Das
59 pessoas com prontuários cadastrados no Centro Pop Dom Lino Vombommel,
55 são dependentes químicos e 11 deles são diagnosticados com
transtornos mentais. A maior parte dos dependentes químicos também faz
uso de álcool.
Para
ajudar no processo de reabilitação das pessoas que vivem em situação de
rua e têm dependência química, o Centro Pop vai trabalhar na
reconstrução da autoestima através das oficinas de vivência e
convivência. A instituição é um dos equipamentos do programa “Crack, é
possível vencer” pactuado no ano passado pela prefeitura de Santarém com
o governo federal, através do Ministério da Justiça.
Além do
Centro Pop, o programa vai implantar em Santarém uma unidade de
acolhimento infantil, uma unidade de acolhimento adulto; vai atuar com
um consultório de rua através de unidade móvel com profissionais
especializados; disponibilizará 10 leitos psiquiátricos no Hospital
Municipal de Santarém e transformará o CAPS AD em unidade 24 horas.
De
acordo com a psicóloga Bernadete Mathias, coordenadora do Centro Pop,
após o processo de reconstrução da identidade e da autoestima da
população de rua, os dependentes químicos serão encaminhados ao CAPS AD
onde receberão suporte para se libertar do álcool e outras drogas.
“Nós não
podemos encaminhar o dependente químico logo de cara para o CAPS AD.
Eles chegam aqui receosos, assustados. Então, é preciso estabelecer uma
relação de confiança e dar-lhes as ferramentas para a reconstrução da
autoestima e da identidade de cada um para que eles se sintam confiantes
e queiram se libertar da dependência química”, explicou Bernadete.
Acolhimento
No
primeiro dia após a inauguração do Centro Pop, três pessoas em situação
de rua procuraram espontaneamente a instituição para conhecer de perto o
trabalho e usufruir os benefícios ofertados. Mas o Centro também vai
buscar nas ruas aquelas pessoas que por medo ou desconhecimento ainda
não foram ao espaço de acolhimento. Um educador de rua está fazendo esse
trabalho de sensibilização junto à população em situação de rua.
Segundo
Bernadete, há dois anos quando começou em Santarém o trabalho de
cadastramento das pessoas em situação de rua, elas mostravam muito medo
da aproximação da equipe. Os que precisam ir ao hospital porque estavam
doentes apresentavam resistência e diziam que não iam porque tinham medo
que os estivessem levando para tirar um rim.
“Como
nesse primeiro momento o trabalho é de reconstrução da subjetividade, as
primeiras oficinas são voltadas a ouvir, conhecer as histórias, as
regras de convivência, para estreitar os laços, para conhecer a si mesmo
e o outro também. A partir daí, do que eles apresentam como demandas,
necessidades e anseios vai procurar direcioná-los. Se alguém tem aptidão
para jardinagem, por exemplo, nós temos aqui uma área que será
destinada à criação de uma hora de servas medicinais, de leguminosas. Já
temos a Semap como parceira que se ofereceu para fazer as oficinas com
eles. Toda essa construção do que fazer será algo trabalhado no
coletivo. Não ideias maravilhosas que nós temos que vamos impor”,
ressalta Bernadete.
Quem,
por exemplo, tem o desejo de voltar aos estudos será ajudado pelo Centro
Pop. O primeiro passo é recuperar a documentação civil dessas pessoas,
até para que elas tenham acesso às políticas públicas e se tornem
visíveis para o país. Quem já tem o nível médio e já tinha uma
profissão, mas está fora do mercado de trabalho e tem o desejo de ser
reinserido também receberá suporte. “Temos aí o Pronatec para capacitar,
formar e então dar oportunidade para que esses indivíduos reciclem seus
conhecimentos. O que a gente tem conversado muito com a equipe é esse
processo de construção é das pessoas atendidas, nós somos apenas os
facilitadores. Estamos mostrando algumas portas, mas quem vai escolher a
porta são eles”, enfatizou Bernadete.
Quando
chegam ao Centro Pop pela manhã, as pessoas que vivem em situação de rua
têm acesso ao material para higiene pessoal e ao café da manhã. A
partir das 9h, é realizado o atendimento técnico com psicólogos e
assistentes sociais dependendo da demanda, e oficinas e vivência e
convivência. De 12h às 14h o horário é destinado ao almoço e descanso; e
à tarde, oficinas, encaminhamentos e atendimentos especializados. Antes
das 16h todos se reúnem para uma reflexão, depois é servido um lanche e
eles têm que deixar o centro.
No decorrer do dia, eles têm acesso à lavanderia e recebem os produtos para poderem lavar suas próprias roupas.
Características
A
população de rua é um grupo heterogêneo onde se encontra de tudo: Homem,
mulher, criança, jovem, idoso. Essa população tem algumas coisas em
comum. Primeiro, a extrema pobreza; segundo, a vulnerabilidade e o risco
social; terceiro, o não acesso às políticas públicas; quarto, a não
moradia fixa.
“Essa
população que tem essas coisas em comum, vive e sobrevive da rua. Então,
nem todos não tem como se manter. Há aqueles que fazem serviços de
estiva na orla da cidade, tem uns que são flanelinhas, tem uns que
vigiam barracas no mercado. Não é que eles não trabalhem, é que a
situação de trabalho deles não é digna, no sentido de não ter direitos
garantidos. Então essa é a população de rua. E para ajudar no acesso às
políticas públicas e tornar essas pessoas visíveis ao Estado, o Centro
vai oferecer a elas o endereço de referência, que será o mesmo da
instituição”, informou Bernadete.
Além das
59 pessoas com prontuários cadastrados, o Centro Pop sabe da existência
de mais 34 das quais tem fotografias. “Por estarem num estado muito
alterado elas não puderam nos dar maiores informações . Então, só esses
números que não são totais porque nós ficamos só no âmbito do centro da
cidade, já surpreendem, porque as pessoas têm uma ideia de que só está
em situação de rua aquele indivíduo que dorme nas calçadas, que passa o
dia todo bêbado, ou que apresenta transtornos mentais e foi abandonado
pela família”, concluiu Bernadete.
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