segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Evento discute necessidade de mudar política sobre drogas

Experiências que deram certo na Europa e no Uruguai são apresentadas

O Globo 
RIO — A apresentação de experiências bem-sucedidas no Uruguai e na Europa marcou o primeiro dia do fórum internacional As Ruas e as Drogas: Competências e Inovações, nesta quinta-feira, no Memorial Getulio Vargas, na Glória. O encontro, que termina no sábado, é uma iniciativa da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), do Viva Rio e da Open Society Foundations, com apoio da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. A diretora do Global Drug Policy da Open Society Foundations, Kasia Malinowska, destacou experiências de países, como Suíça, Portugal e Holanda, e os avanços na saúde, após as mudanças das políticas de combate e prevenção das drogas.
— Na Suíça, primeiro país a adotar tratamento para dependentes de heroína, caiu o número de pessoas contaminadas pelo HIV. Em Portugal, a descriminalização reduziu os casos de overdose de 400 para 290 por ano. É preciso haver a descriminalização para que as intervenções de saúde tenham eficácia — disse.
Já a médica Raquel Peyraube, assessora do governo do Uruguai, falou sobre experiências em seu país, que reformulou a política das drogas, e relatou as propriedades medicinais da cannabis (maconha).
— O Uruguai entendeu que era preciso mudar a política para melhorar a segurança. A população, de um modo geral (62%), é contra a nova política, mas o uso da cannabis medicinal agora tem 50% de aprovação, e isso está crescendo. Esperamos que este momento histórico seja o princípio do fim para a América e para o mundo todo — concluiu.
Na abertura do evento, o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore André Zílio Maximiano, divulgou os resultados parciais de uma pesquisa em andamento que aponta que 80% dos consumidores de crack utilizam a drogas nas ruas, e 80% têm vontade de se livrar das drogas.
— Outro dado muito significativo é que há uma prevalência maior do uso da droga na Região Nordeste do que na Sudeste. Esse dado nos surpreendeu. Em números totais, no Nordeste, o número de usuários é maior do que nas quatro capitais do Sudeste. Não só o Brasil, mas o mundo tem um grande desafio de como tratar a dependência do crack e da cocaína — avaliou Maximiano.
Para Maximiano, a grande discussão é definir se o país deve caminhar em direção à descriminalização, como ocorreu no Uruguai, ou se deve manter a lógica atual.
— Hoje, no país, nenhuma pessoa pode ser presa porque porta drogas para o seu consumo. Ainda trata como tipo penal, mas com alternativas. Esse é o grande debate. O país deve fazer esse caminho para a descriminalização ou devemos manter essa lógica? Talvez, neste momento, haja a necessidade de buscar critérios mais objetivos para fazer a distinção emtre, de um lado, o tráfico e, de outro, o porte para consumo pessoal. Promover essa distinção é que é o grande desafio — concluiu.

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