Lucas Prates/Hoje em Dia
Ex-internos, depois de receberem alta, passam a ministrar oficinas para dependentes
Mais do que um simples desejo de melhorar, alcoólatras e toxicômanos
precisam descobrir, na prática, por que precisam do tratamento. E é
muito raro que consigam isso sozinhos, segundo Cristiana Abreu Souza,
psicóloga e coordenadora clínica da Ampare.
Ela diz que o primeiro passo para despertar a aceitação do dependente é
a família procurar orientação. Depois, aprender a deixar o parente
sentir na pele as consequências da doença, parando de protegê-lo ao
extremo. “Vemos famílias que até pagam as dívidas do usuário com
traficantes. Mas elas não podem ser superprotetoras, ou seja,
co-dependentes. Às vezes, os demais membros estão tão doentes quanto o
dependente”, alerta Cristiana.
Sem ameaças
Mas é claro que todos devem acompanhar de perto e dosar esse processo,
sem usar o método para chantagear ou ameaçar o paciente. A proposta é
que a família se fortaleça e posicione-se de forma funcional.
“Na medida em que a pessoa desrespeite as regras, perca a honestidade e
o respeito, deve sentir as consequências desse comportamento. A família
não tem que tolerar todas as atitudes do dependente, e pode intervir”,
esclarece a psicóloga.
Sob controle
Foi o que fez a irmã de B.S.O., de 55 anos, que há seis anos conseguiu
controlar o vício em álcool. Alcoólatra desde os 15 anos, ela começou o
tratamento tardiamente (aos 49 anos) porque achava que a bebida não
atrapalhava as atividades como empresária. A ironia é que um dos
empreendimentos dela era um bar. “Eu chegava todo dia para trabalhar e
escolhia o que ia beber”, contou.
Até que a irmã percebeu que a situação estava insuportável para ambas, e
conduziu-a ao tratamento na Ampare. “Eles nos ajudam a fazer uma
retrospectiva da nossa vida, do que nos levou àquele ponto e nos fazem
perceber o mal que o vício nos causou”.
Atualmente, B. está recuperada. Ministra uma oficina de artesanato para
dependentes químicos em tratamento na Ampare, frequenta academia,
cinemas, teatros e viaja na companhia da irmã.
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