A realidade brasileira, no que tange ao consumo de drogas ilícitas, é
muito, muito preocupante, uma vez que, ao contrário do que ocorre no
mundo, cresce assustadoramente o número de usuários. Somos, hoje, o
primeiro maior consumidor de crack e o segundo em cocaína do Planeta.
Cumpre esclarecer, de início, que a cocaína se constitui num estimulante do sistema
nervoso central, extraída das folhas da planta Erythroxylon coca1, que
pode ser consumida sob a forma de cloridrato de cocaína - um sal
hidrossolúvel - de uso aspirado ou injetado. Há, ainda, as apresentações
alcalinas, voláteis a baixas temperaturas, que podem ser fumadas em
“cachimbos”. É o caso do crack, da merla e da pasta básica da cocaína.
O crack, por sua vez, é tido como uma forma potente de uso da
cocaína, por inalação do vapor expedido com a queima de pedras,
manufaturadas a partir do cozimento da pasta de cocaína combinada com
bicarbonato de sódio que, ao ser queimado, produz um ruído em forma de
estado, daí derivando seu nome.
De acordo com apurações realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa
de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), constatou-se
essa triste realidade de que o Brasil detém no mercado mundial - o
primeiro lugar no consumo de crack e a segunda posição no consumo de
cocaína. Os dados foram levantados por um grupo de estudos da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e informados no mês de
setembro de 2012. Foram ouvidos aproximadamente 4,6 mil pessoas com
faixa etária superior a 14 anos em 149 municípios do país.
Conforme aponta o relatório, 4% da população adulta brasileira,
correspondendo a seis milhões de pessoas, já experimentaram cocaína
alguma vez na vida. Entre os adolescentes, jovens de 14 a 18 anos, 44
mil admitiram já ter feito uso da droga, o equivalente a 3% desse
público.
Ainda consoante a esse estudo, 27% dos usuários dos dois tipos de
cocaína (em pó - de uso nasal, e em pedra – fumada) consumiram a droga
todos os dias ou, ao menos, duas vezes por semana, no ano passado. Quase
metade (48%) foi identificada como dependente químico, mas apenas 30%
deles disseram ter a intenção de interromper o uso.
Outro ponto preocupante abordado no relatório foi a idade de
iniciação, o qual aponta que quase a metade (45%) experimentou cocaína
antes dos 18 anos de idade. Além da iniciação precoce, o acesso à droga
também é facilitado, pois 78% deles consideraram fácil encontrar o
produto.
A pesquisa também comparou o consumo de cocaína nas regiões
brasileiras em 2011. No Sudeste está concentrado o maior número de
usuário de drogas, 46% deles. No Nordeste estão 27%, no Norte 10%, no
Centro Oeste 10% e, no Sul, 7%.
No que tange ao crack, tida como droga de pobres, porque custa pouco,
ele vem sendo consumido, cada vez mais, por pessoas da classe média. A
constatação é do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas), entidade ligada à Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo). Droga de altíssimo poder destrutivo, ocasiona
danos graves aos usuários.
Esse elevadíssimo consumo de drogas está retratado no cristalino
avanço da violência e da criminalidade no país, objeto de muitos estudos
e enfrentamentos por meio de políticas públicas, preventivas e
repressivas, do que são exemplos as operações especiais voltadas a
desordenar a rede de narcotráfico e àquelas de enfrentamento do tráfico
do crack em áreas de maior vulnerabilidade. A evidência, os assustadores
números retratados na recente pesquisa demonstram a necessidade de
maior dedicação ao tema.
Lizete Andreis Sebben
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