
Antes de vir ao DASA, a maioria dos dependentes de amor e sexo, já tinham percebido que não podiam controlar suas dependências de amor e sexo. O "Amor e o Sexo", haviam se tornado um poder superior a eles. A experiência do DASA mostra que para alcançar e manter a Sobriedade Sexual e Emocional, o dependente de amor e sexo, precisa aceitar e depender de Um Poder que ele reconheça, que lhe é superior. Alguns DASAs preferem considerar o próprio grupo como Um Poder Superior, enquanto outros tem interpretação diferentes desse Poder. A maioria dos DASAs adotam um conceito de Deus, como eles concebem esse Deus.

Posso esperar ter amor e sexo novamente?
Amor e Sexo num contexto de verdadeiro companheirismo não parece alimentar a Dependência. Esse tipo de relacionamento parece conter o que era tão desesperada e futilmente perseguido em todos os cantos. A jornada para tal companheirismo requer muito alto reformulação antes que a reconstrução possa recomeçar. Primeiro um sentimento de inteireza e dignidade se desenvolve através da manutenção da sobriedade numa base diária e através de trabalhar os 12 Passos. A Integridade pessoal é um resultado natural do desejo de acreditar em Deus, limpar a casa e ajudar a outros.

 http://www.slaa.org.br/br/index.htm