quarta-feira, 5 de março de 2014

Brasil é ponto de partida de cocaína, segundo relatório

Revista Exame

Relatório da ONU, divulgado nesta terça-feira, alerta sobre o aumento do consumo interno de cocaína que é mais de 4 vezes superior à média mundial
Cocaína
Cocaína:  acesso fácil ao Atlântico facilita transporte cocaína até a África Ocidental
Viena – O Brasil é o ponto de partida de cargas de cocaína para Europa, via África, e a outros mercados, conforme um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira, que alerta sobre o aumento do consumo interno dessa substância.
‘O Brasil, com suas vastas fronteiras terrestres com os três principais países produtores de coca e seu extenso litoral, além de ser o país de destino de grandes quantidades de cocaína, oferece acesso fácil ao Atlântico para transportar cocaína até a África Ocidental e, dali, à Europa’, afirma o relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife).
Como exemplo da globalização do mercado da cocaína e de até aonde chegam as cargas que partem do Brasil, a Jife explica que em anos passados no Iêmen se expropriaram 115 quilos de cocaína em um contêiner de lixo e no Líbano foram confiscados 13 quilos da droga em um avião que vinha do Brasil.
Os analistas ressaltam também que a taxa de prevalência do consumo de cocaína entre adultos em 2011 era de 1,75%, mais de quatro vezes superior à média mundial, de 0,4%, e que foi aumentando nos últimos anos.
Já sobre as drogas sintéticas, a Jife destaca que nos últimos anos aumentaram as apreensões de substâncias como ecstasy e anfetaminas, o que pode ser um indício do aumento do consumo.
‘Segundo o governo do Brasil, no país não são fabricadas drogas sintéticas. Estas são introduzidas ilicitamente no Brasil a partir da Europa, em algumas ocasiões em troca de cocaína’, afirma o relatório.
Em 2011, o Brasil informou uma das maiores apreensões de ecstasy dos últimos 20 anos, com 70 quilos, quando em anos anteriores os volumes eram inferiores a um quilo, segundo a Jife. Em 2012, a polícia expropriou 339 mil comprimidos de ecstasy, 10 mil unidades de anfetaminas e 65 mil alucinógenos, especialmente LSD, especifica o documento.
Já a maconha, a Junta destaca que em 2012, ‘a apreensão de erva diminuiu consideravelmente, de 174 toneladas em 2011 para somente 11,2 toneladas’. O relatório lembra que maconha é a droga mais popular na América do Sul, com 14,9 milhões de consumidores, e alerta da ‘baixa percepção do risco’ que os jovens têm sobre o uso.
No caso do Brasil, a Jife não oferece dados específicos, mas destaca que ‘a prevalência do uso indevido da maconha aumentou visivelmente na região nos últimos anos, especialmente no Brasil’.

ONU condena legalização da maconha nos EUA


Jornal O Estado de S. Paulo
Agência Estado

canabis-2013-24-07-size-598

A agência de fiscalização de drogas da Nações Unidas declarou que a legalização da maconha nos Estados Unidos, nos estados do Colorado e Washington, é uma ameaça à luta internacional contra os abusos de drogas.

 Em um relatório publicado nessa terça-feira, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos informou que “lamenta profundamente” os avanços dos dois estados norte-americanos no sentido de eliminar as restrições de comercialização e uso da maconha.
O conselho disse que a legalização viola as convenções de controle de drogas e chamou as autoridades nacionais a bloquearem os avanços dos estados. O departamento de Justiça dos Estados Unidos deixou claro de que não irá impedir as decisões dos estados, apesar da lei federal ainda proibir o consumo de maconha.
Fonte: Associated Press.

Magno Malta viaja o Brasil para lutar contra a regulação do uso da maconha

fc1e667e


Na próxima sexta-feira, ele estará em Roraima e Manaus e no sábado no Acre e Rondônia participando de debates públicos sobre a tramitação da lei que regulamente o uso recreativo e medicinal da maconha no Brasil
Em reportagem publicada no jornal o Globo, edição de domingo, senador Magno Malta (PR/ES) disse categoricamente que só vota para aprovar a “legalização” da maconha quem nunca viu a dor ou as lágrimas de uma mãe diante do drama de um filho drogado. Na próxima sexta-feira, ele estará em Roraima e Manaus e no sábado no Acre e Rondônia participando de debates públicos sobre a tramitação da lei que regulamente o uso recreativo e medicinal da maconha no Brasil.
Depois da recente experiência no Uruguai, O Congresso Nacional vai mesmo abraçar o debate e a votação de uma lei que regulamente o uso recreativo e medicinal da maconha no Brasil. O tema é tabu, provoca desconforto quando é abordado, mas os senadores, provocados por proposta de iniciativa popular, mostraram-se dispostos a abrir espaço para que o debate seja feito. A votação, que tem o senador Magno Malta como a maior voz contrária, ainda este ano, no entanto, é descartada já de cara, pois precisa de um grande debate nacional.
Na entrevista ao Globo, Senador Magno Malta afirmou em tom firme que continuará, mesmo com a nova tramitação do projeto de lei de iniciativa popular que trata da legalização do plantio doméstico de maconha e do comércio em locais licenciados, sendo a mais alta voz do Brasil contra qualquer lei que permita o uso de maconha no país. “vou defender os jovens, as famílias e minha pátria contra os malefícios das drogas. Sou o arauto desta guerra”, afirmou Malta.
O projeto de lei foi proposto por meio do portal   e-cidadania do Senado, onde qualquer pessoa pode fazer proposições legislativas, e recebeu mais de 20 mil assinaturas eletrônicas de apoio. Com isso, a proposta seguiu para a Comissão de Direitos Humanos para começar a tramitar. “O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é hoje o arauto em defesa da maconha, eu serei o contrário, uma voz firme, um arauto do bem, da família e da sociedade contra a legalização das drogas que jogam os jovens na vala.”Repudiou Magno Malta.
Senador Magno Malta (PR/ES), após o feriado, no próximo dia 7, vai para Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia para lutar contra a legalização da maconha no Brasil, explicar a importância da redução da maioridade penal para acabar com a impunidade e mostrará os reflexos positivos da atuação da Frente Parlamentar Mista Permanente em Defesa da Família Brasileira.
Senador Magno Malta já havia prometido viajar por todo o Brasil para defender suas bandeiras humanitárias, principalmente no tocante ao fim da impunidade para diminuir a violência urbana, que tira o sono do brasileiro. Assim, na próxima sexta-feira, às 8 horas da manhã, chega a Boa Vista, Roraima para uma palestra na Câmara dos Vereadores. “No extremo no País, perto da fronteira, vai ser fácil explicar o grave problema da legalização das drogas. O povo lá sabe que armas, cocaína, maconha e outros produtos entram fáceis pela extensa fronteira e com a legalização vai ficar mais fácil. Por isso fui convidado para iniciar minha caravana no mais longe e crítico Estado que sofre com a total falta de segurança”, explicou o senador, que também fará palestra em Manaus, Acre e Rondônia em uma verdadeira luta contra drogas e a violência.

Dando as mãos na batalha contra a dependência química


Lucas Prates/Hoje em Dia
ampare
Ex-internos, depois de receberem alta, passam a ministrar oficinas para dependentes
 
 Izabela Ventura - Hoje em Dia

Reconhecer o vício, procurar e aceitar o tratamento são desafios árduos aos dependentes químicos. Instituições de apoio como a Associação Mineira de Pais e Amigos para Prevenção e Recuperação do Abuso de Drogas (Ampare) são importantes nesse processo, mas as famílias têm papel crucial na recuperação. Elas devem despertar no usuário de drogas a real necessidade de buscar auxílio profissional.
Mais do que um simples desejo de melhorar, alcoólatras e toxicômanos precisam descobrir, na prática, por que precisam do tratamento. E é muito raro que consigam isso sozinhos, segundo Cristiana Abreu Souza, psicóloga e coordenadora clínica da Ampare.
 
Ela diz que o primeiro passo para despertar a aceitação do dependente é a família procurar orientação. Depois, aprender a deixar o parente sentir na pele as consequências da doença, parando de protegê-lo ao extremo. “Vemos famílias que até pagam as dívidas do usuário com traficantes. Mas elas não podem ser superprotetoras, ou seja, co-dependentes. Às vezes, os demais membros estão tão doentes quanto o dependente”, alerta Cristiana.
 
Sem ameaças
 
Mas é claro que todos devem acompanhar de perto e dosar esse processo, sem usar o método para chantagear ou ameaçar o paciente. A proposta é que a família se fortaleça e posicione-se de forma funcional.
 
“Na medida em que a pessoa desrespeite as regras, perca a honestidade e o respeito, deve sentir as consequências desse comportamento. A família não tem que tolerar todas as atitudes do dependente, e pode intervir”, esclarece a psicóloga.
 
Sob controle
 
Foi o que fez a irmã de B.S.O., de 55 anos, que há seis anos conseguiu controlar o vício em álcool. Alcoólatra desde os 15 anos, ela começou o tratamento tardiamente (aos 49 anos) porque achava que a bebida não atrapalhava as atividades como empresária. A ironia é que um dos empreendimentos dela era um bar. “Eu chegava todo dia para trabalhar e escolhia o que ia beber”, contou.
 
Até que a irmã percebeu que a situação estava insuportável para ambas, e conduziu-a ao tratamento na Ampare. “Eles nos ajudam a fazer uma retrospectiva da nossa vida, do que nos levou àquele ponto e nos fazem perceber o mal que o vício nos causou”.
 
Atualmente, B. está recuperada. Ministra uma oficina de artesanato para dependentes químicos em tratamento na Ampare, frequenta academia, cinemas, teatros e viaja na companhia da irmã.

Estudo da EERP traça perfil de dependente químico em Ribeirão Preto


Marcela Baggini / Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto
 
Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP com usuários dependentes de crack ou cocaína revela que o simples fato de ver pessoas consumindo álcool ou outras drogas pode favorecer a recaída. O estudo foi realizado no primeiro semestre de 2012 com pessoas que buscam tratamento no Centro de Atenção Psicossocial a álcool e drogas (CAPSad) de Ribeirão Preto e traz resultados que podem subsidiar as ações dos profissionais de saúde que realizam atendimentos e contribuir para uma assistência de qualidade e mais efetiva.
Foram entrevistadas 95 pessoas por meio de questionários sobre o padrão de consumo do crack e cocaína; a gravidade do problema em relação ao uso dessas drogas, bem como o uso do álcool e suas consequências para o organismo; família; trabalho e justiça. Com base nas respostas, a enfermeira Josélia Benedita Carneiro Domingues Rocci, a autora da pesquisa, conseguiu traçar o perfil do usuário dessas drogas que chegam para tratamento no CAPSad de Ribeirão Preto.
A professora Sandra Cristina Pillon, orientadora da tese de doutorado de Josélia, afirma que esse é um dos primeiros trabalhos desenvolvidos na EERP sobre o tema. “Ainda são poucos os estudos para avaliar este perfil, frente ao grande número de usuários de crack que tem buscado por tratamento”, conta.
Segundo Josélia, muitas vezes os usuários de drogas chegam às unidades de saúde com comportamento agressivo e desorientados devido ao uso da substância. Nesses casos, os pacientes precisam de cuidados que vão além de medicamentos. “Não é todo profissional que está capacitado para fazer uma abordagem específica ao dependente e iniciar o tratamento imediatamente, ou encaminhá-lo a um tratamento especializado. Às vezes, o profissional atende e considera-o apenas como mais um usuário ou um bêbado”, afirma. Ela ressalta ainda a importância de se conhecer o perfil destes usuários, bem como os problemas que essas drogas têm gerado na vida desses pacientes, para melhorar o atendimento realizado e evitar consequências futuras.

O perfil do usuário

O estudo mostrou que 58,2% dos atendidos eram usuários de crack e 44,2%, de cocaína. “A maioria era homem adulto-jovem, solteiro, com baixo nível de escolaridade, católico, branco e com trabalhos informais. Porém, é importante salientar que os usuários dessas drogas têm suas particularidades.”
Os usuários de crack, em sua maioria, têm de 30 a 49 anos, baixo nível de escolaridade, são evangélicos e estão fora do mercado de trabalho. “Devido à busca constante pela droga, eles não querem trabalhos que paguem depois de 15 dias ou um mês. Eles querem receber pelo serviço no mesmo dia.”
Já os usuários de cocaína são mais jovens, têm entre 18 e 29 anos, possuem ensino médio completo ou incompleto, são católicos e não possuem nenhum vínculo empregatício. A maioria busca tratamento por iniciativa própria ou de seus familiares. “A família não consegue lidar com essa situação e os colocam para fora de casa. Uns ficam debaixo de pontes, outros em casas abandonadas, sempre sem nenhum recurso, o que agrava o estado de saúde.”
O trabalho aponta também que a maioria dos pacientes é branca. “Geralmente, as pessoas acreditam que os usuários de drogas são negros e pardos. Nós estamos mostrando que, para o crack e a cocaína não existem etnias; qualquer um está sujeito.”
Os resultados também apontam que a maioria dos pacientes, principalmente os viciados em cocaína, contam com apoio familiar, o que os motivou a buscar ajuda após chegarem à situação de busca compulsiva pela droga. Por outro lado, entre os usuários de crack, foram detectados maiores problemas familiares.
“Eu sou contra a internação destas pessoas. Elas devem viver na sociedade e não excluídas”, defende Josélia, baseada nos resultados de sua pesquisa, que apontaram como principal causa da recaída a falta de suporte familiar. “Quando eu perguntei se já tentaram parar de beber ou usar drogas, disseram que não conseguiam porque, em casa, havia alguém que bebia ou era usuário de drogas.”

Como melhorar a assistência

Como respaldo aos profissionais da saúde pública, a pesquisa traz, após análise de aspectos de saúde e vida social, peculiaridades dos usuários de crack e cocaína. Além disso, as relações entre aspectos biopsicossociais e o uso dessas drogas também foram ressaltados. “Os resultados permitem afirmar que, apesar das diferenças pontuadas, os pacientes em tratamento e seus familiares requerem uma assistência diferenciada direcionada as suas necessidades específicas”, afirma a orientadora.
Segundo Josélia, o atendimento dado a essas pessoas só vai melhorar caso os profissionais da saúde conheçam melhor suas necessidades e a família receba maior suporte para auxiliar os dependentes.  “Não se trabalha só com o dependente, mas com a família também”, afirma, concluindo que “o serviço de saúde, na maioria das vezes, não está equipado tanto com recursos técnicos ou com recursos humanos.”
Mais informações: email joselia.rocci@hotmail.com

Mistura de drogas e sedativo matou Philip Seymour Hoffman

Ator utilizou heroína, cocaína, anfetamina e sedativo ao mesmo tempo. Overdose acidental provocou morte, segundo legistas


Ator Philip Seymour Hoffman durante uma exibição do filme 'Jogos Vorazes: Em Chamas'
Ator Philip Seymour Hoffman durante uma exibição do filme 'Jogos Vorazes: Em Chamas' - Stephen Lovekin/Getty Images

O ator Philip Seymour Hoffman morreu devido a uma intoxicação por mistura de drogas, incluindo heroína, cocaína, anfetamina e o sedativo e relaxante muscular benzodiazepina. O relatório, divulgado nesta sexta-feira por autoridades da cidade de Nova York, foi publicado no site Entertainment News. Segundo o escritório legista de Nova York, a morte foi considerada acidental.
Hoffman foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, em Manhattan, com uma seringa espetada em seu braço. Durante as investigações, as autoridades encontraram cerca de 50 pacotes de heroína no local.

Hoffman deu entrada em uma clínica de reabilitação no ano passado, após passar mais de duas décadas sóbrio. Segundo amigos que falaram com o site TMZ, o ator assumiu, no fim do ano passado, que havia voltado a usar heroína e pretendia ficar alguns dias sem a droga, porém já planejava voltar ao vício depois do breve período de abstinência, pois não conseguia parar.
Durante as últimas semanas de vida, Hoffman mostrava um comportamento alterado e aparência suja. Quando um dos amigos perguntou a ele sobre a gravidade da situação, o ator respondeu: “Se eu não parar, eu sei que vou morrer.”

Biografia – Nascido em 23 de julho de 1967, o ator de cinema e teatro e diretor Philip Seymour Hoffman se graduou na Escola da Artes da Universidade de Nova York, em 1989, e fez sua estreia no cinema no filme Triple Bogey on a Par Five Hole, em 1991.
Ao longo de mais de vinte anos de carreira, Hoffman se tornou um ícone dentro do cinema independente, com produções de baixo orçamento e diretores autorais. Sua reputação se consolidou com Boogie Nights: Prazer Sem Limites, de 1997, no papel do técnico de som gay Scotty J., que se apaixona por Dirk Diggler, personagem de Mark Wahlberg.
Sua filmografia também conta com títulos como Patch Adams - O Amor é Contagioso (1998), ao lado de Robin Williams; Ninguém é Perfeito (1999), com Robert De Niro; O Talentoso Ripley (1999), com Matt Damon e Gwyneth Paltrow; Magnólia (1999) e Quase Famosos (2000).
Em 2005, ele deixou os papeis de coadjuvante em filmes com grandes elencos, para se tornar o protagonista em Capote. O voto de confiança do diretor Bennett Miller deu a Hoffman seu primeiro e único Oscar na categoria de melhor ator. Após o triunfo no prêmio da Academia de Hollywood, ele conquistou mais três indicações na categoria de ator coadjuvante. Em 2008, pelo longa Jogos do Poder; em 2009, por Dúvida; e em 2013, por O Mestre.
Sua última atuação foi na trilogia Jogos Vorazes, trabalho que destoa de suas escolhas anteriores, mas que mostra sua capacidade de fazer boas atuações nos mais variados estilos.

Do auge à queda: Jardel abre o jogo sobre depressão, drogas e recomeço

Após parar de jogar profissionalmente, ídolo do Grêmio tenta se reerguer no futebol amador e encontra na torcida do Tricolor gaúcho a motivação para continuar lutando

Por Rio de Janeiro

Ele é o único brasileiro com duas Chuteiras de Ouro, prêmio concedido aos maiores artilheiros da Europa. Jogou em dez países: Brasil, Espanha, Inglaterra, Argentina, Turquia, França, Chipre, Austrália, Bulgária e Portugal, onde foi ídolo de duas torcidas, a do Porto e a do Sporting. Herói do Grêmio e um dos cinco maiores goleadores da Libertadores, também vestiu a camisa da Seleção 11 vezes. A história vitoriosa nos gramados poderia ser de fama e fortuna fora dele, mas Mario Jardel Almeida Ribeiro, hoje com 40 anos, segue a carreira na pequena cidade de Ibirubá, no interior do Rio Grande do Sul. Lá ele veste a camisa do clube amador Vila Nova. E reconta para o Esporte Espetacular a trajetória que o levou do auge ao abismo.
Nascido em Fortaleza, Jardel começou no Vasco da Gama. A conquista do carioca de 1993, como reserva, foi seu primeiro título como profissional. Em 1995, foi emprestado ao Grêmio para reforçar o elenco na Libertadores, da qual acabou se tornando artilheiro com 12 gols. Em 1996 transferiu-se para o Porto, depois passou por outros clubes até retornar ao Brasil em 2004, para o Palmeiras. Voltou ao exterior, onde passou por um período de condicionamento físico bastante irregular, o que resultou em uma extensa lista de trocas de clubes. 
Jardel diz que a depressão o levou ao uso de drogas (Foto: Reprodução)Jardel afirma que a depressão o levou ao uso de drogas (Foto: Reprodução)

Em 2008, Jardel abriu o jogo para o Esporte Espetacular e revelou o uso de cocaína podia ser o motivo da perda da forma física. Até hoje, ele tenta se reerguer. A meta é encerrar a carreira em um clube profissional, e aproximar-se do Grêmio e de Porto Alegre faz com que Jardel não se sinta sozinho. Confira a seguir trechos da entrevista com o atacante.
Agora eu tenho que dar a volta por cima e provar, primeiro para mim mesmo, que eu consigo. Isso é muito importante. É matar um leão todos os dias para dizer: não, não e não".
Jardel
Depressão e drogas 
Eu não usava drogas todos os dias, era uma vez ou outra. Conheço muitos jogadores que usam e não assumem. Eu assumi, não tenho vergonha. Em todas as profissões existe essa praga que entra nas famílias e estraga tudo. Graças a Deus eu estou feliz por ter isolado muitas pessoas negativas que me influenciavam. Sem dúvida nenhuma, a depressão me levou para as drogas. Era um momento em que eu precisava, pois achava que podia tudo, que não ia acontecer nada comigo, e depois comecei a me sentir mal comigo mesmo. Agora eu tenho que dar a volta por cima e provar, primeiro para mim mesmo, que eu consigo. Isso é muito importante. É matar um leão todos os dias para dizer: não, não e não.
Amizades no futebol
Não tenho nenhum amigo jogador. Fiquei muito decepcionado com muitas pessoas que estavam por perto de mim porque eu estava jogando, estava no auge e tinha dinheiro. Eu pagava tudo, para mim a coisa material é importante, mas se a gente não tiver caráter, se a gente não tiver a paz, não adianta nada.
Em Porto Alegre, em casa
Me sinto como se os torcedores do Grêmio fossem a minha família. Tenho essa história conquistada que não pode ser apagada. Esse foi o principal motivo de vir para Porto Alegre, pelo carinho que eu precisava, me fortalece, me deixa bem eu sair nas ruas e ouvir: "Poxa, Jardel, quanto tempo a gente não ganha um título". A saída de Fortaleza para Porto Alegre foi muito mais importante para mim, para a minha saúde. Com certeza quero deixar uma nova história como treinador, ou apenas deixar uma imagem de que o Jardel está bem.
Jardel com camisa do Vila Nova (Foto: Reprodução)Jardel com camisa do Vila Nova, onde tenta recomeçar (Foto: Reprodução)
Caindo na real
É um mundo diferente o de jogador, é uma paixão mundial. Ainda mais em um país em que somos os melhores do mundo, você se sente o rei onde chega, em qualquer lugar você é conhecido. Eu acho que no Brasil o jogador tem mais moral, é mais conhecido do que presidente. Aí você cai na real, passa por uma depressão e não reage, para de jogar e tem que nascer de novo. Morre, e tem que nascer um novo homem.

Ilusão
Tem uma ilusão interna, e a pessoa se engana. Você tem tudo, mas quando perde, perde a confiança das pessoas, perde no material também, e todo mundo se afasta. Eu quero ver uma pessoa chegar para te ajudar com palavras. Isso é muito complexo. Deus me deu força para ter fé para mudar. Pois estou bem e podendo dar este testemunho para as pessoas, porque no meu nível, aonde eu cheguei e depois dei aquela caída, eu posso te dizer que fui homem para reagir, ser forte para admitir o meu problema.
Quando você para, cadê as televisões? Cadê os microfones? Cadê o público? Você está
sentado na arquibancada,
mas quer estar lá dentro
Jardel
'Cadê os microfones?'
Existe esse baque, essa morte. Eu acho que nós morremos duas vezes nesse mundo de jogador. Quando você para, cadê as televisões? Cadê os microfones? Cadê o público? Você está sentado na arquibancada, mas quer estar lá dentro. As pessoas já não te olham diferente e você tem que botar o pé no chão e dizer: parei de jogar. Agora eu vou cuidar é de mim. 
A queda e a volta por cima
Fica esse testemunho para vocês. Continua prevalecendo a minha fé diária. É o que eu posso dizer do fundo do meu coração. Isso só Deus me passa, essa paz, é só querer. É só querer, a gente consegue tudo. Eu não consegui chegar à Seleção, que era o meu sonho? Consegui ser fraco, mas também não consegui ser forte? Quando a pessoa chega ao fundo do poço financeiramente, emocionalmente, e não tem amigos, a pessoa não reage. Tem que ter fé. Sem dinheiro, sem a fama, as pessoas longe de você, é um caos. É a lei da vida, muitos falam: você vale o que você tem.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sizzurp, a droga de Bieber, já chegou ao Brasil

Mistura feita com xarope para tosse causa dependência e pode levar à morte por parada respiratória

Justin Bieber deixa o local onde estava detido em Miami após ser flagrado dirigindo embriagado
Justin Bieber deixa o local onde estava detido em Miami após ser flagrado dirigindo embriagado - Hector Gabino/Miami Herald/MCT
Preso na última quinta-feira em Miami Beach por dirigir sob efeito e álcool e drogas, o cantor Justin Bieber pode ser usuário de um entorpecente caseiro. Sites de celebridades como TMZ e Radar Online trazem relatos de que o ídolo teen consome drogas com frequência alarmante – em especial, uma mistura batizada de sizzurp. "Essa droga virou febre nos Estados Unidos e está afetando o Brasil. É um problema crescente na saúde pública”, afirma o psiquiatra Ivan Braun, doutor pela Faculdade de Medicina da USP e especialista no tratamento de usuários de drogas. Um levantamento feito em 2005 mostrou que quase 2% dos brasileiros já haviam utilizado o xarope pelo menos uma vez na vida para fins recreacionais.
A droga é feita com xarope para tosse, refrigerante e balas dissolvidas, para melhorar o sabor. O tipo de xarope utilizado tem como principal princípio ativo a codeína – um derivado do ópio, como a morfina. O medicamento ainda contém anti-histamínicos como a prometazina, um antialérgico com efeito tranquilizante.
A mistura gera uma sensação de euforia e bem-estar e, assim como outros entorpecentes, pode causar dependência. "O usuário passa a necessitar de doses cada vez maiores, e quando fica sem a medicação tem síndrome de abstinência", diz Braun. "Outro problema é que, com frequência, há associação com outras drogas, o que aumenta chances de comportamentos de risco." Em doses elevadas, a bebida pode causar redução da respiração e levar à morte.

Saúde pública – Xarope à base de codeína é um medicamento vendido sob prescrição médica, indicado para pacientes com tosse grave. Quando utilizado com supervisão médica, não oferece riscos ao paciente. Em excesso, torna-se prejudicial.
Além dos xaropes para tosse, ansiolíticos, relaxantes musculares e medicamentos para dor – que contêm outros tipos de opioides – também são alvos de abusos. "Uma proposta interessante e muito discutida para inibir o abuso de drogas prescritas é misturar à formulação substâncias de gosto desagradável", diz o médico. O tratamento em caso de excessos geralmente não requer medicação, apenas terapia para estimular o fim do hábito. Em casos mais graves pode ser necessário o uso da clonidina, medicamento usado na desintoxicação por opioides.
Hip-hop e Rap – A origem do sizzurp está associada à cultura do hip-hop, nos Estados Unidos. Acredita-se que a droga tenha se difundido a partir do Texas, onde seu uso se tornou comum na década de 1990. Em 2008, o rapper americano Pimp C teve a morte atribuída a uma overdose de xarope contra tosse. Segundo relados, em 2013, o também rapper Lil Wayne foi hospitalizado pelo mesmo motivo. O cantor menciona a bebida em diversas composições

Legalizar as drogas

"A maioria dos usuários não vira dependente, faz uso recreativo. É preciso proteger um como liberdade individual e o segundo na perspectiva da saúde". Por Jean Wyllys              

 
José Cruz/ABr
Marcha da Maconha em Brasília
"Eu sou a favor da legalização das drogas, porque acho que a única maneira de enfrentar o narcotráfico e toda a violência decorrente dele é legalizar"
Nos últimos dias, veio à tona uma sentença do juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, do Distrito Federal, que absolveu um homem que tinha sido detido pela polícia com 52 trouxas de maconha. Para o juiz, a proibição dessa droga é inconstitucional, já que a portaria do Ministério da Saúde que incluiu os princípios ativos da maconha na lista de entorpecentes ilícitos, deixando fora outras substâncias que também têm efeitos entorpecentes, carece de fundamentação técnica e científica — o que é verdade. O MP apelou e o caso será resolvido agora pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal em novo julgamento. "Soa incoerente o fato de outras substâncias entorpecentes, como o álcool e o tabaco, serem não só permitidas e vendidas, gerando milhões de lucro para os empresários dos ramos, mas consumidas e adoradas pela população. Isso demonstra que a proibição de outras substâncias entorpecentes recreativas, como o THC, são fruto de uma cultura atrasada e de uma política equivocada, e violam o princípio da igualdade, restringindo o direito de uma grande parte da população de utilizar outras substâncias", escreveu o juiz.
Ele merece ser parabenizado pela coragem, num país com governantes, parlamentares e agentes da justiça que calam a boca ou são cúmplices de uma política de guerra as drogas que só traz violência, preconceito, estigmatização e a morte de milhares de crianças e jovens pobres das favelas, além de interferir nas liberdades individuais.

O juiz deve saber que enfrentar a demagogia punitiva e a hipocrisia na questão das drogas é difícil. Na Câmara dos Deputados, eu enfrentei o projeto de lei de Osmar Terra (PMDB-RS) de "endurecimento" da política de drogas, que propunha piorar uma legislação que já é ruim. Contudo, infelizmente, só a bancada do PSOL militou contra. Entre outras aberrações, o que tem avançado nos últimos tempos no Brasil, além da violência que a "guerra às drogas" produz, é a internação compulsória de usuários, que significa um retrocesso na política antimanicomial brasileira e o aporte de dinheiro público em comunidades terapêuticas ligadas a instituições religiosas fundamentalistas que não contam com atendimento à saúde mental ou física, e, em alguns casos já registrados, submetem os pacientes a trabalho escravo. São pontos criticados oficialmente pelo TCU, Fiocruz, conselhos de psicologia e muitos outros órgãos, que não são ouvidos.
É preciso corrigir essas aberrações com urgência, que vão na contramão da revisão que outros países têm feito, substituindo a "guerra às drogas" por um tratamento na perspectiva da saúde pública e das liberdades individuais. No vizinho Uruguai, a maconha foi legalizada; na Argentina, a Corte Suprema declarou inconstitucional a criminalização do consumo de drogas e do cultivo para uso pessoal, e até nos EUA, o presidente Obama fez recentemente declarações bastante sensatas, reconhecendo que a criminalização não é uma boa política. Mas no Brasil é difícil e, quando tem boas iniciativas - que mesmo sem chegar ao fundo do problema significam um avanço importante - como o programa para os usuários de crack implementado pelo prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o "Braços abertos", elas são desqualificadas por setores da política e da mídia que, com uma grande irresponsabilidade, só defendem a repressão.

Eu sou a favor da descriminalização do consumo e sou radicalmente a favor da legalização de todas as drogas, porque acho que a única maneira de enfrentar o narcotráfico e toda a violência decorrente dele é legalizar. Essa é, aliás, a posição do PSOL, que tem um grande acúmulo e muita pesquisa e trabalho sério e comprometido sobre o tema. Estamos preparados para dar esse debate.
Para isso, precisamos ser claros, porque a questão das drogas está cercada de falácias e preconceitos. Existe o usuário, que faz uso recreativo, e o dependente, que é outra situação. Mas como diz Eduardo Galeano, "a culpa não é da faca". A maioria dos usuários de drogas não vira dependente, mas apenas faz uso recreativo, por isso é necessário distinguir o uso do abuso, proteger o primeiro como liberdade individual e tratar do segundo na perspectiva da saúde, ajudando o dependente, como se faz com o alcoólatra ou com aquele que abusa do Lexotan ou de determinados analgésicos ou antidepressivos. Pensemos no álcool: o abuso dele traz mais problemas à sociedade que o próprio crack, enquanto seu uso recreativo não traz problema algum, é socialmente aceito, faz parte da cultura, da religião e é até mesmo incentivado. Quase toda a população consome álcool, mas nem toda a população é alcoólatra! Da mesma forma, os usuários recreativos de maconha, cocaína, êxtase ou qualquer outra droga têm de ter sua liberdade respeitada: se alguém tem o direito de encher a cara num bar ou em casa, também tem o direito de fumar um baseado! Você nunca fez? Isso está dentro da liberdade individual, e a pessoa tem de estar consciente dos danos que aquela droga pode causar.
O cigarro (de tabaco) é a droga que mais mata e ninguém vai preso por isso! A gente pode criar uma política de prevenção aos males do fumo porque o fumo é legal, quem fuma hoje sabe que o cigarro pode provocar câncer de pulmão a longo ou a médio prazo, mas a pessoa tem o direito de fumar se ela quiser. Da mesma maneira, a gente só tem a lei seca e políticas para conter os danos do uso do álcool porque o álcool é regulamentado. E ambas as substâncias são produzidas de acordo com determinadas regras, com informação explícita sobre o seu conteúdo e princípios ativos e mecanismos de controle estatal que devem garantir a qualidade do produto, e são comercializadas dentro do circuito legal, com restrições sobre a quem, quando e onde podem ser vendidas. O mesmo deveria acontecer com a maconha e outras drogas atualmente ilícitas.
Por outro lado, as políticas de criminalização e combate, em todo o mundo, apenas reforçaram o poder das redes de crime organizado, já que estas se valem da corrupção do agente público para atuar livremente, com grande lucro. As drogas que hoje são ilegais, na prática, têm sua comercialização regulada pelo Estado de maneira informal, através das polícias e outros agentes do sistema. Falamos em uma economia paralela que seis anos atrás se estimava movimentar mais de 800 bilhões de dólares. Tudo isto apesar da repressão patrocinada por todos os países, principalmente os EUA. Foi nesse país que, entre 1920 e 1933, o fortalecimento da máfia se deu exatamente com a proibição do consumo e da venda do álcool, que não trouxe qualquer benefício para a população.
Há ainda toda uma série de consequências sociais das políticas atuais, que parecem ser ignoradas pela população mais abastada — cuja maior preocupação é a violência do usuário do crack e o fato de o filho ser abordado pelo traficante na saída do colégio —, e que influem diretamente na vida das comunidades mais pobres, que vivem à margem do Estado, como forma de higienização social. A forma como as crianças e adolescentes das comunidades são vulnerabilizados ao crime organizado pela ausência de interesse do Estado em lhes dar as mesmas condições de humanização e de vida com pensamento jamais será corrigida com políticas de repressão ao consumo de drogas! Muito pelo contrário, só piora!
Por último, a criminalização não produz qualquer benefício à sociedade nem sequer naquilo que implicitamente promete. Alguns ingenuamente ainda acreditam que a simples proibição impede que alguém faça uso de alguma substância, mas está provado que isso não acontece. O consumo de drogas não se reduziu pela criminalização, mas aconteceu o contrário. E o que temos, então, é crime organizado, violência, corrupção policial, insegurança, milhares de mortes, criminalização de jovens das favelas e das periferias, presídios lotados onde esses jovens têm seu futuro aniquilado e drogas de má qualidade vendidas de maneira informal, sem controle, a pessoas de qualquer idade, em qualquer sítio e sem pagar impostos. Tudo errado!
O caminho é outro. Legalizar o consumo é tirar o usuário recreativo da inútil marginalidade e estigmatização. Regular a venda e permitir a esse usuário que produza o suficiente para seu próprio consumo é reduzir a influência do traficante e, portanto, reduzir a violência, a criminalidade, a marginalidade e a morte.
O Brasil precisa mudar o paradigma. Hoje o País é um importante corredor do tráfico internacional, as redes de tráfico operam livremente no país, beneficiadas pela corrupção policial. Nas comunidades carentes, as crianças, sem educação e sem perspectiva, veem no tráfico uma forma de mobilidade social. E quem é preso é sempre aquele jovem que atua no varejo, nunca o grande traficante que alimenta a corrupção e a violência e leva o dinheiro para os paraísos fiscais. Ou seja, as políticas atuais jamais surtirão efeito, como hoje não surtem. Se avaliarmos a eficiência dessas políticas em relação ao dinheiro empregado nelas e os danos terríveis que causaram, o erro fica evidente.
O problema, como quase sempre, é a falta de coragem para bancar debates difíceis como esse. O mais fácil, sempre, é defender o status quo, se filiar aos discursos mais demagógicos ou se fazer de bobo. Mas a nossa função, como referentes políticos, é assumir riscos, inclusive eleitorais, para defender as ideias em que acreditamos e promover os debates que achamos sinceramente que o país precisa. E esse é um deles. Quanto mais tempo demorarmos, mais gente vai morrer inutilmente e mais jovens vão ter seu futuro trancado.

Celebridades que sucumbem à overdose por drogas e remédios revelam a fragilidade diante do vício

Médicos, jornalistas, atores e cantores são mais suscetíveis a sofrer com o vício em drogas e remédios

Celebridades que sucumbem à overdose por drogas e remédios revelam a fragilidade diante do vício Paris Filmes/Divulgação
Philip Seymour Hoffmann contracena com Joaquin Phoenix no filme "The Master", de 2012. O ator morreu no último dia 2, aos 46 anos Foto: Paris Filmes / Divulgação
 
No auge do sucesso, com uma carreira brilhante pela frente, o sujeito aparece morto no seu apartamento ou em um quarto de hotel. A causa é quase sempre a mesma: overdose de drogas ou medicamentos. A história não é nova e nem rara, mas cada vez que uma notícia dessas toma conta das capas das revistas e sites mundo afora, o fantasma do vício em entorpecentes volta às manchetes, suscitando o assunto na sociedade. O último personagem a encenar essa triste cantilena foi Philip Seymour Hoffmann, um dos atores mais talentosos de Hollywood. Encontrado morto em seu apartamento no último dia 2, possivelmente vítima de overdose de heroína (estava com uma seringa fincada no braço), ele é a mais recente prova de que fama e sucesso podem significar nada diante do irresistível apelo das drogas.

Para a psiquiatra e coordenadora do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Fernanda Ramos, o caso de Hoffmann ilustra uma estatística devastadora: atores, cantores, jornalistas e profissionais de saúde - especialmente médicos - são mais suscetíveis a sofrer com o vício em drogas e remédios.

— A morte de pessoas famosas chama a atenção para um número assustador. De acordo com a ONU, 200 mil pessoas morreram de overdose no mundo em 2013 — alerta.

A alta carga de estresse a que estão submetidos esses indivíduos é o que justifica a estatística. No caso dos artistas, também há uma glamourização das drogas. Vide o recente caso do cantor teen Justin Bieber, que sorriu orgulhoso ao ser preso depois de dirigir sob o efeito de álcool e remédios controlados.

— Drogas e medicamentos podem ter efeito estimulante no começo, o que pode favorecer a carreira. Mas é bom lembrar que isso é efêmero, é uma ilusão. Essas substâncias cobram seu preço — ressalta Fernanda.

As carreiras longevas de artistas "certinhos" ajudam a sustentar a afirmação. Paul McCartney, apesar de admitir ter experimentado todas as drogas com os Beatles, abraçou há muito um estilo de vida saudável, sem extravagâncias de qualquer natureza. Hoje, aos 71 anos, é o artista mais bem pago do showbizz. Angelina Jolie, que no início da carreira fazia o tipo bad girl, adepta do sexo livre e do uso de drogas, viu a própria imagem ser catapultada ao casar-se com Brad Pitt e assumir o lado mãe zelosa. O primeiro passo para fugir da armadilha é a prevenção. Resistir é sempre mais fácil do que abandonar o vício, diz Fernanda. Contar com a adesão do usuário ao tratamento é o principal fator de sucesso em casos de reabilitação.

O exemplo de Philip Seymour Hoffmann, que internou-se em 2013 para tentar abandonar o vício, prova que esse é o papel mais difícil de representar. Mesmo para um dos atores mais geniais de todos os tempos.


Seymour Hoffman escreveu sobre drogas e "demônios" interiores em diários

Philip Seymour Hoffman

O ator Philip Seymour Hoffman em premiação em Nova York (10/01/2006) Leia mais AP
Philip Seymour Hoffman deixou anotações em dois diários privados que falam de seus "demônios" interiores através do abuso de drogas e álcool e que mostravam confusas reflexões aparentemente escritas sob efeitos de heroína, divulgou nesta terça-feira (11) a emissora "NBC".

A polícia encontrou dois pequenos diários escritos à mão pelo ator, que morreu há nove dias, onde falava de sua luta contra a dependência química, suas reuniões nos Narcóticos Anônimos na parte baixa de Manhattan, mas que também tinha algumas partes em que começava a escrever de maneira clara e depois se transformavam em textos ininteligíveis.
Ampliar

RIP, Philip Seymour Hoffman: Cinco casos em que ele é melhor que o filme5 fotos

1 / 5
Em "Twister" (1996), do diretor Jan de Bont, Hoffman vive o carismático caçador de tornados Dustin "Dusty" Davis Reprodução
"É um fluxo de pensamento e é difícil de seguir", explicou uma fonte à "NBC". "Em uma linha se refere a 'Frank, o que sempre deve dinheiro' e na mesma página escreve sobre uma menina de 15 anos do Texas", prosseguiu.

No entanto, para a investigação, embora haja nos diários referências à compra de drogas, a polícia indicou que as pistas que conduziram à detenção de quatro pessoas foram resultado de testemunhos surgidos por causa da midiática morte ator de "Magnólia".

Dos quatro detidos, só um deles, Robert Vineberg, enfrenta acusações de posse de heroína com intenção de ser vendida, enquanto os outros três se declararam inocentes.

Philip Seymour Hoffman foi encontrado morto em seu apartamento do West Village de Nova York no domingo, 2 de fevereiro, vítima de uma supostas overdose de heroína. Tinha 46 anos e sua inesperada morte comoveu toda a classe artística.

Na casa de Hoffman foram encontrados 50 papelotes de heroína. Hoffman ficou limpo por 23 anos. Além dos diários, a polícia encontrou vários livros de Truman Capote no apartamento, cujo filme biográfico, "Capote", deu a ele o Oscar de melhor ator em 2005.
O funeral do ator foi realizado na última sexta (7), na igreja católica Santo Inácio de Loyola, em Nova York, com presença apenas de familiares e amigos.

Família e amigos se despedem de Philip Seymour Hoffman em Nova York

 Corpo de Philip Seymour Hoffman chega ao funeral privado na Igreja San Ignacio Leia mais EFE/Andrew Gombert

Programa na cracolândia tem 25% de baixa adesão

Estimativa é de ONG que faz gestão do projeto e é responsável por pagamentos
Apenas os usuários cadastrados que varreram as ruas serão remunerados; valor da diária é de R$ 15
 
ARETHA YARAK, DE SÃO PAULO
 
Um quarto dos 386 viciados que moram na cracolândia e estão cadastrados em programa da Prefeitura de São Paulo não aderiram completamente ao programa de trabalho e tiveram frequência baixa. Por isso, não devem receber o pagamento hoje.
A estimativa é da ONG União Social Brasil Gigante, que tem um convênio com a prefeitura para a gestão do projeto e é responsável pela remuneração dos usuários.
Intitulada Braços Abertos, a ação iniciada no dia 16 busca recuperar dependentes de drogas da região oferecendo tratamento, abrigo e trabalho.
A maior parte dos usuários cadastrados foi colocada no serviço de varrição de ruas e praças. Para cada dia trabalhado, eles recebem R$ 15.
"Esse grupo de 25% aparece de vez em quando, some e depois volta. Não há um interesse", diz Carlos Alberto de Souza, diretor financeiro da entidade e responsável pelas ações na cracolândia.
No primeiro pagamento, na semana passada, todos os participantes receberam pela semana cheia, independentemente da presença.
A partir de hoje, o programa entregará o valor apenas dos dias trabalhados. Usuários que faltaram, mas comprovaram a ausência com um atestado médico também vão receber o dinheiro.
De acordo com a organização, os usuários foram avisados da mudança.
Apesar de não trabalharem nos finais de semana, todos receberão por esses dois dias.
Isso acontece porque a ação prevê a remuneração pela presença em atividades culturais agendadas para os fins de semana, mas que ainda não tiveram início.
"Nossa tenda estará pronta apenas no segundo fim de semana de fevereiro. Lá, eles poderão fazer teatro ou ver filmes", diz Souza.
LISTA DE PRESENÇA
Para receber pelo dia trabalhado, o usuário precisa assinar a lista de presença duas vezes. A primeira às 9h, quando sai com o grupo, e novamente por volta das 12h, quando a jornada termina.
"Tem um pessoal que aparece uniformizado, assina a lista pela manhã, mas depois não volta. Se tiver apenas uma assinatura, não é considerado", explica Souza.
De acordo com ele, um próximo passo é abrir o diálogo com os médicos de postos de saúde da região.
"Os usuários têm apresentado um volume muito grande de atestados. Vamos alertar esses médicos do que vem acontecendo", diz.
Procurada ontem, a prefeitura não se manifestou.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Especialistas se dividem sobre distinção entre usuário e traficante em projeto aprovado

Aumento da pena para tráfico, outro ponto do texto de Osmar Terra, também é alvo de polêmica

Mariana Timóteo da Costa 
SÃO PAULO - O novo projeto de lei sobre drogas, de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB-RS) e aprovado na quarta-feira à noite pela Câmara, divide opiniões de especialistas consultados pelo GLOBO. Alguns pontos do texto, afirmam, vão contra estratégias mais bem-sucedidas de países que não tratam o usuário como criminoso, como Portugal, Suíça ou Holanda, e que aplicam políticas de redução de danos.


Além da internação involuntária, o projeto prevê financiamento de comunidades terapêuticas com dinheiro público e o aumento de 5 para 8 anos da pena mínima de prisão para traficantes.
— Aumentar a pena de um traficante sem explicitar o que constitui o tráfico é um erro. As comunidades terapêuticas também não se mostram eficazes, a quantidade de gente que volta a ser internada é imensa. O país deveria estar discutindo políticas para reinserir este usuário à sociedade, isolá-lo não é a solução. O Brasil está andando para trás — disse o neurocientista Renato Filev, do Desentorpecendo a Razão, também organizador da Marcha da Maconha em SP.
Marcada para o próximo dia 8 de junho na Avenida Paulista, a manifestação promete “tratar esta nova legislação como prioridade, para ela ser rejeitada pelo Senado e pela Presidência”, diz Filev. Seu grupo é a favor da legalização completa.
Solução “meio termo” seria, segundo Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e integrante da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), aquela prevista no manifesto lançado esta semana, no Rio, por cientistas de universidades e instituições de pesquisa: a descriminalização do uso de drogas. Os signatários pediam que o Congresso alterasse a atual Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), incluindo, de forma objetiva, um limite da quantidade de cada entorpecente que um indivíduo pode portar (ou plantar) para ser considerado usuário, e não traficante.
— O dependente químico deve ser tratado como doente, não como criminoso. Seria uma solução menos radical do que a legalização — diz Lent.
Lent sugere que, após o estabelecimento de limites da quantidade de entorpecentes que os cidadãos poderiam portar sem serem criminalizados, a fiscalização seja feita nos mesmos moldes da Operação Lei Seca:
— Os agentes não usam bafômetro para medir o quanto de álcool alguém consumiu? Ele poderia ter uma balança para medir a quantidade de droga carregada. Esta nova legislação não define nem isso, é muito ambígua em relação ao que é tráfico ou não. Fica-se muito passível à interpretação policial, e isso é um risco.
Filev classifica qualquer pequeno traficante — “aquele que provavelmente pegará as novas penas de oito anos de prisão” — “como vítima do sistema, tanto quanto o usuário”.
Ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo, Januario Montone acha que a lei é um retrocesso na questão da segurança, porque “confunde mais ainda quem é traficante ou não”. Mas avança na questão do tratamento, ao permitir que doentes sejam internados mesmo sem expressarem vontade para tanto:
— Não aprovaria do jeito que ela está, por conta da questão da segurança pública. O país avançaria muito mais se estabelecesse quem faz tráfico e quem apenas usa. Qual o critério que será usado para mandar um traficante para a cadeia? — indaga Montone, elogiando a nova lei, porém, por trazer o tema do combate às drogas de volta à pauta.

Evento discute necessidade de mudar política sobre drogas

Experiências que deram certo na Europa e no Uruguai são apresentadas

O Globo 
RIO — A apresentação de experiências bem-sucedidas no Uruguai e na Europa marcou o primeiro dia do fórum internacional As Ruas e as Drogas: Competências e Inovações, nesta quinta-feira, no Memorial Getulio Vargas, na Glória. O encontro, que termina no sábado, é uma iniciativa da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), do Viva Rio e da Open Society Foundations, com apoio da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. A diretora do Global Drug Policy da Open Society Foundations, Kasia Malinowska, destacou experiências de países, como Suíça, Portugal e Holanda, e os avanços na saúde, após as mudanças das políticas de combate e prevenção das drogas.
— Na Suíça, primeiro país a adotar tratamento para dependentes de heroína, caiu o número de pessoas contaminadas pelo HIV. Em Portugal, a descriminalização reduziu os casos de overdose de 400 para 290 por ano. É preciso haver a descriminalização para que as intervenções de saúde tenham eficácia — disse.
Já a médica Raquel Peyraube, assessora do governo do Uruguai, falou sobre experiências em seu país, que reformulou a política das drogas, e relatou as propriedades medicinais da cannabis (maconha).
— O Uruguai entendeu que era preciso mudar a política para melhorar a segurança. A população, de um modo geral (62%), é contra a nova política, mas o uso da cannabis medicinal agora tem 50% de aprovação, e isso está crescendo. Esperamos que este momento histórico seja o princípio do fim para a América e para o mundo todo — concluiu.
Na abertura do evento, o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore André Zílio Maximiano, divulgou os resultados parciais de uma pesquisa em andamento que aponta que 80% dos consumidores de crack utilizam a drogas nas ruas, e 80% têm vontade de se livrar das drogas.
— Outro dado muito significativo é que há uma prevalência maior do uso da droga na Região Nordeste do que na Sudeste. Esse dado nos surpreendeu. Em números totais, no Nordeste, o número de usuários é maior do que nas quatro capitais do Sudeste. Não só o Brasil, mas o mundo tem um grande desafio de como tratar a dependência do crack e da cocaína — avaliou Maximiano.
Para Maximiano, a grande discussão é definir se o país deve caminhar em direção à descriminalização, como ocorreu no Uruguai, ou se deve manter a lógica atual.
— Hoje, no país, nenhuma pessoa pode ser presa porque porta drogas para o seu consumo. Ainda trata como tipo penal, mas com alternativas. Esse é o grande debate. O país deve fazer esse caminho para a descriminalização ou devemos manter essa lógica? Talvez, neste momento, haja a necessidade de buscar critérios mais objetivos para fazer a distinção emtre, de um lado, o tráfico e, de outro, o porte para consumo pessoal. Promover essa distinção é que é o grande desafio — concluiu.

No INSS, pedidos de auxílio-doença para usuários de drogas triplicam em oito anos

No mesmo período, o benefício concedido a viciados em cocaína e seus derivados, como crack e merla, também mais do que triplicou
Gustavo Uribe

Na estatística. O eletricista Cleber Franchi, que bebia três litros de álcool por dia e teve duas overdoses, hoje está internado e recebe R$ 1.500 por mês do INSS
Foto: O Globo / Marcos Alves
Na estatística. O eletricista Cleber Franchi, que bebia três litros de álcool por dia e teve duas overdoses, hoje está internado e recebe R$ 1.500 por mês do INSS O Globo / Marcos Alves
SÃO PAULO — Por anos, o eletricista Cléber Wilson do Prado Franchi, de 35 anos, conciliou a rotina de trabalho com o vício do álcool e da cocaína. Em 2011, um aumento no consumo das duas drogas levou o profissional a apresentar sintomas como perda de raciocínio e coordenação, e fez com que ele fosse demitido da multinacional onde trabalhava. Nessa época, ele ingeria três litros de álcool por dia e chegou a ter duas overdoses. Em busca de ajuda, internou-se em uma clínica de reabilitação e, desde 2012, recebe um auxílio-doença mensal no valor de R$ 1.500. Isso fez com que ele entrasse em uma estatística preocupante que vêm crescendo nos últimos anos. O consumo de drogas no Brasil não só cresce, como também afasta cada vez mais brasileiros do mercado de trabalho.
Nos últimos oito anos, o total de auxílios-doença relacionados à dependência química simultânea de múltiplas drogas teve um aumento de 256%, pulando de 7.296 para 26.040. No mesmo período, o benefício concedido a viciados em cocaína e seus derivados, como crack e merla, também mais do que triplicou. Passou de 2.434, em 2006, para 8.638, em 2013, num crescimento de 254%. O uso de maconha e haxixe resultou, por sua vez, em auxílio para 337 pessoas, em 2013, contra 275, há oito anos.
Os dados inéditos foram obtidos pelo GLOBO com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ao todo, nos últimos oito anos, a soma de auxílios-doença concedidos a usuários de drogas em geral, como maconha, cocaína, crack, álcool, fumo, alucinógenos e anfetaminas, passou de um milhão. Só em 2013, essa soma alcançou 143.451 usuários.
Segundo o INSS, o total gasto em 2013 com auxílios-doença relacionados a cocaína, crack e merla foi de R$ 9,1 milhões. Os benefícios pagos a usuários de mais de uma droga somaram R$ 26,2 milhões. E a cifra total, relativa a todas as drogas (incluindo álcool e fumo), chegou a R$ 162,5 milhões.
O auxílio-doença varia de R$ 724 a R$ 4.390,24, de acordo com o salário de contribuição do segurado. O valor mensal médio pago a um dependente químico de cocaína e seus derivados é de R$ 1.058, e a duração média de recebimento é de 76 dias. Para ter direito, o segurado precisa de autorização de uma perícia médica e de atestados e exames que comprovem tanto a dependência química quanto a incapacidade para o trabalho. O tempo de recebimento do benefício é determinado pelo perito.
Uso de cocaína cresce no Brasil
A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), a psiquiatra Ana Cecilia Petta Roselli Marques, observou que, por conta do aumento do consumo de cocaína e crack, era esperado que houvesse um impacto também no mercado de trabalho brasileiro. A última edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que, entre 2006 e 2012, duplicou o consumo de cocaína e seus derivados no Brasil. A pesquisa mostrou ainda que um em cada cem adultos consumiu crack em 2012, o que faz do país o maior mercado mundial do entorpecente. Na avaliação da psiquiatra, o consumo da droga já se tornou epidemia.
— Era esperado que tivesse um impacto no mercado de trabalho do país, com repercussões, por exemplo, em auxílios-doença para cuidar da saúde. Por conta do uso, o trabalhador adoece cada vez mais cedo, principalmente do sistema cardiovascular. E há também a questão da mortalidade precoce. É uma epidemia, o que é visto pelo número de casos novos na população ao longo dos anos —explicou Ana Cecília.
No ano passado, apenas os estados de Alagoas, Roraima e Sergipe não tiveram aumento do número de auxílios-doença relacionados ao uso de drogas em relação a 2012. Em São Paulo, estado que historicamente concentra o maior número de beneficiados, o total de auxílios-doença passou de 41 mil para 42.649. Na sequência, estão Minas Gerais (de 18.527 para 20.411), Rio Grande do Sul (de 16.395 para 16.632), Santa Catarina (de 13.561 para 14.176) e Paraná (de 9.407 para 10.369).
O diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, observa que o Brasil é um dos poucos países em que o consumo de crack e cocaína têm aumentado nos últimos anos.
— As pesquisas mostram que há, nos domicílios brasileiros, um milhão de usuários de crack e 2,6 milhões de usuários de cocaína. E uma parcela dessas pessoas trabalha. Então, não há dúvida de que tem um impacto no mercado de trabalho.
Em virtude do aumento da dependência química, o Ministério da Saúde informou que aumentará neste ano a capacidade de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) 24 horas. Atualmente, o Brasil tem 47 unidades em funcionamento, com capacidade para 1,6 milhão de atendimentos por ano. O governo federal afirma que vai construir mais 132 unidades até o fim do ano, elevando a capacidade para 6,1 milhões de atendimentos anuais.
No Rio, concessão de benefício cresce 25% em um ano
No Rio de Janeiro, que historicamente é o sexto estado que mais concede auxílios-doença relativos a drogas, o pagamento do benefício cresceu 10% em 2013, passando de 6.577, em 2012, para 7.234. No mesmo período, a quantidade de benefícios concedidos a dependentes químicos de cocaína e crack teve um aumento de 25,2%, crescendo de 471 para 590.
No estado, sete de cada dez pacientes que procuram o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj — uma das principais referências no assunto — são dependentes de crack. Em geral, eles têm a opção de aderir a um tratamento em um dos 27 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) existentes na capital fluminense. Os Caps são unidades especializadas em saúde mental e buscam a reinserção social dos indivíduos que padecem de transtornos mentais graves e persistentes. Eles estão abertos ao usuário que quiser ajuda, mas também recebe pessoas encaminhadas pela assistência social ou por ordem judicial. Sua equipe é multidisciplinar e reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras.
Mas os espaços para acolhida costumam ser pequenos para a demanda. Nesse cenário, sofrem até os bebês que são abandonados por mães viciadas em crack e superlotam os abrigos existentes.
Em 2013, em entrevista ao GLOBO, a juíza titular da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da capital, Ivone Ferreira Caetano, alertou que os abrigos oferecidos pela prefeitura tinham virado verdadeiros depósitos de crianças. Em resposta, a Secretaria municipal de Desenvolvimento Social informou que a “lotação da rede pública para crianças de zero a 4 anos estava diretamente ligada à diminuição da capacidade de atendimento em clínicas e abrigos particulares” e que o abrigo Ana Carolina, em Ramos, seria reaberto.
Para atuação policial nas cracolândias do Rio, o Ministério da Justiça encaminhou ao estado, em novembro, armamento de baixa letalidade. A polícia recebeu 250 kits com pistolas de eletrochoque e spray de pimenta.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Venda de bebidas alcoólicas abaixo do preço é proibida na Inglaterra


Jornal Folha de S. Paulo

DE SÃO PAULO

O governo vai proibir a venda da bebida alcoólica abaixo do preço de custo na Inglaterra e no País de Gales.
Segundo o jornal inglês The Guardian, ministros esperam que a medida, que entra em vigor no dia 6 de abril, breque os grandes descontos das redes de supermercados, que levaram uma lata de cerveja a custar menos do que água nesses estabelecimentos.
O novo “piso” para uma garrafa de vinho vai ser de aproximadamente R$ 10; uma garrafa de vodca vai custar, no mínimo, R$ 39.
Albert Gea/Reuters
An employee looks for a bottle at a wine shop in Alella, near Barcelona October 30, 2013. Spain just pulled clear of recession in the third quarter and inflation eased in October, data showed, laying foundations for a gradual recovery in consumer spending though the country's economic crisis looks far from over. Gross domestic product (GDP) inched 0.1 percent higher between July and September, state statistics agency INE said, notching up the first quarter-on-quarter growth since the beginning of 2011 and officially ending a two-year slump. REUTERS/Albert Gea (SPAIN - Tags: BUSINESS) ORG XMIT: BAR104
Funcionária em loja de vinhos
Cervejas de baixo teor alcoólico (1,2% ou menos) serão isentas da medida, assim como os free shops.
Segundo o jornal, ativistas da área de saúde acusaram os ministros de cederem à pressão da indústria de bebidas, em julho passado, quando eles rejeitaram um projeto que definia um preço unitário mínimo para o álcool e a proibição de promoções.
A Alcohol Health Alliance, que inclui universidades de medicina, disse que o impacto desta medida será insignificante.
Avaliação do impacto, publicado na terça-feira (4) confirma que é provável que a medida é atinja apenas 1,3% de todas as vendas de álcool, principalmente em supermercados.
A exposição de motivos que justificam a proibição, apresentados pela ordem parlamentar, diz que o “governo está empenhado em garantir que os casos mais graves de venda de álcool por baixos preços sejam proibidos”.
Os ministros insistem que venda abaixo do preço é um problema real, pois seis ou sete dos maiores supermercados ingleses já foram flagrados vendendo álcool a até 12% abaixo do preço de custo.
Eles também apontam para a crescente evidência de “esquentas”: dois terços dos jovens que foram presos por crime e desordem relacionada ao álcool em uma cidade inglesa admitiram ter se “afundado” com os baixos preços de bebida dos supermercados antes de sair para uma festa.
A avaliação de impacto oficial estima que a medida levará a uma economia de R$ 21 milhões por ano em benefícios para a saúde e R$ 14,2 milhões na economia de criminalidade.
A proibição será imposta através da introdução de uma condição de licenciamento obrigatório para todos aqueles que vendem álcool. Funcionários dizem que não esperam que as vendas de fora da Inglaterra e País de Gales através da Internet sejam um problema significativo, mas vai mantê-lo sob revisão.
Eric Appleby, diretor-executivo da Alcohol Concern, descartou o movimento: “A ideia de que a proibição de vendas abaixo do custo vai ajudar a resolver o nosso problema com o álcool é risível, é confuso e quase impossível de implementar. Além de tudo isso, os relatórios mostram que a medida teria um impacto em apenas 1% dos produtos de álcool vendido em lojas e supermercados, deixando intocadas bebidas que são tão descaradamente dirigidas aos jovens”.
“O governo está perdendo tempo enquanto evidências internacionais mostram que preço mínimo unitário é o que nós precisamos para salvar vidas e diminuir crimes”.
O ministro Norman Baker, entretanto, afirma que “a proibição da venda de álcool abaixo do preço vai parar os piores exemplos de consumo de bebida muito barata e prejudicial”. E completa: “É parte de uma ampla gama de medidas que estamos tomando, inclusive desafiando a indústria das bebidas de desempenhar um papel maior no combate aos abusos de álcool.”

A farsa de Fernando Haddad, na Cracolândia, vai chegando ao fim; Prefeitura quer romper com ONG “Brasil Gigante”; dependente contratada em gabinete do prefeito para fazer propaganda sumiu

reinaldo-azevedo 

Blog do Reinaldo Azevedo

A farsa inventada pela equipe de marketing do prefeito Fernando Haddad, com o apoio deslumbrado e desinformado de quase toda a imprensa, vai chegando ao fim. A Prefeitura estuda romper o convênio com a ONG “Brasil Gigante” porque, como era óbvio, como estava escrito nas estrelas, como era fatal que acontecesse, o programa já naufragou.

Só uma parte ínfima dos dependentes comparece regularmente para trabalhar. Só mesmo a estupidez, aliada a uma boa dose de má-fé, supõe que se possam fornecer, gratuitamente, casa e comida a dependentes — além de uma renda — na esperança de que isso conduza à reinserção social, à diminuição do consumo ou mesmo à abstinência.
Há estudos experimentais na área da psicologia comportamental que recorrem ao dinheiro para controlar o ímpeto dos dependentes. Como? À medida que cumprem determinados desafios, são recompensados. A coisa passa por mecanismos delicados, em cujo mérito não entro, mas se pode resumir assim: os que estão em tratamento são recompensados por seu esforço. A ideia é tornar o não consumo mais vantajoso do que o consumo.
Segundo pessoas que lidam com a área, o resultado é satisfatório dentro do possível. O trabalho requer um acompanhamento detido, e não se tem experiência ainda dessa prática com  grupos grandes.
O programa da Prefeitura faz exatamente o contrário: RECOMPENSA O USUÁRIO PELO CONSUMO, ENTENDERAM? Dele, nada se exige no que diz respeito à droga: apenas que compareça para trabalhar por quatro horas. Se quiser, e só se quiser, tem mais duas para um trabalho de qualificação profissional. Assim, a Prefeitura de São Paulo fez o seguinte e magnífico programa:
a: concentrou todos os usuários num ambiente favorável ao consumo;
b: cercou, digamos, moralmente a Cracolândia, de sorte que a polícia não pode mais entrar lá nem para prender traficantes;
c: deu aos usuários o conforto de cama e comida sem exigir nada em troca;
d: remunera-o com R$ 15 se aparecer para trabalhar;
e: como esse trabalho não o obriga a participar de um programa, o dependente o utiliza como elemento de ajuste de suas necessidades de consumo. Se conseguir dinheiro de algum outro modo para consumir, não aparece; se não conseguir, trabalha o suficiente para obter o dinheiro que vai sustentar o vício;
f: não por acaso, e a lógica existe, a única consequência conhecida do programa até agora é a elevação do preço da pedra no dia do pagamento e no seguinte;
g: isso pode contribuir, inclusive, para baixar a qualidade da pedra — com ainda mais impurezas —, já que continuará a demanda pelo produto barato.
As demais consequências, que implicam, por exemplo, a eternização do Centro de São Paulo como área do crack, vocês já conhecem.
Esse esgoto moral a céu aberto só é possível porque vivemos tempos simpáticos ao consumo de drogas.
A “Ana” do Cafezinho
Para demonstrar a sua fé no programa, o prefeito Fernando Haddad anunciou que contrataria uma dependente para servir cafezinho em seu gabinete. Contratou. A mulher ficou uma semana por lá e sumiu, voltou para o fluxo. A Prefeitura a procura desesperadamente. Tudo o que não quer é que seja encontrada antes por jornalistas.
Se bem que, dado o estado das artes, é possível que nem se desse grande destaque à coisa. Afinal, a “sabedoria” firmada a respeito, sabe-se lá com o concurso de quais especialistas e de quais estudos, é que o moralmente progressista é estatizar o viciado e lhe fornecer todas as condições para que consuma a droga em paz e, como dizem eles, “com dignidade e segurança”.
Só para arrematar: o novo ministro da Saúde, o sr. Arthur Chioro, é um fanático dessa política.
PS: Pode até ser que a Prefeitura já tenha encontrado a “Ana” quando este post for a público. Enquanto escrevo, a mulher está sumida no “fluxo”. Coisas da Bolsa Crack da Haddodolândia.