sábado, 15 de outubro de 2011

Maconha aumenta risco de depressão, diz pesquisa


Probabilidade de desenvolver a doença é agravada com o consumo da droga por jovens vulneráveis a quadros depressivos
Quem fuma maconha corre o risco de desenvolver distúrbios graves, como esquizofrenia e psicose. Uma nova pesquisa feita na Holanda adiciona mais um problema causado pela droga. De acordo com um estudo feito no Instituto de Ciência Comportamental da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda, a droga aumenta o risco de desenvolver sintomas depressivos em jovens geneticamente vulneráveis. A pesquisa foi publicada na versão online do Addiction Biology, periódico científico da Sociedade Britânica para o Estudo da Dependência.

CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Testing bidirectional effects between cannabis use and depressive symptoms: moderation by the serotonin transporter gene
Onde foi divulgada: revista Addiction Biology Online
Quem fez: Roy Otten
Instituição: Instituto de Ciência Comportamental da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda
Dados de amostragem: 310 adolescentes, por 4 anos
Resultado: O estudo mostrou que o consumo de maconha aumentou os sintomas depressivos nos adolescentes geneticamente vulneráveis.
A maioria da população é vulnerável. Segundo o estudo, duas em cada três pessoas apresentam uma variação no gene transportador de serotonina, um neurotransmissor também conhecido como 5-HT. Tal variante pode ser responsável por tornar uma pessoa mais sensível a desenvolver depressão.
A pesquisa recolheu, durante quatro anos, informações de 310 adolescentes. A cada ano, os jovens responderam questões sobre assuntos como comportamento e sintomas de depressão. A variação do gene da serotonina foi determinante para os resultados: o consumo de maconha aumentou os sintomas depressivos nos adolescentes que apresentavam tal variante.
"Esse efeito da droga é forte, mesmo se levarmos em conta uma série de outras variantes que causam a depressão, como uso de álcool, personalidade e situação socioeconômica. Algumas pessoas podem pensar que jovens com disposição a depressão comecem a consumir maconha como uma forma de automedicação e que a presença de sintomas depressivos seja o fator que leve ao consumo da droga. Entretanto, nesse estudo a longo prazo, mostramos que não é o caso”, diz Roy Otten, principal autor da pesquisa.
Em estudo feito pelo IBGE em 2009, 8,7% dos estudantes entre 13 e 15 anos disseram já haver experimentado alguma droga ilícita. Na Holanda, onde foi feita essa pesquisa, o uso de maconha entre jovens é expressivo: 12% dos adolescentes de 16 anos disseram ter usado maconha ao longo do mês anterior. Além de um pior desempenho escolar, o uso da droga pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia e psicose.
Para os pesquisadores, conhecer os efeitos negativos do consumo de maconha é importante, pois, para um grande número de pessoas, entre outros prejuízos, seu uso pode aumentar o risco de depressão a longo prazo.

Lei antiálcool começa a valer dia 19


Estabelecimentos que servirem bebida alcoólica para menores de idade começam a ser multados apenas em novembro
Estabelecimentos que permitirem presença de jovens bebendo também serão multados
Valéria Gonçalvez/ AE - Do Metro SP
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse ontem que a lei antiálcool, que prevê multa e até mesmo a interdição de estabelecimentos que permitirem que menores consumam bebidas alcoólicas, será sancionada no dia 19. Segundo ele, a fiscalização e as multas só começam um mês depois, em 19 de novembro. Até lá, o governo fará uma campanha educativa em bares e restaurantes do Estado.
A multa prevista pela lei varia de R$ 1.745 a R$ 87.250. Já existiam sanções para a venda de bebidas alcoólicas a menores. Agora, mesmo que não estejam vendendo, os donos de estabelecimentos que sejam coniventes com o consumo de álcool por menores serão punidos, inclusive vendedores ambulantes.
O governador afirmou que o consumo de álcool por menores começa cada vez mais cedo, e isso aumenta o risco de existirem problemas com o alcoolismo na idade adulta.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, a intenção do governo é restringir ainda mais o consumo.
A lei será fiscalizada por 500 agentes, os mesmos que autuam estabelecimentos que descumprem a lei antifumo. De acordo com Cerri, os fiscais também poderão contar com reforço policial.

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

2014, a Copa do governo bêbado

ÉPOCA

Dilma foi à Fifa e acabou com as dúvidas sobre a Copa do Mundo: chova ou faça sol, está garantida ao Brasil uma boa ressaca em 2014.
Essa perspectiva segura foi muito bem recebida pelos brasileiros, um povo cordial que jamais renuncia à alegria e ao oba-oba, mesmo quando está sendo assaltado.
A preparação do país para a Copa vai muito bem, obrigado. As obras faraônicas para os estádios seguem as regras mais estritas das negociatas, devidamente avalizadas pelo dinheiro do contribuinte.
A grande novidade é que o torcedor brazuca, ao entrar no Maracanã ou no Itaquerão, vai poder encher a cara – e esquecer os quase 2 bilhões de reais que esses novos templos da esperteza lhes custaram.
Foi mesmo providencial o anúncio do ministro dos Esportes, Orlando Silva, sobre a revogação da Lei Seca nos estádios brasileiros durante a Copa. Ninguém suportaria assistir careta a tanto gol contra.
Tome mais uma dose e alcance a lógica do ministro:
A proibição de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, determinada pelo Estatuto do Torcedor contra a epidemia de violência nas arquibancadas e nas ruas, pode ser suspensa porque “a Copa é especial”.
Orlando Silva explicou que essa regra de civilidade e segurança, há anos em vigor no Brasil, pode ser revista por causa dos “compromissos da FIFA com os patrocinadores”.
O ministro tem razão. O direito brasileiro termina onde começa o faturamento da Fifa.
Esse papo de soberania nacional soa bem em época de eleição – mas em época de Copa do Mundo não tem nada a ver. A Copa é especial.
Os que acham absurdo sujeitar as leis do país a uma marca de cerveja estão reclamando de barriga cheia. Se o patrocinador da Fifa fosse a Taurus, o ministro Orlando Silva também examinaria “com cuidado e naturalidade” a entrada de torcedores armados nos estádios.
E que não venham os estudantes protestar contra o roubo de seu direito à meia entrada na Copa. O governo brasileiro pode ser frouxo, mas felizmente também é incompetente: na falta de um sistema de transportes decente, decretará feriado nos dias dos jogos.
Os estudantes não têm do que reclamar.
Dilma e Orlando Silva poderiam estar matando, poderiam estar roubando, mas estão só rasgando as leis. Viva o governo ébrio.

Tolerância menor com maconha na Holanda

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Maconha vendida na Holanda - Foto:/ AP

O Globo

O governo da Holanda anunciou [ontem] que vai nivelar a chamada "maconha de alta concentração", vendida no país, como droga pesada, na mesma classificação de tóxicos como a cocaína e o ecstasy.
O ministro da Economia da Holanda, Maxime Verhagen, afirmou que a droga, com mais de 15% da substância THC em sua composição, tem uma potência muito maior do que a forma mais leve da erva. Segundo ele, o tóxico "causa um prejuízo crescente na saúde pública dom país".
A medida é o passo mais recente do governo holandês para tentar reverter a notória política de tolerância da Holanda com as drogas. Após a decisão, a maior parte dos cafés holandeses, populares por vender a erva, vão ter que trocar seus estoques do fumo.
No entanto, críticos dizem que será difícil que a medida seja cumprida e que o fato só irá influenciar os usuários a consumirem mais as variantes mais leves da maconha.
Ao contrário do que muitos pensam, a posse de maconha é ilegal na Holanda, mas somente em grandes quantidades. O comércio da erva é muito comum em bares e cafés destinados a utilização da droga no país. No entanto, pessoas que cultivam a planta podem ser processadas.

Rigidez pode frear dano do alcoolismo


Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC


Um plano para combater o álcool de frente, sem desvios. Esse foi o resultado da pesquisa Políticas Públicas para o Álcool, realizada pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira. Um dos maiores estudiosos sobre dependência química, ele identificou, com auxílio do pesquisador Marcos Romano, quais são as medidas que precisam ser adotadas pelo poder público e sociedade para frear as terríveis consequências do alcoolismo.
Entre os pontos previstos, está a obrigatoriedade de licença para comercializar bebidas alcoólicas, controle de dias e horários para a venda, maior fiscalização e punições severas para quem não respeitar as leis e o aumento do preço dos produtos.
Essas formas de prevenção, aliadas com políticas de redução de problemas específicos, como beber e dirigir e beber abaixo da idade mínima, podem criar um clima para a redução no número de dependente alcoólico e de pessoas atingidas indiretamente.
Os inúmeros dependentes ouvidos pelo Diário informam que a facilidade e o preço baixo são dois dos principais motivos para abusar. "Não tem jeito, para beber não precisa fazer muito. Em qualquer lugar a gente toma uma cachaça por R$ 1", disse André, 27 anos, que passou 17 anos usando diversas drogas em conjunto com o álcool.
Segundo Laranjeira, aumentar o preço é uma das políticas de redução que poderá trazer bons resultados, como na Austrália, Bélgica, Canadá, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. Entre as conclusões, está a lei de mercado, se o preço do produto aumenta, o consumo cai.
As experiências relatadas pelos pesquisadores têm como base estudos produzidos por outras nações e conhecimentos próprios. A tese até prevê um embate com a indústria de bebidas e dos proprietários de bares e restaurantes, que provavelmente irão se opor às restrições.

DANOS
Os números apresentados mostram que 15% da população masculina adulta bebe de forma abusiva, metade dos acidentes automobilísticos é devida ao abuso de álcool. Na área criminal, mais da metade dos homicídios está relacionado ao problema. Na esfera médica, 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas são motivadas pelo consumo de bebidas alcoólicas.
"A sociedade brasileira está pagando um alto preço pela falta de proteção com relação ao álcool", descreve o psiquiatra Ronaldo Laranjeira.
Outro fato de destaque na pesquisa é o papel que pode ser exercido com a mídia. Atualmente, a publicidade, mesmo com as normas impostas pelos governos, ainda utilizam personalidades para promover o consumo. A proposta de Laranjeira é que a campanhas publicitárias e educativas sejam feitas, mas que essas atitudes não são satisfatórias, e é necessário criar um clima de divulgação na sustentação das políticas públicas relacionadas ao álcool junto à imprensa, chamado de marketing social e Media Advocacy (apoio da mídia).

Combate ao álcool ajudaria a diminuir acidentes e violência
Um dos principais objetivos do estudo é implementar programa que permita redução nos números de assaltos, homicídios, suicídios, violência doméstica, agressões físicas, acidentes automobilísticos, internações e idas nas emergências hospitalares devidos às doenças causadas pelo álcool.
Na outra ponta, está a tentativa de criar controle para minimizar problemas em populações especificas, como adolescentes e idosos. Uma das ações é encontrar forma de reduzir a chance dos jovens conseguirem comprar bebidas alcoólicas. O Diário revelou que os adolescentes não encontram qualquer tipo de dificuldade para adquirir bebidas em postos de combustíveis e em redes de supermercados.
Em outra pesquisa, Laranjeira informa que a bebida alcoólica é a droga mais consumida pelos adolescentes brasileiros.

O governo da Holanda confirma: maconha faz mal à saúde


Blog de Milton Corrêa da Costa

A chamada “corrente progressista”, encabeçada no Brasil pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que objetiva a descriminalização e legalização de drogas, a começar pela maconha, inclusive com direito a cultivo para uso próprio, acaba de sofrer um duro revés. A Holanda anunciou, nesta sexta-feira, uma política de menor tolerância com a maconha. O governo holandês declarou que vai nivelar a chamada "maconha de alta concentração", vendida no país, na mesma classificação de tóxicos como a cocaína e o êxtase, drogas consideradas pesadas. O ministro da Economia da Holanda, Maxime Verhagen, afirmou que a droga, com mais de 15% na composição de sua substância psicoativa, o tetrahidrocanabinol (THC), tem uma potência muito maior do que a forma mais leve da erva. Segundo ele, o tóxico "causa um prejuízo crescente na saúde pública do país". A medida é o passo mais recente do governo holandês para tentar reverter a notória política de tolerância da Holanda com as drogas.

Assim chega-se á conclusão, após diferentes estudos e pesquisas empreendidas aqui citadas, que a cannabis não é tão inofensiva e recreativa como alguns imaginam. O hábito de fumar maconha, mesmo em pouca quantidade, pode danificar a memória, segundo recente estudo elaborado pela Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP). Quando o uso é crônico e se inicia antes dos 15 anos de idade, o risco é ainda maior, devido ao efeito tóxico e cumulativo do tetrahidrocanabinol  (hoje mais potente pelas mutações genéticas), no desempenho cerebral.

Ficou constatado, por exemplo, que no exame toxicológico efetuado no jovem Carlos Eduardo Sandfeld Nunes, de 24 anos, assassino confesso do cartunista Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni, fato ocorrido, no ano de 2009, em São Paulo, que ele se encontrava sob o efeito de maconha no momento do crime.  Ressalte-se que Cadu, apelido do homicida, fumava cannabis desde os 15 anos, não estudava nem trabalhava , passando a traficar a droga e apresentava surtos psicóticos (alucinações e delírios).
Tal fato remete-nos a uma pesquisa - foi publicada tempos atrás nas páginas da Internet com notícia originária de Londres - onde mostrou que jovens que fumam maconha por seis anos ou mais têm o dobro de possibilidade de sofrer de episódios psicóticos do que pessoas que nunca fumaram a droga. As descobertas fortalecem uma pesquisa anterior que relacionam psicose à droga, particularmente em sua forma mais potente, o skunk. Apesar da lei que proíbe, em alguns países, o consumo da cannabis e outras formas, cerca de 190 milhões de pessoas são usuárias de maconha no mundo, segundo estimativa da ONU, o que envolve 4% da população ativa. O país com o maior número de consumidores é a França.
    
John McGrath, do Instituto Neurológico de Queensland, na Austrália, estudou mais de 3.800 homens e mulheres nascidos entre 1981e 1984 e comparou seus comportamentos, após completarem 21 anos de idade, para perguntar-lhes (já eram pacientes) sobre o uso da maconha em suas vidas, avaliando os entrevistados para episódios psíquicos. Cerca de 18% relataram uso de maconha três anos ou mais, cerca de 16% de quatro a cinco anos e 14% durante seis ou mais anos.. Comparados aos que nunca haviam usado cannabis, jovens adultos, que tinham seis ou mais anos desde o primeiro uso da droga, tinham duas vezes mais chances de desenvolverem psicose não afetiva, como esquizofrenia, disse McGrath, conforme estudo publicado na revista de psiquiatria "Archives of General Psychiatry.
Mais uma voz responsável surge para acabar com essa ideia de que a maconha é uma droga inofensiva. A diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (Nida, em inglês), a mexicana Nora Volkow, jogou mais uma pá de cal nessa falácia: “ Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva. Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes. Estudos feitos em animais mostraram que, expostos ao componente ativo da maconha, o tetrahidrocanabinol (THC), eles deixam de produzir seus próprios canabinoides naturais (associados ao controle do apetite, memória e humor). Isso causa desde aumento da ansiedade até perda de memória e depressão. Claro que há pessoas que fumam maconha diariamente por toda a vida sem que sofram consequências negativas, assim como há quem fume cigarros até os 100 anos de idade e não desenvolva câncer de pulmão. Mas até agora não temos como saber quem é tolerante à droga e quem não é. Então, a maconha é, sim, perigosa" - afirmou a psiquiatra que conduziu na década de 80 os estudos comprovando que a cocaína causa dependência química, além de graves danos ao cérebro.
Assim sendo, ainda que conclusões científicas precisem ser relativizadas mormente quanto a um tema tão polêmico - cada caso é um caso - não se pode desconsiderar tais estudos. A busca de estados alterados de consciência, através do uso de drogas ilícitas -não estamos falando das drogas livres sob o ponto de vista legal e jurídico nem das controladas por receita médica- é própria da espécie humana desde a antiguidade e os progressistas vem afirmando, cada vez com mais ênfase, que o mundo definitivamente perdeu a guerra contra as drogas ilícitas. Ou seja, a política atual seria um verdadeiro fracasso e o caminho do bom senso seria a descriminalização do uso de drogas.  O estado não teria inclusive o direito de proibir o uso. A grande vantagem seria o enfraquecimento do crime organizado, sem falar na redução da corrupção policial que a ilegalidade da droga sempre proporciona.
Tais argumentos são válidos não resta dúvida, até porque abstinência total de substâncias entorpecentes ilegais seria utopismo imaginado pelos conservadores. Obviamente que o mundo sem drogas não existe. As drogas sintéticas e as 'legal highs', fabricadas em geral nos  países mais ricos, são inclusive as que tiveram maior aumento de consumo nos últimos anos. A questão é saber- não há certeza sobre tal dúvida- se uma política de enfrentamento ao problema com a descriminalização seria de fato o cerne da estratégia que propiciaria o efetivo controle do estado e a consistente redução de danos. Há que saber também quanto se gastaria com despesas de recuperação de dependentes numa política mais permissiva.
Registre-se que apesar do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack o país não está conseguindo conter a epidemia do uso da chamada 'droga da morte'. Tal plano não tem sido capaz de atender a 1/3 dos 95% dos municípios envolvidos com a gravíssima questão que põe em risco toda a juventude. As cracolândias espalham-se rapidamente pelo país. O oxi,  droga mais devastadora ainda que o crack, também já está presente em 13 estados brasileiros, fazendo crescer  a ameaça aos mais jovens.
Por outro lado, num recente debate, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, concluiu-se que a venda indiscriminada de bebidas a jovens, sem o devido controle, além de funcionar como uma espécie de porta de entrada para o consumo de outras drogas, seria argumento suficiente para derrubar qualquer inciativa de liberação do consumo de drogas no país. Sobre o perigo do crack. O médico psiquiatra Emanuel Fortes Silveira Cavalcanti, representante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), presente ao debate da comissão do Senado, lembrou que o consumo da droga tem aumentado no país e que, em Goiás, por exemplo, 60% dos julgamentos de crimes têm como réus usuários da droga. Ele não poupou críticas à “falta de controle” do governo sobre as indústrias químicas que fabricam éter e acetona, insumos fundamentais para o refino da cocaína e, por consequência, do crack, que é um derivado da droga.
A realidade é que descriminalizar e legalizar drogas no país pode ser um verdadeiro tiro no pé. Neste caso a emenda poderá ser pior que o soneto. À sociedade e ao governo fica bem claro que o melhor caminho continua sendo a prevenção e o tratamento para recuperação dos dependentes e os “usuários recreacionais”, ainda que também estes financiem os fuzis do tráfico e a violêncis. A Holanda acaba de constatar e mostrar ao mundo que quando o assunto é drogas não há verdades absolutas e acabadas. Por enquanto, no Brasil, a guerra às drogas tem que prosseguir. O país não pode virar palco permissivo de uma legião de jovens drogados, amotivados e sem rumo.
                        

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pais subestimam o uso do álcool e drogas pelos filhos.

HYPE SCIENCE

Quando o assunto é drogas e álcool na adolescência, a maior parte dos pais prefere acreditar que o problema existe, mas com o vizinho, e não com os próprios filhos. Isso é o que sugere um novo estudo norte-americano, que descobriu que a maior parte dos pais crê que mais da metade dos adolescentes ingerem álcool – mas eles não incluem os próprios filhos nessa estatística.
Apenas 10% dos pais acreditam que os seus filhos ingeriram álcool no último ano, e 5% acham que seus filhos adolescentes fumaram maconha nesse período.
Esses números reduzidos contrastam com a realidade, já que um levantamento recente mostrou que 52% dos adolescentes pesquisados relataram ter ingerido bebidas alcoólicas e 28% afirmaram uso de maconha no último ano. Essa pesquisa foi realizada com cerca de 420 escolas públicas e privadas de ensino médio e ensino fundamental dos Estados Unidos, o que forneceu uma representação bastante precisa dos estudantes de diferentes níveis no país.
Mas enquanto os pais parecem acreditar que seus filhos estão longe das drogas e do álcool, eles certamente não acreditam que os colegas de seus filhos são tão inocentes assim. De acordo com o estudo, 60% dos pais afirmaram que acreditam que colegas de seus filhos beberam álcool e 40% crê que eles usaram maconha no último ano.
O quadro que indica que os pais esperam que os problemas com drogas e álcool não acontecerão dentro de casa mostra a necessidade de conscientização sobre o uso dessas substâncias na adolescência. A sugestão dos pesquisadores é a de que os pais abordem o assunto com os filhos adolescentes de uma forma não ameaçadora, e que falem com eles sobre a importância de resistir à pressão negativa dos colegas.
Os pesquisadores também sugerem que os pais acompanhem a vida dos filhos e procurem sinais do uso dessas substâncias. Mas sem exageros: se os pais descobrirem que o filho já passou por uma experiência do tipo, a oportunidade deve ser aproveitada para conversar com os adolescentes, e não para puni-los. O mais importante é sempre o diálogo e o jogo limpo – tanto da parte dos pais quanto dos filhos.
 

ABRAFAM - Associação Brasileira de Apoio às Famílias de Drogadependentes


abrafam  O uso indevido de drogas é uma séria e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade das estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e culturais de todos os Estados e sociedades. Suas conseqências infligem enorme prejuízo às nações do mundo inteiro, e não são detidas por fronteiras. Avançam por todos os cantos, afetando homens e mulheres de diferentes grupos étnicos independentemente de classe social e econômica ou faixa etária.
Um fator agravante é a tendência mundial de iniciação, cada vez mais precoce, do indivíduo nas drogas. No Brasil, estudos realizados pelo CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, desde 1987, confirmam essa tendência, ao revelar o aumento de consumo entre crianças e adolescentes e a iniciação entre os 9 e 13 anos de idade. Dez por cento da nossa população sofre diretamente dos males provocados pelo abuso de álcool.
Dados do Ministério da Saúde dão conta que centenas de milhões de reais são gastos com internações decorrentes do uso abusivo e dependência de álcool. O alcoolismo faz parte do grupo das doenças mais incapacitantes, considerando a prevalência global.
Esse prejuízo espelha a tragédia promovida apenas por uma droga lícita. Se somarmos ao do tabaco, igualmente lícita, com o de outras ilícitas e, ainda, com o das substâncias que deveriam ser adquiridas exclusivamente sob prescrição médica – e não são – penetramos num universo, sem sombra de dúvida, incomensurável, em que se estima movimentar cifras equivalentes aos valores alcançados pela indústria de armamentos. Trata-se de uma doença que antes mesmo de ser médica, é social, signos dos tempos insanos em que vivemos.
O papel da ABRAFAM
É nesse quadro que a ABRAFAM – Associação Brasileira de Apoio às Famílias de Drogadependentes lança suas tintas. Fundada em 1995 pelo empresário Carlos Roberto Rodrigues, a entidade nasceu da dor que ele e sua família experimentaram ao se depararem com a doença da dependência de drogas dentro de casa, vitimando um dos seus filhos. Despreparados para lidar com a situação, aprenderam com muito sofrimento, na base da tentativa e erro. Com o propósito de evitar ou, pelo menos, reduzir a dor de impotência e desesperança de outras famílias, foi criada a entidade.
Na certeza de que a desinformação é tão prejudicial quanto à falta de informação, a ABRAFAM, entidade sem vínculos políticos ou religiosos, tem por meta difundir informações a respeito das drogas, tratamento e prevenção, promovendo acesso a informações de qualidade, de fontes abalizadas, com profissionais que há muito tempo lidam com o problema e conhecem os mecanismos da doença, suas causas, conseqüências e tratamentos.
Para maiores informações visite nosso site: http://www.abrafam.org.br/

Lançada ao lado da cracolândia, nova unidade antidrogas de SP prefere combater o álcool

 
VEJA On-line
Rio de Janeiro - RJ

Novo órgão parece ser mais um departamento burocrático, bancado com dinheiro público, incumbido de uma missão que outras repartições não conseguiram cumprir. Diretor explica o objetivo da nova unidade, que, com apenas oito funcionários, pretende auxiliar no combate às drogas em todo o estado.
Na última segunda-feira, na Sala São Paulo, o governo de São Paulo lançou oficialmente a Coordenação de Políticas Sobre Drogas (Coed), seu novo órgão de auxílio para o combate às drogas. O lançamento poderia ser louvável pelo local onde foi feito — a 500 metros do local conhecido como cracolândia, onde centenas de viciados se reúnem diariamente para consumir crack — mas o foco escolhido pelo Coed é o combate ao consumo de álcool.
Não que a causa escolhida não seja nobre, mas enquanto governantes não admitirem a epidemia de crack e derem prioridade ao problema, ela continuará se alastrando sem políticas públicas adequadas de prevenção e tratamento. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou 107 dependentes de crack por 12 anos, mostrou que, ao final desse período, 25% estavam mortos, 12% presos e 20% continuavam usando a droga, tornando clara a necessidade de uma ação imediata do poder público.
Com apenas oito funcionários, o novo órgão parece ser mais um departamento burocrático, bancado com dinheiro público, incumbido de uma missão que outras repartições não conseguiram cumprir. Subordinada à Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania, a coordenadoria atuará junto ao já existente Coned (Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas), e será composta pela Comissão Estadual para Assuntos Referentes a Bens Apreendidos pelo Tráfico de Drogas (COMBAT); a Comissão Multidisciplinar Intersecretarial; a Câmara Técnica de Políticas sobre Drogas e o Observatório Paulista de Informações sobre Drogas.
Mais conhecido como Dr. Laco, Oliveira vem desenvolvendo projetos sobre abuso de drogas desde 1985, quando foi diretor do Instituto de Medicina Social e Criminologia (IMESC), e falou ao site de VEJA sobre a Coed, o foco no alcoolismo e o crack.
Qual é a diferença entre o CONED o COED? A Coned já existe há quase 25 anos e é um conselho fundamentalmente de discussão e de diálogo, mas não possui um papel executivo. Da necessidade de ter um braço que articulasse o que já existe, fomentasse novas ações e as divulgasse entre os municípios do estado, foi criada a Coordenação de Políticas Sobre Drogas. Nós seremos um canal entre o estado de São Paulo e seus municípios, os outros estados e as outras ações da sociedade civil.
Qual é o principal objetivo da coordenação? Nossa ação será muito ampla, então não é possível falar em uma principal. Políticas públicas sobre drogas vão desde prevenção e tratamentos até redução de danos e reinserção social, que é a recuperação dos dependentes, e vamos trabalhar nesses vários aspectos de ação. Por exemplo, no estado de São Paulo há 645 municípios, mas existe conselho ativo sobre drogas em menos de 100. A Coed vai estimular a formação desses conselhos e divulgar ações de outros municípios para onde não há ou não é eficiente.
O que está ao alcance do COED em termos de execução de projetos? A Coed trabalhará em associação com os órgãos públicos para que todos que desenvolvam projeto sobre drogas conversem entre si, evitando que as coisas aconteçam de formas isoladas. Queremos articular, por exemplo, a Secretaria da Saúde, que é responsável pela execução de tarefas de tratamentos, com as Secretarias do Desenvolvimento Social, do Trabalho, do Esporte e da Habitação, que são responsáveis pela reinserção social. Vamos dizer que a gente descubra que a Secretaria de Habitação tenha um programa sobre drogas, mas não se articule com Educação e Saúde, então nós, da coordenação, vamos propor esse diálogo. Além disso, faremos eventos, publicações e pesquisas.
Como a Coed vai agir no tratamento dos dependentes? Não vamos ter ação diretamente em tratamentos, mas vamos, por exemplo, facilitar a implementação de unidades terapêuticas. No mesmo dia do lançamento da Coed, foi lançado o Manual de Orientação para Instalação e Funcionamento das Comunidades Terapêuticas no estado de São Paulo, que vai permitir o aperfeiçoamento das entidades que se dedicam a tratar os dependentes químicos.
O crack será a prioridade das ações da Coed? Na minha opinião, não. Acredito que a prioridade na coordenação sejam as drogas mais prevalentes e lícitas, principalmente o álcool. São raros os casos de pessoas que entram no mundo das drogas pelo crack. A maioria começa pelo álcool, que é a porta de entrada para tudo. Por isso que o governador de São Paulo mandou um projeto de lei em agosto para inibir a venda e o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade. Nós participamos da elaboração desse projeto. Daremos atenção para todas as drogas, mas devemos ter mais cuidado para aquilo que prejudica mais, ou seja, as drogas lícitas, que são o álcool, o tabaco e medicamentos.
O número de leitos disponíveis na cidade de São Paulo é baixo em relação ao número de dependentes químicos, principalmente de crack, que precisam de tratamento imediato. A COED poderá auxiliar nesse problema? Pode, e muito. O próprio manual para as comunidades terapêuticas é uma das maneiras de ajudarmos. Além disso, precisamos atualizar as pesquisas para conhecermos o tamanho do problema, já que o último estudo que temos de caráter nacional sobre o uso de drogas foi feito em 2005 pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). A construção da política antidrogas está atrasada, mas temos que tomar cuidado para não construirmos o telhado antes de ter uma parede levantada.
E quanto à internação? Quando pensamos em tratamentos, logo pensamos em internação, mas é preciso esclarecer que o modelo de internação é para uma minoria. Há outras opções, como o CAPS, hospitais gerais, psiquiátricos, comunidades terapêuticas e outros vários níveis de prestação de serviço no tratamento do dependente químico.
Como a COED irá tratar a questão da internação compulsória? A internação compulsória já é implementada há anos e é uma determinação do judiciário, não tem nada a ver com o equipamento de saúde. Ela seria mais adequada se o judiciário contasse com uma equipe médica que fizesse uma avaliação que não fosse meramente uma determinação judicial. Nós queremos construir essa atuação mais harmônica entre os médicos e os juízes. É preciso entender que, além dela, há outros dois modelos de internação: a voluntária e a involuntária, que exige uma determinação médica uma comunicação ao ministério público para que ocorra. Eu sou a favor das três internações, desde que sejam feitas de maneira correta. Se for uma internação involuntária em que a proposta é reter o indivíduo e através de um processo convencê-lo de dar continuidade ao tratamento, é muito válido. Agora, se é para levar alguém sem oferecer uma boa alternativa de recuperação, não vale a pena.
Novo órgão parece ser mais um departamento burocrático, bancado com dinheiro público, incumbido de uma missão que outras repartições não conseguiram cumprir. Diretor explica o objetivo da nova unidade, que, com apenas oito funcionários, pretende auxiliar no combate às drogas em todo o estado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Seis efeitos devastadores do óxi

Droga leva pasta base de cocaína, cal virgem e querosene em sua composição

Alline Menegueti
Pedras de óxi na Polícia Federal de Rio Branco, no Acre
Pedras de óxi na Polícia Federal de Rio Branco, no Acre (Regiclay Alves Saady )
O óxi, nova droga que está se espalhando pelo Brasil, é ainda mais nociva que o crack. Por sua aparência amarronzada, já foi definida como ‘rapadura do diabo’. Sua composição, que leva cal virgem e até querosene, dá uma ideia do poder devastador e tóxico que possui.
"Ainda não deu tempo de avaliar o real efeito nocivo da droga, contudo, sabe-se que é intenso", diz o psiquiatra Thiago Fidalgo, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes do Departamento de Psiquiatria (PROAD) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Ambulatório de Dependência Química do Hospital AC Camargo.
Especialistas acreditam que a devastação se inicia um minuto após o consumo. Internamente, a droga devasta o sistema nervoso central, o coração, o pulmão e o fígado. O menor dano causado no dependente é o envelhecimento precoce causado pela perda de colágeno.
"Suas substâncias químicas causam mais dependência com um custo relativamente inferior”, diz Fidalgo, referindo-se ao valor da pedra do óxi, menor que a do crack. A dependência, porém, cobra caro do organismo, causando danos muitas vezes irreversíveis, como problemas cognitivos e até morte súbita.


Morte de neurônios

 A droga é responsável pela ativação excessiva do sistema nervoso central, o que provoca morte de neurônios. Com o decorrer do consumo, a droga altera as funções psicomotora e cognitiva, causando perda contínua de memória, problemas de concentração, irritação e insônia, além do risco de desencadear transtornos psiquiátricos em pessoas com predisposição.

Perda do prazer

O uso contínuo da droga pode levar a uma perda de sensibilidade dos neurônios à dopamina— importante neurotransmissor no cérebro responsável, entre outras coisas, pela sensação de prazer. A ação da droga no cérebro faz com que a dopamina se esgote, causando os sintomas depressivos após o uso do óxi.

Crack agora se alastra pelo interior nordestino

Pedra rompe limites das metrópoles, entra na rotina policial em cidades de até 10 mil habitantes e lota clínica de recuperação.
Ele começou com álcool há dez anos, quando tinha 17. Depois, viciou-se em maconha. Há cinco anos, quando chegou aos 23, mergulhou de cabeça na pedra de cocaína, o crack. Hoje, aos 28, é um dos 43 internos em uma chácara de recuperação de dependentes químicos no interior do Nordeste.
Diz que está limpo, sente-se bem depois de quatro meses sem drogas, e lamenta o inferno vivido no crack ao lembrar que só conseguiu parar quando viu a mãe dentro de um carro de polícia.
Etelvi Nascimento Silva nunca esteve em São Paulo, a metrópole que convive com o crack ao ar livre. Da cracolândia, só ouviu falar. Etelvi fumou a primeira pedra de cocaína no sertão pernambucano, em Floresta, cidade de 30 mil habitantes, a 430 km do Recife, onde nasceu.
Hoje, embora o governo federal ainda pesquise o tamanho do estrago do crack no fundão do País – via Fiocruz -, na sertaneja Floresta de Etelvi e nas vizinhas Petrolândia (32 mil habitantes), Belém do São Francisco (20 mil) e Itacuruba (10 mil), a droga avança. E essa região dentro do "polígono da seca" está prestes a trocar a alcunha de "polígono da maconha" por "polígono do crack".
Rota. "O crack hoje faz parte do cotidiano do sertão", afirma o capitão Marcondes Ferraz, da PM pernambucana, um dos chefes do combate ao tráfico de drogas na região de Petrolina (cerca de 300 mil habitantes).
O militar explica que o 5.º Batalhão de Petrolina, no qual chefia uma companhia, é hoje o segundo no ranking das apreensões de drogas no Estado. Perde somente para a delegacia especializada da área (Denarc), do Recife.
Petrolina está às margens do Rio São Francisco, ao lado da baiana Juazeiro (200 mil habitantes). É uma próspera região agrícola.
As duas cidades ficam à beira da BR-407, que liga Sul-Sudeste à BR-116, os Estados de Piauí e Maranhão pela BR-316, e o Ceará pela BR-020. Esse conjunto de estradas forma a malha rodoviária que funciona como rota de tráfico para a cocaína que passa pelos centros distribuidores, como São Paulo.
Sob a jurisdição do capitão Marcondes estão ainda Dormentes (16 mil habitantes) e Afrânio (18 mil habitantes), nas quais também há registros da presença do crack. "E onde há drogas, há armas", acrescenta o policial.
Nas operações antidrogas do primeiro semestre, o 5.º Batalhão apreendeu 112 armas curtas, 102 longas e 61 brancas (faca).
Um investigador de polícia, que trabalha em área ainda mais isolada, em pleno "polígono da maconha", onde fica o município de Floresta, diz que o uso do crack nas comunidades pequenas não ocorre como em São Paulo, onde os dependentes vagam em turmas, consumindo a droga nas ruas. Na cracolândia do sertão, a cocaína em pedacinhos se espalhou pelos pontos de venda, as "bocas de fumo", e, como os saquinhos de pó, é consumida dentro de casa.
Entreposto. O policial conta que encontrou em Floresta, a cidade de Etelvi, uma pedra de 120 gramas de crack enterrada em um quintal. "Eles desenterram, quebram para vender os pedaços, depois voltam a enterrar o que sobra dentro de sacos plásticos", explicou o investigador. "Se não houver uma ação mais efetiva e rápida do Estado, logo vamos ver por aqui o que ocorre em São Paulo."
Conferindo as planilhas da PF, ele conta: nos últimos 12 meses foram apreendidos 47 kg de cocaína, 1.081 de maconha pronta para consumo, 281 mil mudas da planta, mais de 8 kg de sementes e 606 gramas de crack. "O que é registrado como crack, é pedra de cocaína.
Mas pode haver também a pedra registrada só como cocaína", diz ele, que defende normatização para os registros.
O delegado, no entanto, se diz otimista com os resultados da presença da PF na caatinga. "Apreendemos dias atrás um carregamento de 100 quilos de maconha que vinha do Paraguai dentro da armação metálica da carroceria de um carro", contou. "É sinal de sucesso das operações de erradicação das plantações, que repetimos a cada três meses."
No Instituto de Criminalística de Salgueiro, a perita Yeda Sá Araújo passa boa parte do tempo analisando amostras de drogas. Foram 356 exames de comprovação química neste ano. Os laudos se acumulam na pequena e abafada sala. "Aqui aparece de tudo. Maconha, cocaína e crack, e muito armamento."
Para além do constante trabalho da polícia, a chaga do vício rápido da pedra no interior nordestino pode ser constatada na observação da clínica de recuperação existente em Juazeiro. Ali já supera as internações por alcoolismo.
De acordo com o presidente da Comunidade Evangélica para Recuperação de Viciados (Ceprev), Robson Vieira Pereira, 70% dos internos na instituição estão em tratamento da dependência do crack.
São os colegas de Etelvi, gente até de outros Estados que chega a Juazeiro em busca de uma saída da pedra.
Na semana passada, sob temperatura de 38°C, às 14h, um grupo de homens se reunia à sombra de uma construção sem paredes.
Ouviam uma palestra pontuada de pregações de fé religiosa contra as drogas e em defesa da vida. "Os dependentes do crack recorrem ao Ceprev em maior quantidade", diz Ferreira, ressaltando que "é a velocidade do vício e o efeito danoso da droga na saúde dos usuários e de suas famílias que os levam a buscar ajuda rapidamente".
Vício e roubo. Assim ocorreu com Eté, o rapaz de Floresta, assim chamado pelas irmãs e pela mãe. "Aqui já se pode ver eles fumando na rua (sic)", conta Olindina Maria da Silva, mãe de Etelvi, em entrevista na casa da família, em um bairro simples, na semana passada.
Lembrando dos dias difíceis que passou, Olindina diz que lutou para tirá-lo do mau caminho. "Ele aqui vivia, dava uma volta e de repente chegava doido da cabeça. Então, quer dizer, não ia buscar em Belém, Petrolândia.
Era aqui na cidade mesmo que encontrava."
Foi no dia em que ela estava no carro da polícia, com o filho preso por roubar um celular para pagar a droga, que os dois tiveram um diálogo duro para ambos. "Ele me disse: "Mãe, me ajude. Não sou eu, mãe; me ajude"", recorda Olindina, emocionada, ao lado de uma filha e de netos, na varanda da pequena casa.
"Ele começou na cachaça e na maconha", recorda Olindina. Há uns quatro anos, entrou no crack. "Eu disse a ele: "Ô, meu filho, eu já passei por tanta coisa. Vou passar por essa agora, meu filho?"" O rapaz, então, respondeu: "Mãe, tenha fé em Jesus. O que a senhora passou, não passa mais. Deus é mais."
Firme diante de mais uma promessa do filho de largar a pedra, Olindina batalhou os R$ 300 necessários para o pagamento da taxa mensal de internação no Ceprev, para onde Eté foi mandado. Ela afirma que acredita na recuperação do rapaz. Mas não quer o filho de volta a Floresta tão cedo. Teme por ele.
"A gente só não pode dizer a casa, ou é ali que vende, ou acolá. Ninguém é doido de entregar ninguém. Porque o senhor sabe: entregou agora, mais tarde já tá é lá duro, enterrado. É desse jeito."

Fonte uniad.org.br