domingo, 9 de fevereiro de 2014

Maior parte dos atendidos pelo Centro Pop tem dependência química




Das 59 pessoas com prontuários cadastrados no Centro Pop Dom Lino Vombommel, 55 são dependentes químicos e 11 deles são diagnosticados com transtornos mentais. A maior parte dos dependentes químicos também faz uso de álcool.
Para ajudar no processo de reabilitação das pessoas que vivem em situação de rua e têm dependência química, o Centro Pop vai trabalhar na reconstrução da autoestima através das oficinas de vivência e convivência. A instituição é um dos equipamentos do programa “Crack, é possível vencer” pactuado no ano passado pela prefeitura de Santarém com o governo federal, através do Ministério da Justiça.
Além do Centro Pop, o programa vai implantar em Santarém uma unidade de acolhimento infantil, uma unidade de acolhimento adulto; vai atuar com um consultório de rua através de unidade móvel com profissionais especializados; disponibilizará 10 leitos psiquiátricos no Hospital Municipal de Santarém e transformará o CAPS AD em unidade 24 horas.
De acordo com a psicóloga Bernadete Mathias, coordenadora do Centro Pop, após o processo de reconstrução da identidade e da autoestima da população de rua, os dependentes químicos serão encaminhados ao CAPS AD onde receberão suporte para se libertar do álcool e outras drogas.
“Nós não podemos encaminhar o dependente químico logo de cara para o CAPS AD. Eles chegam aqui receosos, assustados. Então, é preciso estabelecer uma relação de confiança e dar-lhes as ferramentas para a reconstrução da autoestima e da identidade de cada um para que eles se sintam confiantes e queiram se libertar da dependência química”, explicou Bernadete.
Bernadete Mathias, coordenadora do Centro POPBernadete Mathias, coordenadora do Centro POP
Acolhimento
No primeiro dia após a inauguração do Centro Pop, três pessoas em situação de rua procuraram espontaneamente a instituição para conhecer de perto o trabalho e usufruir os benefícios ofertados. Mas o Centro também vai buscar nas ruas aquelas pessoas que por medo ou desconhecimento ainda não foram ao espaço de acolhimento. Um educador de rua está fazendo esse trabalho de sensibilização junto à população em situação de rua.
Segundo Bernadete, há dois anos quando começou em Santarém o trabalho de cadastramento das pessoas em situação de rua, elas mostravam muito medo da aproximação da equipe. Os que precisam ir ao hospital porque estavam doentes apresentavam resistência e diziam que não iam porque tinham medo que os estivessem levando para tirar um rim.
“Como nesse primeiro momento o trabalho é de reconstrução da subjetividade, as primeiras oficinas são voltadas a ouvir, conhecer as histórias, as regras de convivência, para estreitar os laços, para conhecer a si mesmo e o outro também. A partir daí, do que eles apresentam como demandas, necessidades e anseios vai procurar direcioná-los. Se alguém tem aptidão para jardinagem, por exemplo, nós temos aqui uma área que será destinada à criação de uma hora de servas medicinais, de leguminosas. Já temos a Semap como parceira que se ofereceu para fazer as oficinas com eles. Toda essa construção do que fazer será algo trabalhado no coletivo. Não ideias maravilhosas que nós temos que vamos impor”, ressalta Bernadete.
Quem, por exemplo, tem o desejo de voltar aos estudos será ajudado pelo Centro Pop. O primeiro passo é recuperar a documentação civil dessas pessoas, até para que elas tenham acesso às políticas públicas e se tornem visíveis para o país. Quem já tem o nível médio e já tinha uma profissão, mas está fora do mercado de trabalho e tem o desejo de ser reinserido também receberá suporte. “Temos aí o Pronatec para capacitar, formar e então dar oportunidade para que esses indivíduos reciclem seus conhecimentos. O que a gente tem conversado muito com a equipe é esse processo de construção é das pessoas atendidas, nós somos apenas os facilitadores. Estamos mostrando algumas portas, mas quem vai escolher a porta são eles”, enfatizou Bernadete.
Instalações para repouso no Centro POP de SantarémInstalações para repouso no Centro POP de Santarém
Quando chegam ao Centro Pop pela manhã, as pessoas que vivem em situação de rua têm acesso ao material para higiene pessoal e ao café da manhã. A partir das 9h, é realizado o atendimento técnico com psicólogos e assistentes sociais dependendo da demanda, e oficinas e vivência e convivência. De 12h às 14h o horário é destinado ao almoço e descanso; e à tarde, oficinas, encaminhamentos e atendimentos especializados. Antes das 16h todos se reúnem para uma reflexão, depois é servido um lanche e eles têm que deixar o centro.
No decorrer do dia, eles têm acesso à lavanderia e recebem os produtos para poderem lavar suas próprias roupas.
Características
A população de rua é um grupo heterogêneo onde se encontra de tudo: Homem, mulher,  criança, jovem, idoso. Essa população tem algumas coisas em comum. Primeiro, a extrema pobreza; segundo, a vulnerabilidade e o risco social; terceiro, o não acesso às políticas públicas; quarto, a não moradia fixa.
“Essa população que tem essas coisas em comum, vive e sobrevive da rua. Então, nem todos não tem como se manter. Há aqueles que fazem serviços de estiva na orla da cidade, tem uns que são flanelinhas, tem uns que vigiam barracas no mercado. Não é que eles não trabalhem, é que a situação de trabalho deles não é digna, no sentido de não ter direitos garantidos. Então essa é a população de rua. E para ajudar no acesso às políticas públicas e tornar essas pessoas visíveis ao Estado, o Centro vai oferecer a elas o endereço de referência, que será o mesmo da instituição”, informou Bernadete.
Além das 59 pessoas com prontuários cadastrados, o Centro Pop sabe da existência de mais 34 das quais tem fotografias. “Por estarem num estado muito alterado elas não puderam nos dar maiores informações . Então, só esses números que não são totais porque nós ficamos só no âmbito do centro da cidade, já surpreendem, porque as pessoas têm uma ideia de que só está em situação de rua aquele indivíduo que dorme nas calçadas, que passa o dia todo bêbado, ou que apresenta transtornos mentais e foi abandonado pela família”, concluiu Bernadete. 

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