sábado, 7 de dezembro de 2013

Personagens com HIV chegam à Turma da Mônica

Vitória e Igor são os novos colegas de Mônica e Cebolinha na revista especial 'Amiguinhos da Vida', parte de uma campanha de conscientização sobre a vida com o vírus da aids, dirigida a crianças e adultos

Mauricio de Sousa autografa a revistinha 'Amiguinhos da Vida', que traz personagens portadores do HIV
Mauricio de Sousa autografa a revistinha 'Amiguinhos da Vida', que traz personagens portadores do HIV (Divulgação)
Em mais um dia a caminho da escola no bairro do Limoeiro, Mônica, Magali e Cebolinha parecem agitados com a novidade que está por vir – dias antes, a professora já avisara que dois novos coleguinhas chegariam à classe. É quando, como um jato, Igor passa apressado por eles. “Que gatinho!”, diz Mônica, provocando Cebolinha que, como sempre, reage com ciúme. “Ele só foi simpático polque ainda não conhece você, Mônica! Quando ele pelceber como você é casca glossa...”, provoca. 
Bem-humorados e de bem com a vida, Igor, amante de corridas, e Vitória, exímia patinadora, são os novos personagens da Turma da Mônica, parte da revista especial Amiguinhos da Vida, que chegam para conscientizar crianças e adultos sobre a vida com o vírus HIV. É uma iniciativa da ONG Amigos da Vida, que atua no Distrito Federal no auxílio aos pacientes soropositivos, e do desenhista Mauricio de Sousa, lançada em cerimônia no Centro Cultural Banco do Brasil na noite desta terça (3). “Estive lá na ONG e as crianças são mesmo como o Igor e a Vitória. Depois da visita, foi fácil escrever a história. São personagens vivos, muito fortes e acho que vamos continuar com eles pelo tempo que for necessário, enquanto houver preconceito”, disse o pai da Mônica ao site de VEJA, revelando ainda que pretende estender a iniciativa aos leitores adolescentes, por meio da linha Turma da Mônica Jovem. “Ali, poderemos avançar um pouco mais nas informações. Com certeza será um belo projeto”, afirmou
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À primeira vista, a informação de que um assunto tão delicado será tratado numa revista para crianças pode causar certo estranhamento. Como falar sobre Aids com os pequenos? Mas basta começar a ler o gibi para perceber a delicadeza da história. “O objetivo não é falar sobre a transmissão, moléstia, tratamento ou relação sexual. O objetivo é falar sobre o preconceito e que todas as crianças podem brincar juntas, de igual para igual”, explicou Mauricio. “A criança é um ser inocente, ela não sabe o que é preconceito. O preconceito é algo que elas aprendem com os adultos”, cometou.
A revistinha, apesar de direcionada aos pequenos, tem como alvo final os pais. A ideia surgiu quando o presidente da Amigos da Vida, Christiano Ramos, que convive com o HIV há 27 anos, percebeu a rejeição que as crianças soropositivas sofriam dos pais das crianças não portadoras do vírus nas brinquedotecas que a instituição mantém em hospitais públicos do DF. “Muitos pais simplesmente não permitem que seus filhos brinquem no espaço que também é ocupado pelas crianças com HIV”, diz. “Pensando em como reverter esse quadro, tive a ideia de procurar o Mauricio, que imediatamente abraçou a causa e pôs sua equipe de criadores à nossa disposição durante um mês, nos acompanhando no ambiente hospitalar, no dia a dia das crianças.”
Na história, a professora apresenta os novos alunos à classe e Vitória vai logo deixando tudo às claras. “Nós gostaríamos que vocês soubessem que vivemos com o HIV. É um vírus que desenvolve a aids, e que tem tratamento”, diz. “Pode-se viver normalmente com ele”, completa a professora.
O gibi exalta principalmente o gosto da dupla pela prática dos esportes. Igor diz que um de seus ídolos é o jogador americano de basquete Magic Johnson, não por acaso portador de HIV e um dos maiores porta-vozes da luta contra a aids. “Acho que fomos muito felizes porque os personagens são bem-resolvidos, como as crianças costumam ser – basta que você deixe que elas vivam a vida como ela se apresenta”, observa Mauricio. “A criança bem-resolvida não leva um problema que tem na escola para casa ou empurra para o dia seguinte. É igual à Mônica – às vezes ela recorre ao coelhinho, mas nunca deixa de resolver seus problemas e segue a vida, feliz, brigando e fazendo as pazes com seus amigos.
O projeto tem apoio do Unicef. Os idealizadores pretendem espalhar a iniciativa por todas as escolas públicas de ensino fundamental do país. Já está na rede do DF, e nas próximas semanas chega às escolas do Rio e no começo do ano, às de São Paulo. O projeto prevê ainda a capacitação dos professores para que o assunto seja discutido dentro da sala de aula. “Estamos falando de aids, não de qualquer patologia, é preciso sutileza”, pontua Ramos, cujo trabalho beneficia cerca de 2.800 mil famílias. Também atua no projeto a presidente de honra da entidade, Caminha Manfredini, mãe do líder da Leigão Urbana, Renato Russo, que morreu em consequência do HIV em 1996.
Apesar do grande número de apoiadores que se engajaram na iniciativa, Ramos lamenta que o “momento político seja tão difícil”. A ONG busca uma parceria com o Mistério da Educação, que garantiria a distribuição do gibi em todo o território nacional.  O Unicef estima que haja hoje no Brasil mais de 20 mil crianças e adolescentes portadoras do vírus. “Se a gente puder adotar e amar o Igor e a Vitória como amamos a Mônica e o Cebolinha, a inclusão das crianças portadoras de HIV estará garantida”, disse a consultura do Unicef Isabel Abelson, uma das incentivadoras do projeto.

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