Entrevista com Dra. Yolanda Vaz Allan
Qual o principal objetivo com a família durante a internação de um dependente químico?
O
momento da internação de um dependente químico, quase sempre, traz não
só à própria pessoa, mas, em especial à família, sentimentos de
insegurança, medo e incerteza que geram muitos conflitos.Geralmente,
este momento foi precedido por diversas tentativas com o intuito de
evitar uma internação. Provavelmente, houve a intenção e a expectativa
de acertar, mas, sem sucesso! Inicia-se então, intensa e cansativa
busca de um tratamento adequado. Nesta fase a família já encontra-se,
quase sempre, exaurida, desestruturada, sem esperanças, adoecida! Assim
sendo, no período de internação do D.Q. deve-se ter como principal
objetivo, a conscientização da família sobre a gravidade da doença da
adicção, a dificuldade de vivenciar experiências tão destruidoras
sozinhos, e, paralelamente, alertá-la sobre a importância da busca de
estruturas adequadas, tais como: profissionais especializados, grupos de
apoio (AA, NA, Amor Exigente) etc, que a oriente e contribua no
sentido de habilitá-la para conviver adequadamente com este mal. Caso
contrário, só se agravará o caos e a disfuncionalidade estabelecida
nesta família.
O que eles podem e devem fazer para ajudar?
A
família tem um papel extremamente importante na recuperação do
dependente químico. Ela não só pode, mas deve ajudar seu ente querido na
busca da libertação de tão grande mal. Entretanto, muitas vezes, o caos
que se instala na família e a fragilidade emocional à qual acaba
submetida, quase sempre a impede de exercer adequadamente seus papéis. A
família pode ser a "escada de ascensão" no processo de recuperação e
posterior manutenção na medida em que o ajuda a resgatar valores,
princípios e auto-estima, mas, ao atuar como facilitadora e com
atitudes inadequadas, poderá ser o "gatilho" disparador, que o levará à
recaída de comportamentos, à irresponsabilidade e, certamente, ao uso
de substâncias. A constatação dessa dura realidade, ou seja, o
deixar-se vencer pela doença, o levará a sentimentos de menor-valia,
desânimo, frustração e descrença na própria capacidade de recuperação.
O que não devem fazer?
Muitas
podem ser as causas que dão origem ao desenvolvimento da doença da
adicção. O meio sócio-cultural-ambiental, a herança genética, a
educação transmitida, desde a mais tenra idade, com relação a valores e
princípios, as disfuncionalidades familiares, entre outras, podem
contribuir para este processo.Independente da causa, a familia não deve
envergonhar-se , isolar-se, fazer julgamentos e condenações, apegar-se
aos ressentimentos e muito menos "fazer de conta" que o problema não
existe. Estes comportamentos só farão com que se afaste da realidade
dos fatos, dificultando e retardando a busca adequada de soluções para
enfrentar a doença. É de vital importância que a família não só
entenda, mas que transmita a outros que a dependência química é uma
grave doença e que apesar de ser incurável, progressiva e fatal, como
muitas outras, quanto maior e mais rápida for a busca do conhecimento
para um melhor tratamento e acompanhamento, maiores serão as chances de
recuperação e da manutenção de uma boa qualidade de vida. Todos
necessitam de cuidados! Neste caso, a família em especial precisa se
fortalecer e se reequilibrar .
Como devem se preparar para a volta do dependente químico para a casa após a internação?
O
dependente químico tem que ter na família sua rede de apoio. Que ela
seja seu porto seguro, cuidadora no sentido de orientar e dar limites,
sinalizadora dos comportamentos de recaída na medida em que o dependente
químico deixa de cumprir tudo aquilo que é sugerido. É esperado neste
momento do retorno definitivo à sociedade, tanto da parte do adicto,
quanto da família, que surjam receios, dúvidas, inseguranças,
desconfianças, ressentimentos, questionamentos. Estarão todos
(familiares e adicto em recuperação) aptos e dispostos ao cumprimento da
parte que lhes cabe, sobre os compromissos assumidos, no que diz
respeito à manutenção da recuperação? Para tal, é necessário que a
família tenha pleno conhecimento de como agir assertivamente com aquele
que se encontra em processo de recuperação. Quando se fala em
assertividade, entenda-se como ser solidário, estar disponível para
ajudá-lo na busca ou manutenção da recuperação, porém nunca trazer para
si (família), individual ou coletivamente, este fardo. Cabe ao
dependente químico fazer a parte que lhe cabe, assumindo suas escolhas e
responsabilizando-se pelos seus atos. Só assim estará em pleno processo
de recuperação. Assim sendo, a atuação da família é sempre de vital
importância no sentido de ajudá-lo a resignificar a vida, da maneira
mais ampla possível, ou seja, mostrar-lhe que viver plenamente, de forma
digna, saudável e prazeirosa, é totalmente possível!
Porque é importante o trabalho de grupo com as famílias?
O
local mais adequado para os familiares encontrarem acolhida,
solidariedade e ampliarem seus conhecimentos sobre a doença da adicção é
nos grupos de apoio que estão objetivamente focados nas questões da
dependência química. Nestes grupos os familiares encontrarão outras
pessoas com problemáticas muito semelhantes, buscando soluções e
relatando suas experiências vividas. Naturalmente, se forma uma rede de
apoio na qual através da troca de idéias e dos testemunhos dos
participantes, muitas vezes, torna-se possivel entender a necessidade
da realização de mudanças de comportamento da própria família e não só
ficar na expectativa que apenas o outro, no caso o D.Q., precisa
realizar mudanças em busca da recuperação. Não se pode ter a visão de
que apenas ele é o doente e o único que necessita de tratamento, pois
como já foi dito é natural que frente a tantas dificuldades,
preocupações, tristezas e frustrações, todos os membros da família
adoeçam.
Por isso, algumas vezes é necessário ir além da frequência e do apoio dos grupos, ou seja, que a família encontre outras alternativas como uma terapia individual ou familiar, com o objetivo de facilitar a compreensão e aceitação não só da doença, mas das mudanças quem se fazem necessárias em seus próprios comportamentos.
Por isso, algumas vezes é necessário ir além da frequência e do apoio dos grupos, ou seja, que a família encontre outras alternativas como uma terapia individual ou familiar, com o objetivo de facilitar a compreensão e aceitação não só da doença, mas das mudanças quem se fazem necessárias em seus próprios comportamentos.
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