Neto Ferreira
Mais uma pesquisa científica
sobre a maconha, substância entorpecente sobre a qual uma comissão de
intelectuais recomendou, recentemente, a legalização do comércio e
consumo, inclusive com autorização do plantio da erva em residências,
numa séria ameaça à família brasileira, comprova os males da dita
substância, num alerta aos mais jovens. Ou seja, a maconha, dita
recreacional pelos dependentes e defensores da causa, não é uma droga
tão inocente quanto se imaginava.
De acordo com dados do
Segundo Levantamento Nacional em Álcool e Drogas, elaborado pela Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São
Paulo, 7% da poulação brasileira já experimentou maconha pelo menos uma
vez na vida. São cerca de 8 milhões de brasileiros. Um terço da
população adulta que fuma maconha pode ser considerada dependente. Ainda
segundo a pesquisa, 60% dos usuários começaram a usar a droga antes dos
18 anos. É para os mais jovens, portanto, que vai o mais recente alerta
científico sobre os males da droga, conforme matéria publicada, nesta
terça-feira (28/08/2012), num jornal de grande circulação no país.
Um estudo sobre o efeito do
uso de drogas por longo prazo mostra que aqueles que começaram a
utilizar maconha quando adolescentes podem chegar à meia-idade com uma
deficiência de oito pontos no QI (quociente de inteligência) se
comparado aos não usuários.
A pesquisadora Madeline
Meier, da Universidade Duke, nos Estado Unidos, utilizou como base um
estudo que acompanhou mil pessoas em Dunedin, Nova Zelândia, desde o
nascimento até os 38 anos de idade. Os dados permitiram comparar os
teste de QI feitos com os participantes na idade dos 13 — antes do uso
de maconha — com os testes de QI quando adultos; em alguns casos, depois
de anos de uso da droga.
O estudo mostrou que aqueles
que desenvolveram uma dependência da droga apresentaram maior declínio
de QI, perdendo seis pontos na média, independentemente do quão cedo o
hábito começou. Dentro desse grupo, aqueles que começaram a usar a droga
antes de seu aniversário de 18 anos apresentaram um declínio
subsequente de 8 pontos em média no QI.
Além disso, amigos e parentes
próximos dos usuários de maconha informaram que eles tiveram problemas
cada vez mais frequentes de memória e de atenção. Segundo os
pesquisadores, o dano não parece ser reversível depois de os usuários
deixarem o hábito. Mas eles afirmam que quando o uso da maconha começa
após o 18º aniversário, os danos são menores.
- Este estudo é o primeiro a
oferecer evidências de que a maconha provoca, de fato, efeitos
neurotóxicos em cérebros jovens — diz Meier.
Segundo o psiquiatra,
especialista em dependência química, Jorge Jaber, presidente da
Associação Brasileira de Álcool e Outras Drogas, a pesquisa só confirma o
que na prática é notado pelos médicos:
- Há pelo menos dez anos já
vínhamos percebendo esta perda cognitiva, principalmente nos jovens,
porque neles não se deu o amadurecimento completo do cérebro.
O especialista explica que a
maconha provoca a contração dos vasos sanguíneos e, portanto, diminui o
aporte de sangue no cérebro. Com isso, reduz-se a chegada de oxigênio e
de glicose, importantes substâncias para o desenvolvimento das células
cerebrais. Isto afeta principalmente o lobo frontal, região relacionada
ao pensamento abstrato e à memória. Jaber alerta que o comprometimento
cerebral pode ser notado em cerca de 70% dos adolescentes que fazem uso
contínuo da droga. Segundo o psiquiatra, a cannabis também pode provocar
a diminuição do volume dos neurônios, assim como a sua destruição.
- A linguagem é a primeira a
ser afetada. O uso frequente de gírias, tida como normal da idade, em
alguns casos, já pode ser um sintoma. Depois, o usuário vai perdendo a
motivação intelectual e os interesses alternativos, como no esporte e na
cultura- alerta Jaber.
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