quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sizzurp, a droga de Bieber, já chegou ao Brasil

Mistura feita com xarope para tosse causa dependência e pode levar à morte por parada respiratória

Justin Bieber deixa o local onde estava detido em Miami após ser flagrado dirigindo embriagado
Justin Bieber deixa o local onde estava detido em Miami após ser flagrado dirigindo embriagado - Hector Gabino/Miami Herald/MCT
Preso na última quinta-feira em Miami Beach por dirigir sob efeito e álcool e drogas, o cantor Justin Bieber pode ser usuário de um entorpecente caseiro. Sites de celebridades como TMZ e Radar Online trazem relatos de que o ídolo teen consome drogas com frequência alarmante – em especial, uma mistura batizada de sizzurp. "Essa droga virou febre nos Estados Unidos e está afetando o Brasil. É um problema crescente na saúde pública”, afirma o psiquiatra Ivan Braun, doutor pela Faculdade de Medicina da USP e especialista no tratamento de usuários de drogas. Um levantamento feito em 2005 mostrou que quase 2% dos brasileiros já haviam utilizado o xarope pelo menos uma vez na vida para fins recreacionais.
A droga é feita com xarope para tosse, refrigerante e balas dissolvidas, para melhorar o sabor. O tipo de xarope utilizado tem como principal princípio ativo a codeína – um derivado do ópio, como a morfina. O medicamento ainda contém anti-histamínicos como a prometazina, um antialérgico com efeito tranquilizante.
A mistura gera uma sensação de euforia e bem-estar e, assim como outros entorpecentes, pode causar dependência. "O usuário passa a necessitar de doses cada vez maiores, e quando fica sem a medicação tem síndrome de abstinência", diz Braun. "Outro problema é que, com frequência, há associação com outras drogas, o que aumenta chances de comportamentos de risco." Em doses elevadas, a bebida pode causar redução da respiração e levar à morte.

Saúde pública – Xarope à base de codeína é um medicamento vendido sob prescrição médica, indicado para pacientes com tosse grave. Quando utilizado com supervisão médica, não oferece riscos ao paciente. Em excesso, torna-se prejudicial.
Além dos xaropes para tosse, ansiolíticos, relaxantes musculares e medicamentos para dor – que contêm outros tipos de opioides – também são alvos de abusos. "Uma proposta interessante e muito discutida para inibir o abuso de drogas prescritas é misturar à formulação substâncias de gosto desagradável", diz o médico. O tratamento em caso de excessos geralmente não requer medicação, apenas terapia para estimular o fim do hábito. Em casos mais graves pode ser necessário o uso da clonidina, medicamento usado na desintoxicação por opioides.
Hip-hop e Rap – A origem do sizzurp está associada à cultura do hip-hop, nos Estados Unidos. Acredita-se que a droga tenha se difundido a partir do Texas, onde seu uso se tornou comum na década de 1990. Em 2008, o rapper americano Pimp C teve a morte atribuída a uma overdose de xarope contra tosse. Segundo relados, em 2013, o também rapper Lil Wayne foi hospitalizado pelo mesmo motivo. O cantor menciona a bebida em diversas composições

Legalizar as drogas

"A maioria dos usuários não vira dependente, faz uso recreativo. É preciso proteger um como liberdade individual e o segundo na perspectiva da saúde". Por Jean Wyllys              

 
José Cruz/ABr
Marcha da Maconha em Brasília
"Eu sou a favor da legalização das drogas, porque acho que a única maneira de enfrentar o narcotráfico e toda a violência decorrente dele é legalizar"
Nos últimos dias, veio à tona uma sentença do juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, do Distrito Federal, que absolveu um homem que tinha sido detido pela polícia com 52 trouxas de maconha. Para o juiz, a proibição dessa droga é inconstitucional, já que a portaria do Ministério da Saúde que incluiu os princípios ativos da maconha na lista de entorpecentes ilícitos, deixando fora outras substâncias que também têm efeitos entorpecentes, carece de fundamentação técnica e científica — o que é verdade. O MP apelou e o caso será resolvido agora pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal em novo julgamento. "Soa incoerente o fato de outras substâncias entorpecentes, como o álcool e o tabaco, serem não só permitidas e vendidas, gerando milhões de lucro para os empresários dos ramos, mas consumidas e adoradas pela população. Isso demonstra que a proibição de outras substâncias entorpecentes recreativas, como o THC, são fruto de uma cultura atrasada e de uma política equivocada, e violam o princípio da igualdade, restringindo o direito de uma grande parte da população de utilizar outras substâncias", escreveu o juiz.
Ele merece ser parabenizado pela coragem, num país com governantes, parlamentares e agentes da justiça que calam a boca ou são cúmplices de uma política de guerra as drogas que só traz violência, preconceito, estigmatização e a morte de milhares de crianças e jovens pobres das favelas, além de interferir nas liberdades individuais.

O juiz deve saber que enfrentar a demagogia punitiva e a hipocrisia na questão das drogas é difícil. Na Câmara dos Deputados, eu enfrentei o projeto de lei de Osmar Terra (PMDB-RS) de "endurecimento" da política de drogas, que propunha piorar uma legislação que já é ruim. Contudo, infelizmente, só a bancada do PSOL militou contra. Entre outras aberrações, o que tem avançado nos últimos tempos no Brasil, além da violência que a "guerra às drogas" produz, é a internação compulsória de usuários, que significa um retrocesso na política antimanicomial brasileira e o aporte de dinheiro público em comunidades terapêuticas ligadas a instituições religiosas fundamentalistas que não contam com atendimento à saúde mental ou física, e, em alguns casos já registrados, submetem os pacientes a trabalho escravo. São pontos criticados oficialmente pelo TCU, Fiocruz, conselhos de psicologia e muitos outros órgãos, que não são ouvidos.
É preciso corrigir essas aberrações com urgência, que vão na contramão da revisão que outros países têm feito, substituindo a "guerra às drogas" por um tratamento na perspectiva da saúde pública e das liberdades individuais. No vizinho Uruguai, a maconha foi legalizada; na Argentina, a Corte Suprema declarou inconstitucional a criminalização do consumo de drogas e do cultivo para uso pessoal, e até nos EUA, o presidente Obama fez recentemente declarações bastante sensatas, reconhecendo que a criminalização não é uma boa política. Mas no Brasil é difícil e, quando tem boas iniciativas - que mesmo sem chegar ao fundo do problema significam um avanço importante - como o programa para os usuários de crack implementado pelo prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o "Braços abertos", elas são desqualificadas por setores da política e da mídia que, com uma grande irresponsabilidade, só defendem a repressão.

Eu sou a favor da descriminalização do consumo e sou radicalmente a favor da legalização de todas as drogas, porque acho que a única maneira de enfrentar o narcotráfico e toda a violência decorrente dele é legalizar. Essa é, aliás, a posição do PSOL, que tem um grande acúmulo e muita pesquisa e trabalho sério e comprometido sobre o tema. Estamos preparados para dar esse debate.
Para isso, precisamos ser claros, porque a questão das drogas está cercada de falácias e preconceitos. Existe o usuário, que faz uso recreativo, e o dependente, que é outra situação. Mas como diz Eduardo Galeano, "a culpa não é da faca". A maioria dos usuários de drogas não vira dependente, mas apenas faz uso recreativo, por isso é necessário distinguir o uso do abuso, proteger o primeiro como liberdade individual e tratar do segundo na perspectiva da saúde, ajudando o dependente, como se faz com o alcoólatra ou com aquele que abusa do Lexotan ou de determinados analgésicos ou antidepressivos. Pensemos no álcool: o abuso dele traz mais problemas à sociedade que o próprio crack, enquanto seu uso recreativo não traz problema algum, é socialmente aceito, faz parte da cultura, da religião e é até mesmo incentivado. Quase toda a população consome álcool, mas nem toda a população é alcoólatra! Da mesma forma, os usuários recreativos de maconha, cocaína, êxtase ou qualquer outra droga têm de ter sua liberdade respeitada: se alguém tem o direito de encher a cara num bar ou em casa, também tem o direito de fumar um baseado! Você nunca fez? Isso está dentro da liberdade individual, e a pessoa tem de estar consciente dos danos que aquela droga pode causar.
O cigarro (de tabaco) é a droga que mais mata e ninguém vai preso por isso! A gente pode criar uma política de prevenção aos males do fumo porque o fumo é legal, quem fuma hoje sabe que o cigarro pode provocar câncer de pulmão a longo ou a médio prazo, mas a pessoa tem o direito de fumar se ela quiser. Da mesma maneira, a gente só tem a lei seca e políticas para conter os danos do uso do álcool porque o álcool é regulamentado. E ambas as substâncias são produzidas de acordo com determinadas regras, com informação explícita sobre o seu conteúdo e princípios ativos e mecanismos de controle estatal que devem garantir a qualidade do produto, e são comercializadas dentro do circuito legal, com restrições sobre a quem, quando e onde podem ser vendidas. O mesmo deveria acontecer com a maconha e outras drogas atualmente ilícitas.
Por outro lado, as políticas de criminalização e combate, em todo o mundo, apenas reforçaram o poder das redes de crime organizado, já que estas se valem da corrupção do agente público para atuar livremente, com grande lucro. As drogas que hoje são ilegais, na prática, têm sua comercialização regulada pelo Estado de maneira informal, através das polícias e outros agentes do sistema. Falamos em uma economia paralela que seis anos atrás se estimava movimentar mais de 800 bilhões de dólares. Tudo isto apesar da repressão patrocinada por todos os países, principalmente os EUA. Foi nesse país que, entre 1920 e 1933, o fortalecimento da máfia se deu exatamente com a proibição do consumo e da venda do álcool, que não trouxe qualquer benefício para a população.
Há ainda toda uma série de consequências sociais das políticas atuais, que parecem ser ignoradas pela população mais abastada — cuja maior preocupação é a violência do usuário do crack e o fato de o filho ser abordado pelo traficante na saída do colégio —, e que influem diretamente na vida das comunidades mais pobres, que vivem à margem do Estado, como forma de higienização social. A forma como as crianças e adolescentes das comunidades são vulnerabilizados ao crime organizado pela ausência de interesse do Estado em lhes dar as mesmas condições de humanização e de vida com pensamento jamais será corrigida com políticas de repressão ao consumo de drogas! Muito pelo contrário, só piora!
Por último, a criminalização não produz qualquer benefício à sociedade nem sequer naquilo que implicitamente promete. Alguns ingenuamente ainda acreditam que a simples proibição impede que alguém faça uso de alguma substância, mas está provado que isso não acontece. O consumo de drogas não se reduziu pela criminalização, mas aconteceu o contrário. E o que temos, então, é crime organizado, violência, corrupção policial, insegurança, milhares de mortes, criminalização de jovens das favelas e das periferias, presídios lotados onde esses jovens têm seu futuro aniquilado e drogas de má qualidade vendidas de maneira informal, sem controle, a pessoas de qualquer idade, em qualquer sítio e sem pagar impostos. Tudo errado!
O caminho é outro. Legalizar o consumo é tirar o usuário recreativo da inútil marginalidade e estigmatização. Regular a venda e permitir a esse usuário que produza o suficiente para seu próprio consumo é reduzir a influência do traficante e, portanto, reduzir a violência, a criminalidade, a marginalidade e a morte.
O Brasil precisa mudar o paradigma. Hoje o País é um importante corredor do tráfico internacional, as redes de tráfico operam livremente no país, beneficiadas pela corrupção policial. Nas comunidades carentes, as crianças, sem educação e sem perspectiva, veem no tráfico uma forma de mobilidade social. E quem é preso é sempre aquele jovem que atua no varejo, nunca o grande traficante que alimenta a corrupção e a violência e leva o dinheiro para os paraísos fiscais. Ou seja, as políticas atuais jamais surtirão efeito, como hoje não surtem. Se avaliarmos a eficiência dessas políticas em relação ao dinheiro empregado nelas e os danos terríveis que causaram, o erro fica evidente.
O problema, como quase sempre, é a falta de coragem para bancar debates difíceis como esse. O mais fácil, sempre, é defender o status quo, se filiar aos discursos mais demagógicos ou se fazer de bobo. Mas a nossa função, como referentes políticos, é assumir riscos, inclusive eleitorais, para defender as ideias em que acreditamos e promover os debates que achamos sinceramente que o país precisa. E esse é um deles. Quanto mais tempo demorarmos, mais gente vai morrer inutilmente e mais jovens vão ter seu futuro trancado.

Celebridades que sucumbem à overdose por drogas e remédios revelam a fragilidade diante do vício

Médicos, jornalistas, atores e cantores são mais suscetíveis a sofrer com o vício em drogas e remédios

Celebridades que sucumbem à overdose por drogas e remédios revelam a fragilidade diante do vício Paris Filmes/Divulgação
Philip Seymour Hoffmann contracena com Joaquin Phoenix no filme "The Master", de 2012. O ator morreu no último dia 2, aos 46 anos Foto: Paris Filmes / Divulgação
 
No auge do sucesso, com uma carreira brilhante pela frente, o sujeito aparece morto no seu apartamento ou em um quarto de hotel. A causa é quase sempre a mesma: overdose de drogas ou medicamentos. A história não é nova e nem rara, mas cada vez que uma notícia dessas toma conta das capas das revistas e sites mundo afora, o fantasma do vício em entorpecentes volta às manchetes, suscitando o assunto na sociedade. O último personagem a encenar essa triste cantilena foi Philip Seymour Hoffmann, um dos atores mais talentosos de Hollywood. Encontrado morto em seu apartamento no último dia 2, possivelmente vítima de overdose de heroína (estava com uma seringa fincada no braço), ele é a mais recente prova de que fama e sucesso podem significar nada diante do irresistível apelo das drogas.

Para a psiquiatra e coordenadora do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Fernanda Ramos, o caso de Hoffmann ilustra uma estatística devastadora: atores, cantores, jornalistas e profissionais de saúde - especialmente médicos - são mais suscetíveis a sofrer com o vício em drogas e remédios.

— A morte de pessoas famosas chama a atenção para um número assustador. De acordo com a ONU, 200 mil pessoas morreram de overdose no mundo em 2013 — alerta.

A alta carga de estresse a que estão submetidos esses indivíduos é o que justifica a estatística. No caso dos artistas, também há uma glamourização das drogas. Vide o recente caso do cantor teen Justin Bieber, que sorriu orgulhoso ao ser preso depois de dirigir sob o efeito de álcool e remédios controlados.

— Drogas e medicamentos podem ter efeito estimulante no começo, o que pode favorecer a carreira. Mas é bom lembrar que isso é efêmero, é uma ilusão. Essas substâncias cobram seu preço — ressalta Fernanda.

As carreiras longevas de artistas "certinhos" ajudam a sustentar a afirmação. Paul McCartney, apesar de admitir ter experimentado todas as drogas com os Beatles, abraçou há muito um estilo de vida saudável, sem extravagâncias de qualquer natureza. Hoje, aos 71 anos, é o artista mais bem pago do showbizz. Angelina Jolie, que no início da carreira fazia o tipo bad girl, adepta do sexo livre e do uso de drogas, viu a própria imagem ser catapultada ao casar-se com Brad Pitt e assumir o lado mãe zelosa. O primeiro passo para fugir da armadilha é a prevenção. Resistir é sempre mais fácil do que abandonar o vício, diz Fernanda. Contar com a adesão do usuário ao tratamento é o principal fator de sucesso em casos de reabilitação.

O exemplo de Philip Seymour Hoffmann, que internou-se em 2013 para tentar abandonar o vício, prova que esse é o papel mais difícil de representar. Mesmo para um dos atores mais geniais de todos os tempos.


Seymour Hoffman escreveu sobre drogas e "demônios" interiores em diários

Philip Seymour Hoffman

O ator Philip Seymour Hoffman em premiação em Nova York (10/01/2006) Leia mais AP
Philip Seymour Hoffman deixou anotações em dois diários privados que falam de seus "demônios" interiores através do abuso de drogas e álcool e que mostravam confusas reflexões aparentemente escritas sob efeitos de heroína, divulgou nesta terça-feira (11) a emissora "NBC".

A polícia encontrou dois pequenos diários escritos à mão pelo ator, que morreu há nove dias, onde falava de sua luta contra a dependência química, suas reuniões nos Narcóticos Anônimos na parte baixa de Manhattan, mas que também tinha algumas partes em que começava a escrever de maneira clara e depois se transformavam em textos ininteligíveis.
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RIP, Philip Seymour Hoffman: Cinco casos em que ele é melhor que o filme5 fotos

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Em "Twister" (1996), do diretor Jan de Bont, Hoffman vive o carismático caçador de tornados Dustin "Dusty" Davis Reprodução
"É um fluxo de pensamento e é difícil de seguir", explicou uma fonte à "NBC". "Em uma linha se refere a 'Frank, o que sempre deve dinheiro' e na mesma página escreve sobre uma menina de 15 anos do Texas", prosseguiu.

No entanto, para a investigação, embora haja nos diários referências à compra de drogas, a polícia indicou que as pistas que conduziram à detenção de quatro pessoas foram resultado de testemunhos surgidos por causa da midiática morte ator de "Magnólia".

Dos quatro detidos, só um deles, Robert Vineberg, enfrenta acusações de posse de heroína com intenção de ser vendida, enquanto os outros três se declararam inocentes.

Philip Seymour Hoffman foi encontrado morto em seu apartamento do West Village de Nova York no domingo, 2 de fevereiro, vítima de uma supostas overdose de heroína. Tinha 46 anos e sua inesperada morte comoveu toda a classe artística.

Na casa de Hoffman foram encontrados 50 papelotes de heroína. Hoffman ficou limpo por 23 anos. Além dos diários, a polícia encontrou vários livros de Truman Capote no apartamento, cujo filme biográfico, "Capote", deu a ele o Oscar de melhor ator em 2005.
O funeral do ator foi realizado na última sexta (7), na igreja católica Santo Inácio de Loyola, em Nova York, com presença apenas de familiares e amigos.

Família e amigos se despedem de Philip Seymour Hoffman em Nova York

 Corpo de Philip Seymour Hoffman chega ao funeral privado na Igreja San Ignacio Leia mais EFE/Andrew Gombert

Programa na cracolândia tem 25% de baixa adesão

Estimativa é de ONG que faz gestão do projeto e é responsável por pagamentos
Apenas os usuários cadastrados que varreram as ruas serão remunerados; valor da diária é de R$ 15
 
ARETHA YARAK, DE SÃO PAULO
 
Um quarto dos 386 viciados que moram na cracolândia e estão cadastrados em programa da Prefeitura de São Paulo não aderiram completamente ao programa de trabalho e tiveram frequência baixa. Por isso, não devem receber o pagamento hoje.
A estimativa é da ONG União Social Brasil Gigante, que tem um convênio com a prefeitura para a gestão do projeto e é responsável pela remuneração dos usuários.
Intitulada Braços Abertos, a ação iniciada no dia 16 busca recuperar dependentes de drogas da região oferecendo tratamento, abrigo e trabalho.
A maior parte dos usuários cadastrados foi colocada no serviço de varrição de ruas e praças. Para cada dia trabalhado, eles recebem R$ 15.
"Esse grupo de 25% aparece de vez em quando, some e depois volta. Não há um interesse", diz Carlos Alberto de Souza, diretor financeiro da entidade e responsável pelas ações na cracolândia.
No primeiro pagamento, na semana passada, todos os participantes receberam pela semana cheia, independentemente da presença.
A partir de hoje, o programa entregará o valor apenas dos dias trabalhados. Usuários que faltaram, mas comprovaram a ausência com um atestado médico também vão receber o dinheiro.
De acordo com a organização, os usuários foram avisados da mudança.
Apesar de não trabalharem nos finais de semana, todos receberão por esses dois dias.
Isso acontece porque a ação prevê a remuneração pela presença em atividades culturais agendadas para os fins de semana, mas que ainda não tiveram início.
"Nossa tenda estará pronta apenas no segundo fim de semana de fevereiro. Lá, eles poderão fazer teatro ou ver filmes", diz Souza.
LISTA DE PRESENÇA
Para receber pelo dia trabalhado, o usuário precisa assinar a lista de presença duas vezes. A primeira às 9h, quando sai com o grupo, e novamente por volta das 12h, quando a jornada termina.
"Tem um pessoal que aparece uniformizado, assina a lista pela manhã, mas depois não volta. Se tiver apenas uma assinatura, não é considerado", explica Souza.
De acordo com ele, um próximo passo é abrir o diálogo com os médicos de postos de saúde da região.
"Os usuários têm apresentado um volume muito grande de atestados. Vamos alertar esses médicos do que vem acontecendo", diz.
Procurada ontem, a prefeitura não se manifestou.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Especialistas se dividem sobre distinção entre usuário e traficante em projeto aprovado

Aumento da pena para tráfico, outro ponto do texto de Osmar Terra, também é alvo de polêmica

Mariana Timóteo da Costa 
SÃO PAULO - O novo projeto de lei sobre drogas, de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB-RS) e aprovado na quarta-feira à noite pela Câmara, divide opiniões de especialistas consultados pelo GLOBO. Alguns pontos do texto, afirmam, vão contra estratégias mais bem-sucedidas de países que não tratam o usuário como criminoso, como Portugal, Suíça ou Holanda, e que aplicam políticas de redução de danos.


Além da internação involuntária, o projeto prevê financiamento de comunidades terapêuticas com dinheiro público e o aumento de 5 para 8 anos da pena mínima de prisão para traficantes.
— Aumentar a pena de um traficante sem explicitar o que constitui o tráfico é um erro. As comunidades terapêuticas também não se mostram eficazes, a quantidade de gente que volta a ser internada é imensa. O país deveria estar discutindo políticas para reinserir este usuário à sociedade, isolá-lo não é a solução. O Brasil está andando para trás — disse o neurocientista Renato Filev, do Desentorpecendo a Razão, também organizador da Marcha da Maconha em SP.
Marcada para o próximo dia 8 de junho na Avenida Paulista, a manifestação promete “tratar esta nova legislação como prioridade, para ela ser rejeitada pelo Senado e pela Presidência”, diz Filev. Seu grupo é a favor da legalização completa.
Solução “meio termo” seria, segundo Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e integrante da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), aquela prevista no manifesto lançado esta semana, no Rio, por cientistas de universidades e instituições de pesquisa: a descriminalização do uso de drogas. Os signatários pediam que o Congresso alterasse a atual Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), incluindo, de forma objetiva, um limite da quantidade de cada entorpecente que um indivíduo pode portar (ou plantar) para ser considerado usuário, e não traficante.
— O dependente químico deve ser tratado como doente, não como criminoso. Seria uma solução menos radical do que a legalização — diz Lent.
Lent sugere que, após o estabelecimento de limites da quantidade de entorpecentes que os cidadãos poderiam portar sem serem criminalizados, a fiscalização seja feita nos mesmos moldes da Operação Lei Seca:
— Os agentes não usam bafômetro para medir o quanto de álcool alguém consumiu? Ele poderia ter uma balança para medir a quantidade de droga carregada. Esta nova legislação não define nem isso, é muito ambígua em relação ao que é tráfico ou não. Fica-se muito passível à interpretação policial, e isso é um risco.
Filev classifica qualquer pequeno traficante — “aquele que provavelmente pegará as novas penas de oito anos de prisão” — “como vítima do sistema, tanto quanto o usuário”.
Ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo, Januario Montone acha que a lei é um retrocesso na questão da segurança, porque “confunde mais ainda quem é traficante ou não”. Mas avança na questão do tratamento, ao permitir que doentes sejam internados mesmo sem expressarem vontade para tanto:
— Não aprovaria do jeito que ela está, por conta da questão da segurança pública. O país avançaria muito mais se estabelecesse quem faz tráfico e quem apenas usa. Qual o critério que será usado para mandar um traficante para a cadeia? — indaga Montone, elogiando a nova lei, porém, por trazer o tema do combate às drogas de volta à pauta.

Evento discute necessidade de mudar política sobre drogas

Experiências que deram certo na Europa e no Uruguai são apresentadas

O Globo 
RIO — A apresentação de experiências bem-sucedidas no Uruguai e na Europa marcou o primeiro dia do fórum internacional As Ruas e as Drogas: Competências e Inovações, nesta quinta-feira, no Memorial Getulio Vargas, na Glória. O encontro, que termina no sábado, é uma iniciativa da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), do Viva Rio e da Open Society Foundations, com apoio da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. A diretora do Global Drug Policy da Open Society Foundations, Kasia Malinowska, destacou experiências de países, como Suíça, Portugal e Holanda, e os avanços na saúde, após as mudanças das políticas de combate e prevenção das drogas.
— Na Suíça, primeiro país a adotar tratamento para dependentes de heroína, caiu o número de pessoas contaminadas pelo HIV. Em Portugal, a descriminalização reduziu os casos de overdose de 400 para 290 por ano. É preciso haver a descriminalização para que as intervenções de saúde tenham eficácia — disse.
Já a médica Raquel Peyraube, assessora do governo do Uruguai, falou sobre experiências em seu país, que reformulou a política das drogas, e relatou as propriedades medicinais da cannabis (maconha).
— O Uruguai entendeu que era preciso mudar a política para melhorar a segurança. A população, de um modo geral (62%), é contra a nova política, mas o uso da cannabis medicinal agora tem 50% de aprovação, e isso está crescendo. Esperamos que este momento histórico seja o princípio do fim para a América e para o mundo todo — concluiu.
Na abertura do evento, o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore André Zílio Maximiano, divulgou os resultados parciais de uma pesquisa em andamento que aponta que 80% dos consumidores de crack utilizam a drogas nas ruas, e 80% têm vontade de se livrar das drogas.
— Outro dado muito significativo é que há uma prevalência maior do uso da droga na Região Nordeste do que na Sudeste. Esse dado nos surpreendeu. Em números totais, no Nordeste, o número de usuários é maior do que nas quatro capitais do Sudeste. Não só o Brasil, mas o mundo tem um grande desafio de como tratar a dependência do crack e da cocaína — avaliou Maximiano.
Para Maximiano, a grande discussão é definir se o país deve caminhar em direção à descriminalização, como ocorreu no Uruguai, ou se deve manter a lógica atual.
— Hoje, no país, nenhuma pessoa pode ser presa porque porta drogas para o seu consumo. Ainda trata como tipo penal, mas com alternativas. Esse é o grande debate. O país deve fazer esse caminho para a descriminalização ou devemos manter essa lógica? Talvez, neste momento, haja a necessidade de buscar critérios mais objetivos para fazer a distinção emtre, de um lado, o tráfico e, de outro, o porte para consumo pessoal. Promover essa distinção é que é o grande desafio — concluiu.

No INSS, pedidos de auxílio-doença para usuários de drogas triplicam em oito anos

No mesmo período, o benefício concedido a viciados em cocaína e seus derivados, como crack e merla, também mais do que triplicou
Gustavo Uribe

Na estatística. O eletricista Cleber Franchi, que bebia três litros de álcool por dia e teve duas overdoses, hoje está internado e recebe R$ 1.500 por mês do INSS
Foto: O Globo / Marcos Alves
Na estatística. O eletricista Cleber Franchi, que bebia três litros de álcool por dia e teve duas overdoses, hoje está internado e recebe R$ 1.500 por mês do INSS O Globo / Marcos Alves
SÃO PAULO — Por anos, o eletricista Cléber Wilson do Prado Franchi, de 35 anos, conciliou a rotina de trabalho com o vício do álcool e da cocaína. Em 2011, um aumento no consumo das duas drogas levou o profissional a apresentar sintomas como perda de raciocínio e coordenação, e fez com que ele fosse demitido da multinacional onde trabalhava. Nessa época, ele ingeria três litros de álcool por dia e chegou a ter duas overdoses. Em busca de ajuda, internou-se em uma clínica de reabilitação e, desde 2012, recebe um auxílio-doença mensal no valor de R$ 1.500. Isso fez com que ele entrasse em uma estatística preocupante que vêm crescendo nos últimos anos. O consumo de drogas no Brasil não só cresce, como também afasta cada vez mais brasileiros do mercado de trabalho.
Nos últimos oito anos, o total de auxílios-doença relacionados à dependência química simultânea de múltiplas drogas teve um aumento de 256%, pulando de 7.296 para 26.040. No mesmo período, o benefício concedido a viciados em cocaína e seus derivados, como crack e merla, também mais do que triplicou. Passou de 2.434, em 2006, para 8.638, em 2013, num crescimento de 254%. O uso de maconha e haxixe resultou, por sua vez, em auxílio para 337 pessoas, em 2013, contra 275, há oito anos.
Os dados inéditos foram obtidos pelo GLOBO com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ao todo, nos últimos oito anos, a soma de auxílios-doença concedidos a usuários de drogas em geral, como maconha, cocaína, crack, álcool, fumo, alucinógenos e anfetaminas, passou de um milhão. Só em 2013, essa soma alcançou 143.451 usuários.
Segundo o INSS, o total gasto em 2013 com auxílios-doença relacionados a cocaína, crack e merla foi de R$ 9,1 milhões. Os benefícios pagos a usuários de mais de uma droga somaram R$ 26,2 milhões. E a cifra total, relativa a todas as drogas (incluindo álcool e fumo), chegou a R$ 162,5 milhões.
O auxílio-doença varia de R$ 724 a R$ 4.390,24, de acordo com o salário de contribuição do segurado. O valor mensal médio pago a um dependente químico de cocaína e seus derivados é de R$ 1.058, e a duração média de recebimento é de 76 dias. Para ter direito, o segurado precisa de autorização de uma perícia médica e de atestados e exames que comprovem tanto a dependência química quanto a incapacidade para o trabalho. O tempo de recebimento do benefício é determinado pelo perito.
Uso de cocaína cresce no Brasil
A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), a psiquiatra Ana Cecilia Petta Roselli Marques, observou que, por conta do aumento do consumo de cocaína e crack, era esperado que houvesse um impacto também no mercado de trabalho brasileiro. A última edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que, entre 2006 e 2012, duplicou o consumo de cocaína e seus derivados no Brasil. A pesquisa mostrou ainda que um em cada cem adultos consumiu crack em 2012, o que faz do país o maior mercado mundial do entorpecente. Na avaliação da psiquiatra, o consumo da droga já se tornou epidemia.
— Era esperado que tivesse um impacto no mercado de trabalho do país, com repercussões, por exemplo, em auxílios-doença para cuidar da saúde. Por conta do uso, o trabalhador adoece cada vez mais cedo, principalmente do sistema cardiovascular. E há também a questão da mortalidade precoce. É uma epidemia, o que é visto pelo número de casos novos na população ao longo dos anos —explicou Ana Cecília.
No ano passado, apenas os estados de Alagoas, Roraima e Sergipe não tiveram aumento do número de auxílios-doença relacionados ao uso de drogas em relação a 2012. Em São Paulo, estado que historicamente concentra o maior número de beneficiados, o total de auxílios-doença passou de 41 mil para 42.649. Na sequência, estão Minas Gerais (de 18.527 para 20.411), Rio Grande do Sul (de 16.395 para 16.632), Santa Catarina (de 13.561 para 14.176) e Paraná (de 9.407 para 10.369).
O diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, observa que o Brasil é um dos poucos países em que o consumo de crack e cocaína têm aumentado nos últimos anos.
— As pesquisas mostram que há, nos domicílios brasileiros, um milhão de usuários de crack e 2,6 milhões de usuários de cocaína. E uma parcela dessas pessoas trabalha. Então, não há dúvida de que tem um impacto no mercado de trabalho.
Em virtude do aumento da dependência química, o Ministério da Saúde informou que aumentará neste ano a capacidade de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) 24 horas. Atualmente, o Brasil tem 47 unidades em funcionamento, com capacidade para 1,6 milhão de atendimentos por ano. O governo federal afirma que vai construir mais 132 unidades até o fim do ano, elevando a capacidade para 6,1 milhões de atendimentos anuais.
No Rio, concessão de benefício cresce 25% em um ano
No Rio de Janeiro, que historicamente é o sexto estado que mais concede auxílios-doença relativos a drogas, o pagamento do benefício cresceu 10% em 2013, passando de 6.577, em 2012, para 7.234. No mesmo período, a quantidade de benefícios concedidos a dependentes químicos de cocaína e crack teve um aumento de 25,2%, crescendo de 471 para 590.
No estado, sete de cada dez pacientes que procuram o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj — uma das principais referências no assunto — são dependentes de crack. Em geral, eles têm a opção de aderir a um tratamento em um dos 27 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) existentes na capital fluminense. Os Caps são unidades especializadas em saúde mental e buscam a reinserção social dos indivíduos que padecem de transtornos mentais graves e persistentes. Eles estão abertos ao usuário que quiser ajuda, mas também recebe pessoas encaminhadas pela assistência social ou por ordem judicial. Sua equipe é multidisciplinar e reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras.
Mas os espaços para acolhida costumam ser pequenos para a demanda. Nesse cenário, sofrem até os bebês que são abandonados por mães viciadas em crack e superlotam os abrigos existentes.
Em 2013, em entrevista ao GLOBO, a juíza titular da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da capital, Ivone Ferreira Caetano, alertou que os abrigos oferecidos pela prefeitura tinham virado verdadeiros depósitos de crianças. Em resposta, a Secretaria municipal de Desenvolvimento Social informou que a “lotação da rede pública para crianças de zero a 4 anos estava diretamente ligada à diminuição da capacidade de atendimento em clínicas e abrigos particulares” e que o abrigo Ana Carolina, em Ramos, seria reaberto.
Para atuação policial nas cracolândias do Rio, o Ministério da Justiça encaminhou ao estado, em novembro, armamento de baixa letalidade. A polícia recebeu 250 kits com pistolas de eletrochoque e spray de pimenta.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Venda de bebidas alcoólicas abaixo do preço é proibida na Inglaterra


Jornal Folha de S. Paulo

DE SÃO PAULO

O governo vai proibir a venda da bebida alcoólica abaixo do preço de custo na Inglaterra e no País de Gales.
Segundo o jornal inglês The Guardian, ministros esperam que a medida, que entra em vigor no dia 6 de abril, breque os grandes descontos das redes de supermercados, que levaram uma lata de cerveja a custar menos do que água nesses estabelecimentos.
O novo “piso” para uma garrafa de vinho vai ser de aproximadamente R$ 10; uma garrafa de vodca vai custar, no mínimo, R$ 39.
Albert Gea/Reuters
An employee looks for a bottle at a wine shop in Alella, near Barcelona October 30, 2013. Spain just pulled clear of recession in the third quarter and inflation eased in October, data showed, laying foundations for a gradual recovery in consumer spending though the country's economic crisis looks far from over. Gross domestic product (GDP) inched 0.1 percent higher between July and September, state statistics agency INE said, notching up the first quarter-on-quarter growth since the beginning of 2011 and officially ending a two-year slump. REUTERS/Albert Gea (SPAIN - Tags: BUSINESS) ORG XMIT: BAR104
Funcionária em loja de vinhos
Cervejas de baixo teor alcoólico (1,2% ou menos) serão isentas da medida, assim como os free shops.
Segundo o jornal, ativistas da área de saúde acusaram os ministros de cederem à pressão da indústria de bebidas, em julho passado, quando eles rejeitaram um projeto que definia um preço unitário mínimo para o álcool e a proibição de promoções.
A Alcohol Health Alliance, que inclui universidades de medicina, disse que o impacto desta medida será insignificante.
Avaliação do impacto, publicado na terça-feira (4) confirma que é provável que a medida é atinja apenas 1,3% de todas as vendas de álcool, principalmente em supermercados.
A exposição de motivos que justificam a proibição, apresentados pela ordem parlamentar, diz que o “governo está empenhado em garantir que os casos mais graves de venda de álcool por baixos preços sejam proibidos”.
Os ministros insistem que venda abaixo do preço é um problema real, pois seis ou sete dos maiores supermercados ingleses já foram flagrados vendendo álcool a até 12% abaixo do preço de custo.
Eles também apontam para a crescente evidência de “esquentas”: dois terços dos jovens que foram presos por crime e desordem relacionada ao álcool em uma cidade inglesa admitiram ter se “afundado” com os baixos preços de bebida dos supermercados antes de sair para uma festa.
A avaliação de impacto oficial estima que a medida levará a uma economia de R$ 21 milhões por ano em benefícios para a saúde e R$ 14,2 milhões na economia de criminalidade.
A proibição será imposta através da introdução de uma condição de licenciamento obrigatório para todos aqueles que vendem álcool. Funcionários dizem que não esperam que as vendas de fora da Inglaterra e País de Gales através da Internet sejam um problema significativo, mas vai mantê-lo sob revisão.
Eric Appleby, diretor-executivo da Alcohol Concern, descartou o movimento: “A ideia de que a proibição de vendas abaixo do custo vai ajudar a resolver o nosso problema com o álcool é risível, é confuso e quase impossível de implementar. Além de tudo isso, os relatórios mostram que a medida teria um impacto em apenas 1% dos produtos de álcool vendido em lojas e supermercados, deixando intocadas bebidas que são tão descaradamente dirigidas aos jovens”.
“O governo está perdendo tempo enquanto evidências internacionais mostram que preço mínimo unitário é o que nós precisamos para salvar vidas e diminuir crimes”.
O ministro Norman Baker, entretanto, afirma que “a proibição da venda de álcool abaixo do preço vai parar os piores exemplos de consumo de bebida muito barata e prejudicial”. E completa: “É parte de uma ampla gama de medidas que estamos tomando, inclusive desafiando a indústria das bebidas de desempenhar um papel maior no combate aos abusos de álcool.”

A farsa de Fernando Haddad, na Cracolândia, vai chegando ao fim; Prefeitura quer romper com ONG “Brasil Gigante”; dependente contratada em gabinete do prefeito para fazer propaganda sumiu

reinaldo-azevedo 

Blog do Reinaldo Azevedo

A farsa inventada pela equipe de marketing do prefeito Fernando Haddad, com o apoio deslumbrado e desinformado de quase toda a imprensa, vai chegando ao fim. A Prefeitura estuda romper o convênio com a ONG “Brasil Gigante” porque, como era óbvio, como estava escrito nas estrelas, como era fatal que acontecesse, o programa já naufragou.

Só uma parte ínfima dos dependentes comparece regularmente para trabalhar. Só mesmo a estupidez, aliada a uma boa dose de má-fé, supõe que se possam fornecer, gratuitamente, casa e comida a dependentes — além de uma renda — na esperança de que isso conduza à reinserção social, à diminuição do consumo ou mesmo à abstinência.
Há estudos experimentais na área da psicologia comportamental que recorrem ao dinheiro para controlar o ímpeto dos dependentes. Como? À medida que cumprem determinados desafios, são recompensados. A coisa passa por mecanismos delicados, em cujo mérito não entro, mas se pode resumir assim: os que estão em tratamento são recompensados por seu esforço. A ideia é tornar o não consumo mais vantajoso do que o consumo.
Segundo pessoas que lidam com a área, o resultado é satisfatório dentro do possível. O trabalho requer um acompanhamento detido, e não se tem experiência ainda dessa prática com  grupos grandes.
O programa da Prefeitura faz exatamente o contrário: RECOMPENSA O USUÁRIO PELO CONSUMO, ENTENDERAM? Dele, nada se exige no que diz respeito à droga: apenas que compareça para trabalhar por quatro horas. Se quiser, e só se quiser, tem mais duas para um trabalho de qualificação profissional. Assim, a Prefeitura de São Paulo fez o seguinte e magnífico programa:
a: concentrou todos os usuários num ambiente favorável ao consumo;
b: cercou, digamos, moralmente a Cracolândia, de sorte que a polícia não pode mais entrar lá nem para prender traficantes;
c: deu aos usuários o conforto de cama e comida sem exigir nada em troca;
d: remunera-o com R$ 15 se aparecer para trabalhar;
e: como esse trabalho não o obriga a participar de um programa, o dependente o utiliza como elemento de ajuste de suas necessidades de consumo. Se conseguir dinheiro de algum outro modo para consumir, não aparece; se não conseguir, trabalha o suficiente para obter o dinheiro que vai sustentar o vício;
f: não por acaso, e a lógica existe, a única consequência conhecida do programa até agora é a elevação do preço da pedra no dia do pagamento e no seguinte;
g: isso pode contribuir, inclusive, para baixar a qualidade da pedra — com ainda mais impurezas —, já que continuará a demanda pelo produto barato.
As demais consequências, que implicam, por exemplo, a eternização do Centro de São Paulo como área do crack, vocês já conhecem.
Esse esgoto moral a céu aberto só é possível porque vivemos tempos simpáticos ao consumo de drogas.
A “Ana” do Cafezinho
Para demonstrar a sua fé no programa, o prefeito Fernando Haddad anunciou que contrataria uma dependente para servir cafezinho em seu gabinete. Contratou. A mulher ficou uma semana por lá e sumiu, voltou para o fluxo. A Prefeitura a procura desesperadamente. Tudo o que não quer é que seja encontrada antes por jornalistas.
Se bem que, dado o estado das artes, é possível que nem se desse grande destaque à coisa. Afinal, a “sabedoria” firmada a respeito, sabe-se lá com o concurso de quais especialistas e de quais estudos, é que o moralmente progressista é estatizar o viciado e lhe fornecer todas as condições para que consuma a droga em paz e, como dizem eles, “com dignidade e segurança”.
Só para arrematar: o novo ministro da Saúde, o sr. Arthur Chioro, é um fanático dessa política.
PS: Pode até ser que a Prefeitura já tenha encontrado a “Ana” quando este post for a público. Enquanto escrevo, a mulher está sumida no “fluxo”. Coisas da Bolsa Crack da Haddodolândia.

Maior parte dos atendidos pelo Centro Pop tem dependência química




Das 59 pessoas com prontuários cadastrados no Centro Pop Dom Lino Vombommel, 55 são dependentes químicos e 11 deles são diagnosticados com transtornos mentais. A maior parte dos dependentes químicos também faz uso de álcool.
Para ajudar no processo de reabilitação das pessoas que vivem em situação de rua e têm dependência química, o Centro Pop vai trabalhar na reconstrução da autoestima através das oficinas de vivência e convivência. A instituição é um dos equipamentos do programa “Crack, é possível vencer” pactuado no ano passado pela prefeitura de Santarém com o governo federal, através do Ministério da Justiça.
Além do Centro Pop, o programa vai implantar em Santarém uma unidade de acolhimento infantil, uma unidade de acolhimento adulto; vai atuar com um consultório de rua através de unidade móvel com profissionais especializados; disponibilizará 10 leitos psiquiátricos no Hospital Municipal de Santarém e transformará o CAPS AD em unidade 24 horas.
De acordo com a psicóloga Bernadete Mathias, coordenadora do Centro Pop, após o processo de reconstrução da identidade e da autoestima da população de rua, os dependentes químicos serão encaminhados ao CAPS AD onde receberão suporte para se libertar do álcool e outras drogas.
“Nós não podemos encaminhar o dependente químico logo de cara para o CAPS AD. Eles chegam aqui receosos, assustados. Então, é preciso estabelecer uma relação de confiança e dar-lhes as ferramentas para a reconstrução da autoestima e da identidade de cada um para que eles se sintam confiantes e queiram se libertar da dependência química”, explicou Bernadete.
Bernadete Mathias, coordenadora do Centro POPBernadete Mathias, coordenadora do Centro POP
Acolhimento
No primeiro dia após a inauguração do Centro Pop, três pessoas em situação de rua procuraram espontaneamente a instituição para conhecer de perto o trabalho e usufruir os benefícios ofertados. Mas o Centro também vai buscar nas ruas aquelas pessoas que por medo ou desconhecimento ainda não foram ao espaço de acolhimento. Um educador de rua está fazendo esse trabalho de sensibilização junto à população em situação de rua.
Segundo Bernadete, há dois anos quando começou em Santarém o trabalho de cadastramento das pessoas em situação de rua, elas mostravam muito medo da aproximação da equipe. Os que precisam ir ao hospital porque estavam doentes apresentavam resistência e diziam que não iam porque tinham medo que os estivessem levando para tirar um rim.
“Como nesse primeiro momento o trabalho é de reconstrução da subjetividade, as primeiras oficinas são voltadas a ouvir, conhecer as histórias, as regras de convivência, para estreitar os laços, para conhecer a si mesmo e o outro também. A partir daí, do que eles apresentam como demandas, necessidades e anseios vai procurar direcioná-los. Se alguém tem aptidão para jardinagem, por exemplo, nós temos aqui uma área que será destinada à criação de uma hora de servas medicinais, de leguminosas. Já temos a Semap como parceira que se ofereceu para fazer as oficinas com eles. Toda essa construção do que fazer será algo trabalhado no coletivo. Não ideias maravilhosas que nós temos que vamos impor”, ressalta Bernadete.
Quem, por exemplo, tem o desejo de voltar aos estudos será ajudado pelo Centro Pop. O primeiro passo é recuperar a documentação civil dessas pessoas, até para que elas tenham acesso às políticas públicas e se tornem visíveis para o país. Quem já tem o nível médio e já tinha uma profissão, mas está fora do mercado de trabalho e tem o desejo de ser reinserido também receberá suporte. “Temos aí o Pronatec para capacitar, formar e então dar oportunidade para que esses indivíduos reciclem seus conhecimentos. O que a gente tem conversado muito com a equipe é esse processo de construção é das pessoas atendidas, nós somos apenas os facilitadores. Estamos mostrando algumas portas, mas quem vai escolher a porta são eles”, enfatizou Bernadete.
Instalações para repouso no Centro POP de SantarémInstalações para repouso no Centro POP de Santarém
Quando chegam ao Centro Pop pela manhã, as pessoas que vivem em situação de rua têm acesso ao material para higiene pessoal e ao café da manhã. A partir das 9h, é realizado o atendimento técnico com psicólogos e assistentes sociais dependendo da demanda, e oficinas e vivência e convivência. De 12h às 14h o horário é destinado ao almoço e descanso; e à tarde, oficinas, encaminhamentos e atendimentos especializados. Antes das 16h todos se reúnem para uma reflexão, depois é servido um lanche e eles têm que deixar o centro.
No decorrer do dia, eles têm acesso à lavanderia e recebem os produtos para poderem lavar suas próprias roupas.
Características
A população de rua é um grupo heterogêneo onde se encontra de tudo: Homem, mulher,  criança, jovem, idoso. Essa população tem algumas coisas em comum. Primeiro, a extrema pobreza; segundo, a vulnerabilidade e o risco social; terceiro, o não acesso às políticas públicas; quarto, a não moradia fixa.
“Essa população que tem essas coisas em comum, vive e sobrevive da rua. Então, nem todos não tem como se manter. Há aqueles que fazem serviços de estiva na orla da cidade, tem uns que são flanelinhas, tem uns que vigiam barracas no mercado. Não é que eles não trabalhem, é que a situação de trabalho deles não é digna, no sentido de não ter direitos garantidos. Então essa é a população de rua. E para ajudar no acesso às políticas públicas e tornar essas pessoas visíveis ao Estado, o Centro vai oferecer a elas o endereço de referência, que será o mesmo da instituição”, informou Bernadete.
Além das 59 pessoas com prontuários cadastrados, o Centro Pop sabe da existência de mais 34 das quais tem fotografias. “Por estarem num estado muito alterado elas não puderam nos dar maiores informações . Então, só esses números que não são totais porque nós ficamos só no âmbito do centro da cidade, já surpreendem, porque as pessoas têm uma ideia de que só está em situação de rua aquele indivíduo que dorme nas calçadas, que passa o dia todo bêbado, ou que apresenta transtornos mentais e foi abandonado pela família”, concluiu Bernadete.